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Sexólogas enfrentam tabus ao se relacionar: “Sofremos muito assédio”

Ao Metrópoles, três profissionais da área contam como a profissão em que atuam impacta seus relacionamentos

atualizado

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Desenho de uma mulher de vestido e um homem de terno tentando tocar sua coxa
1 de 1 Desenho de uma mulher de vestido e um homem de terno tentando tocar sua coxa - Foto: Getty Images

Conversar sobre sexo, compreender traumas relacionados ao prazer e, em alguns casos, dar conselhos e orientações sobre como as pessoas podem transar… Essas são atividades comuns para profissionais que atuam como sexólogas ou terapeutas sexuais.

Na intenção de desmistificar o assunto, elas ainda precisam lidar com o tabu que encontram em suas próprias relações pessoais — sobretudo na área afetiva.

O Metrópoles conversou com três profissionais do ramo para entender como a profissão impacta na forma como o crush enxergam quem elas são. “Toda vez que eu começo a me relacionar com alguém, parece que a pessoa já vem com um questionário”, revela a psicóloga e sexóloga Alessandra Araujo.

Mulher vendo sex toys dispostos em cima de uma mesa de vidro - Metrópoles
Sexólogas afirmam que são estigmatizadas no campo afetivo; há quem veja área com tabu, há quem as estigmatize como “garota de programa”

“Quando falo o que faço, já começam as fantasias da ‘mulher boa de cama’. Isso quando o encontro não vira uma consulta de graça…”, diz a especialista.

A impressão de “mulher do sexo” é unânime. Os homens ainda têm muita dificuldade de entender a profissão, defendem. “Eu não tenho relações sexuais com meus pacientes, na verdade, cuido das disfunções que alteram os padrões comportamentais dos indivíduos”, pontua a terapeuta tântrica Yaba Luz.

Insegurança

Além da curiosidade e a suposta “vantagem” para tirar dúvidas inoportunas, Araujo ainda conta que a profissão pode causar medo e até afastar futuros parceiros. “Muitos se sentem inseguros com o tamanho do membro e do próprio desempenho; e ficam com receio até de se relacionar com a gente por causa da nossa profissão”, comenta.

Para alguns, o medo de serem julgados por uma pessoa formada no assunto pode acabar ferindo o ego e causando insegurança. Yaba ainda comenta que mulheres como ela “gozam do desfrute de ter a coragem de serem quem são”, e são tidas como perigosas para muitos deles.

“Eu represento uma mulher não só atraente, como perigosa. Para o homem alcançar esse nível de integração, de mente, corpo, emoções e espírito, ele precisará se esforçar um pouco mais. E as relações líquidas não permitem esse investimento de tempo”, observa.

 

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Curiosidade

De acordo com Ana Paula Nascimento, psicóloga da plataforma Terapia de Bolso e especialista em relacionamento e terapia de casais, a curiosidade também é um fator que se aflora quando ela diz ser sexóloga. “Eu não falo o que faço ‘de primeira’, justamente para evitar algum tipo de constrangimento”, pontua.

“As pessoas querem entender como eu me relaciono, se vou dar dicas naquela conversa ou ‘uma deixa’ que ela possa usufruir de alguma forma”, conta.

Ana Paula - Psicóloga - sexóloga
Ana Paula tem 56 anos e revela os desafios que já encontrou em primeiros encontros

Nascimento ainda conta que o interesse em saber sobre seu trabalho funciona também é muito comum. “As pessoas querem entender o que a gente faz em consultório, como a gente atende e o que nós tratamos”, salienta.

As três asseguram, ainda, que ainda há muito desconhecimento sobre a profissão que exercem. E, junto a isso, o preconceito, o estigma e também a falta de respeito de quem acaba pecando ao se direcionar a sexólogas ou terapeutas sexuais.

Mulher com lista de papel e caneta vermelha na mão - Metrópoles
Há quem acredite que estas profissionais transem com seus pacientes

Assédio e solidão

Para além das problemáticas nas relações amorosas e relacionamentos pessoais, Alessandra conta que o assédio é um mal comum dentro dos consultórios. “Infelizmente, a profissão é vulgarizada. Uma vez um paciente me perguntou com que roupa ele deveria ir para a consulta para ele se sentir ‘mais confortável'”, exemplifica.

“Sofremos muito assédio sexual. De a pessoa invadir meu espaço. Muitos acham que a profissão sexóloga é um título para garota de programa”, pontua.

A busca por um parceiro que entenda, respeite e não se intimide pela profissão não é fácil. “Eu tive um companheiro que começou a ‘surtar’ enquanto eu viajava cumprindo agenda. Ele achava que por eu ter uma qualidade elevada na nossa relação sexual, eu não conseguiria ficar sem transar nessa viagens”, revela Yaba.

“Bem, eu sou monogâmica, e cumpri com os acordos da relação, mas não consegui aguentar as inseguranças geradas por preconceito. Minha solidão é real, mas a solitude ajuda a me firmar naquilo que estudo, pratico e acredito”, encerra.

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