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Proibição de celular em escolas propõe menos telas e mais concentração

Com o aumento do número de escolas banindo celulares, crescem também os relatos de resultados positivos

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Imagem colorida mostra criança segurando um celular; governo de SP proibiu o uso de alguns aplicativos nas escolas
1 de 1 Imagem colorida mostra criança segurando um celular; governo de SP proibiu o uso de alguns aplicativos nas escolas - Foto: Reprodução

Em uma sala de aula no Brasil, a cena se repete todos os dias: enquanto o professor explica a história do Brasil, alunos dividem sua atenção entre as notificações do WhatsApp, vídeos curtos no TikTok e as distrações das redes sociais.

O que está sendo perdido em meio a essa distração constante? Mais do que apenas o conteúdo da aula, são a concentração, o engajamento e as interações sociais que ficam comprometidos.

A presença de smartphones no ambiente escolar tem se tornado um desafio crescente. A dispersão causada pelas telas, o esvaziamento dos espaços de interação social e as consequências para a saúde mental e o desempenho acadêmico são questões que precisam de atenção.

Com o número crescente de escolas ao redor do mundo adotando políticas de restrição ao uso de celulares, os resultados indicam que, apesar da resistência inicial, os benefícios dessa medida são grandes.

No Brasil, seis em cada 10 escolas de ensino fundamental e médio adotam regras para uso do telefone celular pelos alunos, permitindo que o aparelho seja usado apenas em determinados espaços e horários, de acordo com dados da pesquisa TIC Educação 2023, lançada no último dia 6, pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

O levantamento feito com 3.001 gestores de unidades de ensino, tanto urbanas como rurais, indicou ainda que, em 28% das instituições educacionais, o uso do dispositivo pelos estudantes é proibido.

A rede municipal de ensino do Rio de Janeiro foi pioneira ao proibir o uso de celulares em sala de aula. O impacto positivo foi notável, com professores, alunos e famílias relatando uma melhoria na concentração e no ambiente escolar.

Da mesma forma, o Colégio Marista João Paulo II, em Brasília, implementou o projeto “Mente presente”, visando estimular uma relação mais saudável com a tecnologia e promover um aprendizado mais profundo.

Na Austrália, o governo planeja proibir o uso de redes sociais por crianças e adolescentes, conforme anúncio feito na última terça (10/9). Globalmente, o movimento “Phone-free schools”, nos Estados Unidos, defende uma política de banimento total de celulares durante o horário escolar.

Na Europa, escolas como o Calvin College, na Holanda, observaram uma transformação positiva na cultura escolar após a proibição dos aparelhos, com alunos mais engajados e interagindo entre si. Na França, um experimento em 200 escolas de ensino fundamental implementou o “intervalo digital”, com planos de expandir a proibição completa.

Já em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a criação de “zonas livres de tecnologia” também tem sido uma resposta à invasão das telas no espaço escolar.

Essas iniciativas não tratam a restrição do uso de celulares como uma medida punitiva, mas como uma oportunidade de criar um ambiente mais propício ao aprendizado e ao desenvolvimento integral dos estudantes. No entanto, o debate sobre o tema está longe de ser consensual.

Ferramenta pedagógica ou distração?

Muitos defendem que os celulares podem ser ferramentas pedagógicas valiosas, auxiliando na pesquisa e no acesso à informação em sala de aula. Outros argumentam que proibir o uso do aparelho apenas transfere a distração para outros dispositivos ou atividades, sem resolver o problema.

Estudos mostram que mesmo quando o celular está desligado ou guardado no bolso, sua simples presença pode impactar negativamente a concentração dos alunos. Segundo a Unesco, escolas que adotaram políticas de restrição ao uso de celulares reportaram uma melhora de até 20% no desempenho acadêmico em disciplinas como matemática e ciências.

Além disso, o pediatra Daniel Becker alerta para os riscos do uso indiscriminado de telas, que podem prejudicar o desenvolvimento infantil, causar distúrbios de sono, transtornos comportamentais e aumentar o isolamento social.

Essa preocupação com a mudança no comportamento após o uso excessivo de telas por crianças e adolescentes está presente nos lares também. Pesquisa Datafolha publicada na quarta-feira (11/9) observou que a maioria dos brasileiros com filhos de até 17 anos dizem acreditar que crianças de menos de 14 anos não deveriam ter celular ou tablet próprio (58%), acessar aplicativos de mensagens como o WhatsApp (58%) e jogar videogame (61%).

O estudo realizado a pedido do Instituto Alana indicou ainda uma preocupação especial com o acesso a redes sociais. Para 76% das pessoas entrevistadas, menores de 14 anos não deveriam acessar redes como Instagram, TikTok, Kwai e Discord, e também não deveriam assistir vídeos no YouTube, Netflix e Amazon Prime sem supervisão dos responsáveis.

Ainda que existam objeções, as evidências apontam para os benefícios da restrição ao uso de celulares, especialmente no ambiente escolar. Trata-se de uma estratégia que, embora não resolva todos os problemas, ajuda a criar um ambiente de aprendizado mais saudável e focado. Mais do que apenas banir a tecnologia, o desafio está em promover seu uso consciente e equilibrado, tanto na escola quanto fora dela.

Em última instância, a questão vai além do simples uso de um dispositivo: trata-se de decidir qual tipo de ambiente queremos criar para as próximas gerações. Estamos preparando nossos jovens para o mundo digital de forma equilibrada, ou estamos permitindo que a tecnologia domine o tempo e a atenção que deveriam estar focados em seu crescimento e aprendizado?

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