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Bolsonaro: o estranho amor dos R$ 17 milhões

Sobre a bufunfa doada a Bolsonaro: para os bolsonaristas, doar ao ex-presidente virou ato de resistência ao sistema que os marginaliza

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Foto do rosto de Jair Bolsonaro, emoldurado por sombra -- Metrópoles
1 de 1 Foto do rosto de Jair Bolsonaro, emoldurado por sombra -- Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Jair Bolsonaro recebeu, no primeiro semestre deste ano,R$ 17,2 milhões em doações de apoiadores, via Pix, de acordo com o relatório enviado pelo Coaf à CPI dos Atos Golpistas. Essa fortuna foi depositada na conta do ex-presidente, depois do pedido de parlamentares e ex-integrantes do seu governo por ajuda para que ele pagasse multas judiciais nos diversos processos do qual é alvo.

Como tudo o que cerca Jair Bolsonaro, a notícia causou escândalo. Alardeou-se que R$ 17 milhões estão aplicados em renda fixa e que ele não pagou multa nenhuma. Teria enganado, assim, as 750 mil pessoas que lhe doaram dinheiro. Nas redes sociais, a bufunfa foi comparada à das rachadinhas. 

Para defender Jair Bolsonaro, o ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten escreveu no Twitter que os Pix foram voluntários, espontâneos e orgânicos; que os recursos foram aplicados e separados do dinheiro pessoal de Jair Bolsonaro; que os valores das multas estão sendo contestados e que já houve reduções de condenações; que há inúmeras outras ações e condenações que podem resultar em mais multas.

Não há nenhuma ilegalidade em receber doações, desde que a origem do arame seja lícita. Contrariamente ao que dizem os que se arrogam o direito de tutelar os brasileiros, não cabe ao Estado determinar que se pode ou não doar dinheiro a quem quer que seja, em qualquer montante e com o propósito que for. Se você acredita numa causa, quer ajudar alguém ou é simplesmente otário, ninguém tem nada a ver com isso. 

Milhões de brasileiros, por exemplo, doam na forma de dízimo a diversas igrejas, na crença de que o dinheiro irá lhes abrir as portas do paraíso, ou pelo menos fechar as do inferno. Mais do que persuadir Deus, eles enriquecem os pastores. E recentemente, em casos similares ao do ex-presidente, houve duas vaquinhas para ajudar condenados considerados injustiçados. Uma para o jornalista que foi obrigado a pagar indenização a um ministro do STF por ter feito jornalismo e outra para o ex-procurador Deltan Dallagnol conseguir quitar uma “dívida” da Lava Jato.

É interessante e revelador que, quando  fizeram alarde denunciatório com o fato de Jair Bolsonaro ter recebido R$ 17,2 milhões de apoiadores, muitos dos cidadãos que doaram ao ex-presidente disseram estar dispostos a “dobrar a meta”.

Explica-se: depositar dinheiro para Jair Bolsonaro é visto pelos bolsonaristas como forma de resistência ao sistema que os coloca — todos, sem exceção — à margem da sociedade, na condição de  “animais selvagens”, segundo o Mister Simpatia ora inquilino do Palácio do Planalto.

Ao transformar Jair Bolsonaro em mártir, os seus algozes nos Três Poderes aumentam a identificação dos bolsonaristas com o seu símbolo. É uma identificação que extrapola a ideologia e se aproxima do espelhamento amoroso, um fenômeno que precisaria ser estudado e compreendido em profundidade, isenção e frieza por sociólogos, cientistas políticos e psicólogos sociais, houvesse, é claro, sociólogos, cientistas políticos e psicólogos sociais não petistas no Brasil.

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