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Ajoelhou no altar de São Stalin tem de rezar

Estou convicto de que Jair Bolsonaro foi milagre do padroeiro das causas reencontradas. Ressuscitou Lula e o PT e deu novo impulso à censura

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Censura
1 de 1 Censura - Foto: reproduçãp

Todos os dias, os petistas deveriam ajoelhar-se diante da imagem de São Stalin e agradecer por tudo aquilo que o bolsonarismo lhes proporcionou. Porque estou convicto de que Jair Bolsonaro foi milagre de São Stalin, padroeiro das causas reencontradas.

Os atentados bolsonaristas contra a democracia ressuscitaram Lula e o partido, assim como deram novo impulso à tradicional agenda da esquerda contra a liberdade de expressão, na qual se inclui a liberdade de imprensa. Veja-se o caso desse “Ministério da Verdade” que o governo federal está montando, com subsídios do Legislativo, do Judiciário, de influenciadores e até de jornalistas. Sob a justificativa de combater fake news e o extremismo (e parece existir só extremismo de direita), Lula e o PT querem regular as redes sociais. Estejam certos, meninos, que é o primeiro passo para regular também a imprensa.

Vamos recuar 20 anos na magnífica história nacional. Em 2004, no primeiro mandato de Lula, em meio às primeiras denúncias de corrupção perpetrada por um alto comissário petista, o guia genial do povos e o seu partido lançaram a ideia de criar um Conselho Federal de Jornalismo, a fim de “orientar” e “fiscalizar” a imprensa. A beleza foi defendida da seguinte maneira por Lula, em 7 de abril daquele ano: 

“Eu acho que uma instituição que possa orientar eticamente, profissionalmente e culturalmente é extremamente importante. É uma coisa que  será boa para o futuro da imprensa no Brasil. Obviamente, alguns irão dizer sempre que isso é intromissão na autonomia, na independência, que estão querendo fazer ingerência. É só pegar os jornalistas de hoje, você vê que é tudo um bando de meninos e meninas muito jovens, ou seja, que eu acho que uma instituição dessa poderia poderia contribuir para fortalecê-lo enquanto profissionais.”

O Conselho Federal de Jornalismo foi rechaçado em 2004, porque ninguém caiu nessa conversa mole reproduzida acima. Ela servia apenas para encobrir a vontade do PT de amordaçar a imprensa independente que já incomodava o partido e o governo do seu chefe. Hoje, infelizmente, já não sei se a imprensa independente seria tão refratária à criação dessa estrovenga, dado o contexto criado pelo bolsonarismo.

A regulação das redes sociais, por meio da responsabilização judicial das plataformas pelos conteúdos postados por usuários, representará a introdução da censura prévia no Brasil. Com medo de processos, elas retirarão do ar opiniões mais contundentes e até mesmo denúncias verdadeiras contra poderosos. Informalmente, isso já ocorre: não raro, elas suprimem notícias desagradáveis a poderosos depois de receber notificações extrajudiciais de advogados. As plataformas avisam o veículo de imprensa que postou a notícia sobre a supressão e ponto final. A história nem precisa passar por um juiz. Se o “Ministério da Verdade” não criar o próprio índex de assuntos proibidos, as plataformas se encarregarão de fazê-lo. O governo terá, então, terceirizado oficialmente a censura.

Esqueçamos a novilíngua, que nem nova é: o verbo “regular” não passa de eufemismo para “censurar”. Se tudo der certo (para o PT e para quem orbita o partido, seja por ideologia ou por simples oportunismo), a etapa seguinte será instituir o Conselho Federal de Jornalismo, repito, e agora sob os aplausos de muitos jornalistas que, cegados pelas barbaridades bolsonaristas, não enxergam as barbaridades do lado que se pretende oposto. A questão é que, se você se ajoelhou no altar de São Stalin, tem de rezar.

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