Um look, vários corpos: marcas diversificam conteúdo nas redes
Além de ampliar grade de tamanho das peças, empresas de moda apostam em modelos fora do antigo padrão para gerar identificação com clientes
atualizado

Estratégias como a criação de linhas plus size ou a ampliação da grade de tamanho das roupas são mais do que necessárias para tornar a moda democrática. Mas, além da visão comercial do negócio, é preciso pensar no desenvolvimento de uma imagem de moda mais inclusiva e diversa. Marcas e criadores de conteúdo no Brasil estão normalizando corpos fora do antigo padrão de beleza em campanhas e postagens.
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Há poucos anos, era impossível pensar em uma campanha de biquínis que não fosse estrelada por uma modelo magérrima, alta e loura. A impressão era de que pessoas que fugissem desse espectro estético não pudessem curtir o verão em peças que estavam em alta na estação. Esses corpos também não eram bem recebidos pelas marcas que criavam roupas para o cotidiano e, muito menos, pela moda festa.
A passos lentos, mas necessários, a indústria tem apostado justamente na diversidade e na diversificação de produtos para expandir a clientela. A estratégia é boa na perspectiva comercial – afinal, quanto mais clientes, mais vendas – e principalmente no quesito identificação. As etiquetas que entenderam a urgência da sociedade para uma moda mais inclusiva estão saindo na frente.
A Feline, marca paulista de beachwear, começou a incluir modelos com corpos reais depois das próprias clientes pedirem. A criação de biquínis e maiôs em modelagens maiores também partiu de uma experiência pessoal de Lidiane Feline, criadora da empresa. “Minha mãe e minha irmã sempre tiveram dificuldade de comprar roupa e eu também sentia falta dessa representatividade na Feline”, contou à coluna.
Quem acompanha a grande varejista C&A nas redes sociais pode perceber uma mudança no conteúdo. As campanhas publicitárias, principalmente da linha Mindset, apresentam modelos com diferentes corpos juntas, em uma trajetória que, no futuro, pode levar ao fim de “caixas definidoras”.



Moda para todes
“Nos orgulhamos de sermos uma marca que olha para a diversidade muito antes do assunto ganhar a abrangência de hoje e temos evoluído ao lado das demandas da sociedade civil, sempre num processo de escuta”, afirma a C&A à coluna. A empresa aponta que as campanhas veiculadas nas redes sociais e nas lojas mostram “modelos que exibem corpos reais, para que os consumidores possam se sentir verdadeiramente representados”.
Outra marca que tem se esforçado no quesito é a Amaro. Carol Gurgel, presidente do Comitê de Diversidade da empresa, afirma que as consumidoras estão no centro das decisões. “A Amaro quer que cada uma delas se enxergue e se sinta representada como é”, assegura.
Vale ressaltar que, para ser verdadeiramente inclusiva, não basta a marca colocar modelos negros, indígenas, gordos e LGBTQIA+ em peças publicitárias. Diferentes cargos da indústria e da cadeia produtiva precisam ser ocupados por representantes desses grupos, desde os stylists e fotógrafos até os diretores.
Também é papel dos consumidores exigirem transparência e medidas efetivas das empresas que apoiam. Segundo informações passadas por Carol Gurgel à coluna, o time da Amaro atualmente é 69% composto por mulheres, e 38% do total se identifica como LGBTQIA+.



Influência do bem
Uma aposta nas redes sociais tem sido perfis que também mostram o mesmo visual em diferentes corpos. Nesse sentido, quem também faz um ótimo trabalho são as irmãs Thalita e Gabriela Zukeram.
As curitibanas criam conteúdos lúdicos, criativos e cheios de informações de arte e moda no perfil @twolostkids, no Instagram. Chamam atenção os vídeos em estilo “dois corpos, um look”, muitos em parcerias com marcas de moda, reforçando a ideia que o estilo próprio está acima dos antigos padrões de beleza.



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A indústria da moda ainda está longe do ideal de diversidade e justiça social. É importante, porém, destacar as ações que visam a melhoria desses aspectos. Os consumidores também precisam ter em mente que, enquanto são eles que decidem onde investir seu dinheiro, podem (e devem) exigir que as marcas se tornem mais inclusivas.
Colaborou Carina Benedetti