Tom político é destaque no quinto dia do SPFWN46
Apartamento 03, Handred e Cotton Project fizeram críticas sociais em seus desfiles
atualizado
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O penúltimo dia do São Paulo Fashion Week N46, realizado nessa quinta (25/10), foi marcado por desfiles com manifestações políticas. Apartamento 03 e Handred investiram nos contrastes para simbolizar a polarização das ideias e complementaram as apresentações com músicas que fazem críticas à sociedade, como Construção e Deus lhe Pague, de Chico Buarque, e This is America, de Childish Gambino. Na Cotton Project, os estilistas Rafael Varandas e Acácio Mendes fecharam a fila final com adesivos de campanha política.
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Apartamento 03
Para o verão 2019, a Apartamento 03 expandiu o leque de cores. Além do preto, surpreendeu com tons alegres, como azul, vermelho, amarelo-claro, laranja, verde e rosa, representando a polaridade na política nacional.
Assim como Ronaldo Fraga, o designer introduziu uma dose de reflexão social. O desfile foi aberto com o hit This is America, de Childish Gambino, e trouxe no casting somente modelos negras.
Os biker shorts complementaram peças de alfaiataria, enquanto franjas deram movimento aos vestidos-casulos com degradê. Transparências surgiram com estampas geométricas abstratas e um leve plissado. Dentro do conceito artístico, as fendas funcionam como “janelas” ou “feridas abertas” do estilista. Os acessórios, como os brincos chandelier, são do designer Carlos Penna.
Apartamento 03 é uma referência à residência de Luiz Cláudio, onde ele atendia os clientes quando criou a primeira coleção, em 2006. Há cinco anos, expandiu os negócios e hoje atende 19 estados. Estreou na maior semana de moda da América Latina em 2014.
Handred
Assim como a Apartamento 03, a Handred escolheu o preto para a abertura de seu desfile e depois seguiu para o contraste da alfaiataria com os looks fluidos. Porém, mais sóbria do que a marca mineira, a etiqueta de André Namitala apresentou uma cartela de cores bem enxuta, com muitas estampas geométricas.
Inspirada em Ouro Preto, a nova coleção mistura o barroco da cidade mineira com traços de Oscar Niemeyer, que construiu um hotel por lá em 1938. Na época, o edifício causou polêmica entre os moradores por contrapor o ar colonial do local. A topografia do município também foi lembrada nas estampas da marca.
Em um leve tom político, o estilista André Namitala usou a oposição de conceitos e a trilha sonora do desfile, formada por músicas de Chico Buarque e Caetano Veloso, para retratar o clima de polarização em que o país se encontra. De um lado a rigidez da alfaiataria e de outro a fluidez das fibras naturais, uma das principais características da Handred. Linhas retas e círculos, formas tão diferentes, às vezes utilizadas na mesma peça.
Cotton Project
A marca paulistana buscou sua inspiração no documentário Hypernormalisation, que fala sobre a diferença entre realidade e ficção, e como é difícil separar isso na era das redes sociais. No obra, o diretor Adam Curtis fala sobre a chegada de Donald Trump à presidência dos EUA e conta como a ficção foi usada para confundir o povo americano.
Os estilistas Rafael Varandas e Acácio Mendes começaram seu processo criativo com a imagem dos turistas do verão europeu nas décadas de 1950 e 1960. Para eles, esse estereótipo ilustra bem o hype da estação mais quente do ano e a realidade que existe por trás disso, como traições, depressões e problemas financeiros.
A Cotton usou o desfile da SPFWN46 para lançar sua linha feminina, que também segue o mood cool e esportivo, mas de forma mais madura. Com uma pegada bem resort, a etiqueta soube usar a alfaiataria despojada, as listras e as modelagens mais amplas e soltas para construir um verão elegante e chique. Ao final do show, a dupla que assina a direção criativa da marca entrou usando adesivos do candidato Fernando Haddad no peito, causando comoção entre o público, que aplaudiu de pé o posicionamento dos designers.
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Colaboraram Danillo Costa e Hebert Madeira