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Eventos de moda do DF podem ser adiados devido ao coronavírus

Sindicato das Indústrias do Vestuário do DF previa ações em diversos segmentos, mas crise na economia gera clima de incerteza nos bastidores

atualizado

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Myke Sena/ Especial para o Metrópoles
Summer Collections 2019
1 de 1 Summer Collections 2019 - Foto: Myke Sena/ Especial para o Metrópoles

Depois de ajudar no amadurecimento de duas iniciativas de moda lançadas em 2018 e investir em um evento voltado à inclusão de deficientes físicos na indústria têxtil, o Sindicato das Indústrias do Vestuário do DF (Sindiveste-DF) observou que as novas vitrines estavam reaquecendo o setor. De olho nisso, a instituição preparou uma agenda de ações que abrangeria diversos setores da moda local em 2020. No entanto, a crise econômica gerada pela pandemia do coronavírus pode atrapalhar os planos da organização.

Desde a última edição do Capital Fashion Week, em 2015, a moda de Brasília carecia de um evento que fomentasse a moda no DF. Havia desfiles pontais na cidade, porém, faltava uma plataforma que fizesse a comunidade debater a produção local.

Há pouco mais de um ano, os projetos Brasília Trends e o Summer Collections se propuseram a reimplementar essa discussão. Mas, apenas em 2019, os eventos se mostraram promissores dentro da agenda fashion da cidade.

O Capital Fashion Week, idealizado pela empresária Márcia Lima, fomentou o debate de moda em Brasília entre 2004 e 2015

 

O Brasília Trends chegou à cidade com estrutura imponente

 

Mas atraso nos desfiles prejudicou a estreia do evento

 

Em 2019, o projeto voltou à programação de moda da capital com seus problemas resolvidos 

 

O Summer Collections surgiu como um desfile na CasaCor 2018

 

E voltou no ano seguinte como uma iniciativa que tem tudo para bombar a moda praia brasiliense

 

Junto ao Moda Connect, ambas as iniciativas deram esperança de que a moda brasiliense estava retomando seu ritmo enérgico, dando ao Sindicato das Indústrias do Vestuário do DF a força para levar esse renascimento mais longe.

Com exclusividade à coluna, a presidente da instituição, Walquiria Aires, revelou quais seriam os próximos passos para a indústria têxtil da capital federal e como o coronavírus vem impactando seus planos.

Também em 2019, o Moda Connect propôs a inclusão de deficientes físicos na indústria têxtil

 

Summer Collections

Entre os segmentos que têm destaque na indústria têxtil brasiliense, a moda praia, surpreendentemente, é uma das mais expressivas da capital federal. Segundo informações do Sindiveste-DF, a cidade tem 80 empresas de beachwear, com 380 empregos formais e indiretos.

Este cenário, todavia, já foi bem mais favorável. Entre os anos de 2000 e 2007, as exportações de biquínis e maiôs produzidos por aqui renderam cerca de US$ 4 milhões aos nossos empresários.

Na década passada, a moda praia rendeu US$ 4 milhões ao empresários do DF

 

No intuito de retomar estes números, o produtor de moda Fernando Lackman, em parceria com o Sindiveste-DF, resolveu organizar um evento de moda praia para aquecer o setor. A primeira edição do Summer Collections movimentou a 27ª edição da CasaCor Brasília, em 2018, levando um desfile de beachwear a um dos ambientes da mostra.

Em 2019, a iniciativa se mostrou crucial para o segmento de sungas e biquínis. Desta vez, nove marcas locais apresentaram suas novidades no Espaço Cultural Renato Russo, em uma noite recheada de desfiles e showrooms que trouxeram a moda praia da capital federal de volta aos holofotes.

Com o sucesso do projeto, o Sindiveste quer dobrar o número de etiquetas participantes, além de aumentar a quantidade de dias do evento. Segundo Walquiria, a segunda edição do Summer Collections continua programada para setembro de 2020.

Registro do primeiro Summer Collections, na CasaCor

 

Há 27 anos na moda praia brasiliense, Socorro Vale aprovou a segunda edição do projeto

 

1º Salão de Moda Masculina

A moda masculina de Brasília nunca foi a mais expressiva, mesmo tendo nomes conhecidos em seu escopo, como Romildo Nascimento e Anna Paula Osório. Em 2020, o Sindiveste quer dar uma nova chance ao setor, apostando em um salão de moda masculina, com desfiles e showrooms.

“Este é um segmento que precisa de espaço, então, estamos criando um evento especialmente para ele. Queremos que o público saiba que temos um mercado muito forte no menswear“, afirma Walquiria.

Walquiria Aires, presidente do Sindiveste-DF

 

Prevista para o segundo semestre, a iniciativa vai reunir marcas, estilistas e novos talentos da moda local. O dia será dedicado a apresentar a moda masculina de Brasília para o consumidor da capital federal.

“O menswear de Brasília é muito bom. Precisa ser lapidado, mas o segmento já segue um padrão que pode ser equiparado às grandes marcas. Você vê o Romildo, por exemplo. Tem qualidade artesanal e manual, tem modelagem e tem criatividade. Ele, inclusive, será padrinho do evento, ajudando nas pesquisas e participando ativamente”, adianta Fernando Lackman, um dos idealizadores da ação.

Ícone do menswear da capital, Romildo Nascimento será padrinho do evento

 

Romildo Nascimento, uma referência na moda masculina de Brasília, afirma que o projeto pode trazer visibilidade a marcas que realmente têm a capacidade de levar o setor adiante. “Fiquei muito encantado quando eu fui no Minas Trends e conversei com os organizadores. Eles disseram que só precisam de quatro ou cinco marcas que deem a identidade da moda mineira, não precisa colocar todo mundo na passarela. Acho que Brasília também precisa disso.”

“Fomentar o mercado é interessante, mas é necessário pensar no fortalecimento das marcas locais para, depois, pensar em como potencializar isso. Porque tem um monte de coisa sendo mostrada, mas sem relevância”, completa o designer.

Para o estilista, conhecido por seu trabalho repleto de texturas, “Brasília tem muito desfile e pouca moda”

 

Malharias e uniformes profissionais

O segmento que mais movimenta a indústria têxtil do DF é o de uniformes. No entanto, uma licitação emitida pela Secretaria de Educação em 2019 colocou o setor em risco. Além de permitir a participação de confecções de todo o país, o edital disponibilizado pela instituição determinava que a compra dos uniformes dos alunos da rede pública de ensino fosse feita em lote único.

As exigências afetariam diretamente as confecções da capital federal, que não conseguiriam competir com as grandes fábricas presentes no polo industrial de São Paulo.

Ao se deparar com as condições, o Sindiveste imediatamente recorreu aos deputados da Câmara Legislativa, que criaram uma frente parlamentar para rever as compras governamentais. Com a atitude, o governador Ibaneis pediu a suspensão da licitação, mas Walquiria não pretende deixar seus filiados à merce do dirigente.

“Estes uniformes representam uma movimentação de R$ 100 milhões. Isso precisa ficar no DF. Por isso, vamos realizar um salão de uniformes e roupas profissionais, tanto para rede privada quanto para rede pública, para mostrar o potencial desse setor para o mercado local”, revela Walquiria.

Licitação dos uniformes das escolas públicas do DF quase colocou o mercado em crise

 

Presidente batalha para que escolas recorram às malharias locais

 

A presidente do sindicato conta que a instituição está mapeando 85 confecções e malharias do DF, de olho nos produtores de uniformes escolares.

“Queremos certificar 40 delas com o Compliance, um selo ético que tornam essas empresas aptas a venderem para as escolas daqui. Iremos convidar as instituições de ensino de Brasília a conhecerem as malharias do DF, propondo, inclusive, design e modelagens diferenciadas”.

O Salão de Roupas Profissionais e Uniformes também contemplará a área hospitalar. “As redes que estão chegando em Brasília estão comprando tudo de fora. A nossa indústria tem capacidade de atender essas demandas”, acredita Walquiria.

Outra meta da instituição é cativar as redes hospitalares da cidade

 

Novos talentos

O primeiro passo do Sindiveste em 2020 seria lançar um concurso de novos talentos para dar visibilidade aos designers do DF. No entanto, a iniciativa foi adiada para o segundo semestre por conta do coronavírus. O plano é selecionar uma pessoa de cada região administrativa e bancá-la por um ano, com desenvolvimento de coleção, produção, catálogo e participação em desfiles.

“A moda não pode estar só dentro do Plano Piloto. Temos muitos talentos que estão por aí e queremos jogar a luz em cima deles. Estamos em contato com a Casa de Criadores para que o melhor designer mostre seu trabalho no evento.  Ainda que essa parceria não dê certo, o vencedor do programa será inscrito no projeto paulistano”, adianta Walquiria.

Sindiveste tenta incluir vencedor do concurso na Casa de Criadores

 

O produtor Fernando Lackman, que trabalha ao lado da presidente nesta nova empreitada, ainda reflete sobre o formato do concurso, mas diz que ele já tem até nome. “Vai depender das parcerias que estamos fechando, mas encontramos o Ronaldo Fraga no Minas Trend e ele meio que batizou o evento”, lembra Lackman.

O curador da disputa explica que ela também terá um caráter educativo. “Às vezes, tem uma pessoa que sabe fazer um croqui maravilhoso, mas não sabe manusear uma máquina, modelar e escolher tecidos. Queremos que essas pessoas tenham uma chance no mercado.”

O estilista Ronaldo Fraga batizou o projeto

 

Moda para todos

Outro projeto de Fernando Lackman com apoio do Sindiveste, o Fashion For All será focado em estilistas e empresários que investem na moda inclusiva.

“A moda não veste mais apenas o consumo. É muito claro que, hoje, as pessoas criam roupas, também, pensando nas questões sociais. Temos roupas feitas para transexuais, para plus sizes e para quem tem algum tipo de deficiência física. Há, ainda, quem não queira seguir um gênero”, destrincha o jornalista.

O Fashion For All dará visibilidade às marcas que trabalham com a inclusão

 

Atendendo uma grande demanda dos amantes da moda, a programação priorizará designers que não só criam para esses grupos como pertençam a eles. “Eu quero que a maioria das pessoas que participarem tenham o pé dentro destes movimentos. Queremos achar transexuais que fazem roupas para transexuais e plus sizes que façam roupas para plus size, para incentivar que estas pessoas tenham voz e participação no setor”.

O Fashion For All estava previsto para julho, porém, toda a indústria passa por um momento de incertezas. Devido ao avanço da Covid-19, o evento será realocado para o fim do ano, em meados de novembro.

Fernando Lackman e Walquiria Aires, dupla responsável por movimentar a moda de Brasília

 

Brasília Fashion Week

Os organizadores da feira Hair Brasília farão sua primeira investida no segmento da moda, depois de conquistarem o setor de beleza da capital federal. O Brasília Fashion Week seguirá o formato das semanas de moda, mas terá foco no varejo.

“Não vai ser um evento conceitual, vai ser para ferver o mercado. Iremos organizar desfiles e palestras, mas o foco será no comercial. O intuito é fazer os brasilienses descobrirem a moda local para, depois, invadirmos todo o país”, adianta Fernando Lackman, que também está escalado para a produção do projeto.

Érika Lobo, da feira de beleza Hair Brasília, dirigirá a nova semana de moda ao lado de Fernando Lackman

 

Se o Coronavírus permitir!

Até então, todos os planos do Sindiveste seguem vivos e no DNA da instituição. Contudo, a presidente do sindicato diz que é necessário avaliar as consequências da crise gerada pelo novo coronavírus.

“O papel do sindicato é dar visibilidade a todos os segmentos que representamos e continuaremos fazendo isso. Neste momento, temos que aguardar o que vai acontecer com a economia mundial, com o Brasil e com Brasília. Ninguém esperava que um vírus fosse colocar tudo em risco. Precisamos entender o desdobramento destes acontecimentos. Mas, até então, a nossa pauta de eventos segue como planejada”, declarou à coluna.

 

Colaborou Danillo Costa

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