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Primeiro chefe do Enem de Bolsonaro ataca ministro da Educação

Em entrevista, Marcus Vinicius Rodrigues, ex-presidente do Inep, diz que “não confiaria ao ministro nem uma escola”; Enem começa no domingo

atualizado

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Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcus Vinicius Rodrigues
1 de 1 Marcus Vinicius Rodrigues - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Primeiro presidente no governo Bolsonaro do instituto que organiza o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Marcus Vinicius Rodrigues atacou o ministro da Educação, Milton Ribeiro. Às vésperas do Enem, Rodrigues afirmou em entrevista à coluna que o ministério “não é uma igreja”, nem o ministro “pode agir como um pastor”.

“Eu não confiaria ao ministro nem uma escola de segundo grau”, afirmou Rodrigues.

O professor ficou apenas dois meses no comando do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep): de janeiro a março de 2019. Na época, rompeu publicamente com o então ministro, o colombiano olavista Ricardo Vélez, que o proibiu de se despedir de funcionários.

Rodrigues acusou o Inep de engavetar 32 de 33 projetos para otimizar o órgão, inclusive um que transformaria o instituto em instituição de Estado. Apesar dos petardos ao ministro, Rodrigues desconversou quando foi questionado sobre as declarações de Bolsonaro contra o Enem.

O presidente disse que a prova, que começará a ser aplicada neste domingo (21/11), será mais parecida com seu governo. Fora isso, 37 servidores do Inep pediram demissão. Denunciaram pressões políticas do governo Bolsonaro na formulação do exame.

Leia os principais trechos da entrevista.

Que tal a organização do Enem, que acontecerá neste fim de semana?

Não existe um planejamento no MEC, nem em suas unidades. O sistema interno está corroído e sem gestão. Você sabe, por exemplo, quanto custa uma questão do Enem? Alguma coisa em torno de R$ 30 mil, é um absurdo.
Em novembro e dezembro de 2018, mesmo antes de assumir formalmente, fizemos um profundo trabalho de diagnóstico organizacional no Inep, com a ajuda dos melhores consultores do país. Elaboramos 33 projetos para direcionar o futuro organizacional e metodológico do Inep. Mas com minha saída, apenas um projeto evoluiu, o da carteira de estudante. Transformar o Inep em órgão de Estado era um dos primeiros passos. O resto foi descartado em prejuízo da educação brasileira.

Que nota dá ao trabalho do ministro Milton Ribeiro? Por que ele segue firme no cargo?

O ministro tem boa vontade e é uma pessoa de Deus, mas suas características de gestor são mínimas. Eu não confiaria a ele nem uma escola de segundo grau. Para continuar firme no cargo ele aceitou posições ideológicas que não estão alinhadas a um projeto de Estado para a educação.

Por que o senhor tem dito a colegas que o ministro “apenas reza”?

Eu também rezo. E rezo muito. O que você não pode fazer é passar o dia fazendo e dizendo absurdos e, à noite, pedir perdão. Um ministério não é uma igreja. A postura de um ministro não é compatível com a de um pastor na condução de sua igreja.

O MEC está aparelhando o Inep?

Não é isso. O Inep é conhecimento, é ciência, é a inteligência brasileira para a educação. O ministro e seus assessores não têm formação científica. Assim não existe uma ponte saudável. Logo, com uma visão medíocre e irresponsável, é mais fácil desconstruir o Inep. Só que o que está sendo desconstruído é o futuro da educação no Brasil. Estudos, pesquisas e projeções deveriam ser a base.

O que achou da declaração de Bolsonaro de que o Enem terá “a cara do governo”?

É preciso entender a fala do presidente Bolsonaro dentro de um contexto maior. A mídia tem feito interpretações duras em relação ao presidente. Precisamos nos preocupar com o que realmente é urgente: salvar o Inep e dar uma direção ao MEC.

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