No início do ano, Juliano Prado, sócio-criador da Galinha Pintadinha, recebeu uma proposta para a querida personagem infantil transformar-se na Galinha Vacinadinha e aparecer se vacinando contra a Covid. Deu certo. Desde a terça-feira (18/1), a Galinha estrela uma campanha do governo paulista para a vacinação infantil, tão atacada pelo governo Bolsonaro. Em entrevista à coluna, Juliano Prado afirmou que além de cantigas populares, a marca pretende resgatar a tradição brasileira de se vacinar.
“A Galinha pede e apoia que as crianças e os pais das crianças se vacinem para a gente continuar bem. Vamos ver se a gente contribui um pouquinho para manter a tradição de ser um país onde as pessoas são vacinadas, um país civilizado”, disse.
Prado também contou os próximos passos da Galinha, que incluem mais aparições defendendo a imunização, negociações com a China e um novo álbum musical após nove anos.
Leia os principais trechos da entrevista.
Como foi a negociação com o governo de São Paulo para transformar a Galinha Pintadinha na Galinha Vacinadinha?
A negociação durou cerca de dez dias, foi jogo rápido. Topamos porque é uma causa que a gente apoia. Não teve muito dilema. Para a gente, é o certo. Muitas animações foram aproveitadas da série que já tínhamos lançado. Outras precisaram ser criadas, como a da carteira de vacinação, a galinha levando a picadinha com uma pena de pavão (risos). A gente já tinha feito uma campanha de vacinação contra a poliomelite e o sarampo em 2018 com o Ministério da Saúde [no governo Michel Temer]. Participamos com o Zé Gotinha, a Xuxa e personagens infantis.
A Galinha Pintadinha terá mais participações na campanha de vacinação contra a Covid do governo paulista?
Sim. O governo pode usar as peças por um ano. Haverá surpresas.
Quais serão os próximos passos da Galinha?
Temos trabalhado no nosso xodó, que chamo de nosso DVD cinco (risos). Será o quinto álbum de músicas da Galinha Pintadinha, que não lançávamos há nove anos. O primeiro foi em 2008. Pretendemos lançar uma música nova por mês, começando em 4 de fevereiro por “Trem de ferro” [“O trem de ferro, quando sai de Pernambuco, vem fazendo xique xique para chegar no Ceará. Rebola bola, você diz que dá que dá”]. No meio do ano, devemos divulgar o álbum completo com 14 músicas. O Marcos [Marcos Luporini], meu sócio, é produtor musical e vem trabalhando nas músicas há algum tempo.
A marca se expandirá para mais países?
Sim. Já fizemos tradução das músicas e séries. A Galinha passou na televisão da Itália e estamos em negociações com a China. Estamos na Índia também. O vídeo de “Trem de ferro”, em fevereiro, será lançado uma semana depois daqui em uma versão em espanhol. Nosso forte internacionalmente é o conteúdo em espanhol, na América Latina. Às vezes o espanhol fica quase igual ao português em número de acessos.
O negócio mudou com o isolamento provocado pela Covid?
Nos primeiros meses de pandemia, a parte de licenciamento de produtos físicos sofreu bastante com o comércio fechado. Por outro lado, houve um consumo maior de mídia, de vídeos. Mas a receita com a monetização não crescia, porque isso está ligado aos anúncios do Google. Com o tempo, isso foi se equilibrando. A grosso modo, estamos com uma audiência um pouco maior e uma receita um pouco menor do que tínhamos antes. Esperamos voltar com os nossos shows, que estão parados há dois anos.
O que acha de a Galinha ter sido vista mais de 33 bilhões de vezes no YouTube?
Às vezes até eu perco a noção. A Galinha Pintadinha fez um resgate do cancioneiro popular e também tem um fator até utilitário. Realmente a criança se concentra ali. É o que a gente mais ouve dos pais. Foi uma coisa que a gente fez sem muita intenção. É uma relação que não entendemos, da criança com a Galinha naquele desenho, que foi feito daquele jeito mais por limitações orçamentárias do que qualquer outra coisa (risos).
Qual é o recado da Galinha Pintadinha para as crianças na pandemia?
A Galinha pede e apoia que as crianças e os pais das crianças se vacinem para a gente continuar bem. Isso é baseado na Anvisa, na Sociedade Brasileira de Pediatria, na experiência internacional. Com a campanha, conseguimos colaborar com nosso poder de comunicação. Mesmo com toda a problemática, o Brasil provou que é um país que aprova a vacinação, que tem um histórico na vacinação. É uma tradição brasileira. E já que a gente gosta de resgatar as tradições, vamos ver se a gente contribui um pouquinho para manter a tradição de ser um país onde as pessoas são vacinadas, um país civilizado. As pessoas querem viver num país onde estejam vacinadas e protegidas. Essa é a verdadeira liberdade, né?

A Anvisa aprovou, em 16 de dezembro, a aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Para isso, será usada uma versão pediátrica da vacina, denominada Comirnatybaona/Getty Images

A vacina é específica para crianças e tem concentração diferente da utilizada em adultos. A dose da Comirnaty equivale a um terço da aplicada em pessoas com mais de 12 anosIgo Estrela/ Metrópoles

A tampa do frasco da vacina virá na cor laranja, para facilitar a identificação pelas equipes de imunização e também por pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para receberem a aplicação do fármacoAline Massuca/Metrópoles

Desde o início da pandemia, mais de 300 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência do coronavírus no BrasilER Productions Limited/ Getty Images

Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias. Além disso, segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência da doença no público infantil é significativa. Fora o número de mortes, há milhares de hospitalizaçõesGetty Images

De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenosVinícius Schmidt/Metrópoles

Contudo, desde o aval para a aplicação da vacina em crianças, a Anvisa vem sofrendo críticas de Bolsonaro, de apoiadores do presidente e de grupos antivacinaHUGO BARRETO/ Metrópoles

Para discutir imunização infantil, o Ministério da Saúde abriu consulta pública e anunciou que a vacinação pediátrica teria início em 14 de janeiro. Além disso, a apresentação de prescrição médica não será obrigatóriaIgo Estrela/ Metrópoles

Inicialmente, a intenção do governo era exigir prescrição. No entanto, após a audiência pública realizada com médicos e pesquisadores, o ministério decidiu recuar Divulgação/ Saúde Goiânia

De acordo com a pasta, o imunizante usado será o da farmacêutica Pfizer e o intervalo sugerido entre cada dose será de oito semanas. Caso o menor não esteja acompanhado dos pais, ele deverá apresentar termo por escrito assinado pelo responsável Hugo Barreto/ Metrópoles

Além disso, apesar de não ser necessária a prescrição médica para vacinação, o governo federal recomenda que os pais procurem um profissional da saúde antes de levar os filhos para tomar a vacinaAline Massuca/ Metrópoles

Segundo dados da Pfizer, cerca de 7% das crianças que receberam uma dose da vacina apresentaram alguma reação, mas em apenas 3,5% os eventos tinham relação com o imunizante. Nenhum deles foi graveIgo Estrela/Metrópoles

Países como Israel, Chile, Canadá, Colômbia, Reino Unido, Argentina e Cuba, e a própria União Europeia, por exemplo, são alguns dos locais que autorizaram a vacinação contra a Covid-19 em criançasGetty Images

Nos Estados Unidos, a imunização infantil teve início em 3 de novembro. Até o momento, mais de 5 milhões de crianças já receberam a vacina contra Covid-19. Nenhuma morte foi registrada e eventos adversos graves foram raros baona/Getty Images

A decisão do Ministério da Saúde de prolongar o intervalo das doses do imunizante contraria a orientação da Anvisa, que defende uma pausa de três semanas entre uma aplicação e outra para crianças de 5 a 11 anosRafaela Felicciano/Metrópoles