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Veja diálogos nos quais Cid articula fraude em cartão de vacinação

O tenente-coronel Mauro Cid contou com a ajuda de segundo-sargento e de médico de Goiás para obter fraude em cartão de vacinação da esposa

atualizado

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Alan Santos/PR/Divulgação
Bolsonaro e Mauro Cid
1 de 1 Bolsonaro e Mauro Cid - Foto: Alan Santos/PR/Divulgação

A quebra de sigilo telemático do celular do tenente-coronel do Exército Mauro César Barbosa Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), revela o diálogo em que Cid pediu a fraude do cartão de vacinação da mulher do militar, Gabriela Santiago Cid.

Em 22 de novembro de 2021, Mauro Cid enviou mensagem solicitando que o sargento Luis Marcos dos Reis, integrante da Ajudância de Ordens da Presidência da República, providenciasse para Gabriela um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde de Goiás preenchido com duas doses de vacina contra Covid-19.

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Segundo a investigação, Reis contou com a ajuda do sobrinho dele, o médico Farley Vinícius Alcântara, para cumprir a ordem.

“Contigo aí, tá? Joga na minha conta. E vê aí em Goianésia se tem algum cara que não seja cadastrado no CONECTE SUS. Vou ver depois, no Exército, se tem algum enfermeiro que você que fazer para mim (sic)”, disse Cid.

Dois minutos depois, Reis responde:

“Eu já voltei já, coronel, mas eu deixei lá com meu sobrinho lá, ver se ele consegue lá. É, tem só essas duas pessoas, tem o meu sobrinho e o Vandir lá. Aí tento aqui. Eu estou indo amanhã para a missão lá de Guaratinguetá! No retorno, a gente vai cair em cima disso aí, tá bom? Não falei para ele que ficou questionando porque nenhum coordenador ficou sabendo e tal. Eu falei assim, foi ordem do coronel e chegando aí pessoalmente, eu, eu explico para o senhor o que aconteceu . Falei pro tenente Alencar, pode deixar que eu administro lá.”

Cinco minutos após a resposta, Reis enviou o cartão de vacinação digitalizado e registrado no Sistema Único de Saúde (SUS). O documento diz que Gabriela recebeu uma dose da vacina Pfizer, em 18 de agosto de 2021, e outra dose do mesmo laboratório em 9 de novembro. O documento tem a assinatura e o carimbo do médico Farley, sobrinho do sargento procurado por Cid.

Dados sobre a localização do celular, obtidos pela PF, comprovam que Gabriela estava em Brasília nos dois dias em que o cartão apontam que ela tomou vacina em Cabeceiras (GO).

O diálogo consta na decisão em que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou a Operação Venire, que prendeu seis pessoas e fez busca e apreensão em diversas residências, incluindo a de Bolsonaro, em Brasília, nesta quarta-feira (3/5).

Ainda segundo a apuração policial, após a emissão do cartão de vacina falso, Cid tentou inserir os dados da vacinação no sistema ConecteSUS, do Ministério da Saúde, para obter o certificado do órgão. Ele pediu ajuda do segundo-sargento Eduardo Crespo Alves.

Entre 22 e 23 de novembro de 2021, Cid e Alves trocaram mensagens de áudio que revelam dificuldade de uma servidora em inserir os dados no sistema. “Chefe, 90% já confirmado, tá? É só que deu um probleminha lá com o negócio do, da, do CPF, mas a pessoa teve que sair. E amanhã eu já resolvo, já dou pronto para o senhor, tá ok?”, disse o segundo-sargento para o tenente-coronel.

Nos dois dias seguintes, entre 24 e 25 de novembro, Reis encaminha ao sobrinho médico, Farley Vinicius, uma mensagem em que solicita outro cartão de vacinação para o esquema de fraude: “Vc consegue outro cartão?”.

Em resposta, o médico disse: “Amanhã vejo se desenrolo isso. Cartão em branco né q ele quer? (sic)”. Reis responde: “Sim!! Ai a gente coloca lote do rio”. A conversa foi enviada a Mauro Cid. Veja:

Conforme indica a apuração, os investigados conseguiram um novo cartão de vacinação da Secretaria de Saúde de Goiás em branco, mas não obtiveram êxito em inserir os dados no sistema do Ministério da Saúde.

As dificuldades encontradas referem-se ao fato de os lotes serem de cidade diferente do local onde estavam tentando inserir os dados. Assim, entra em cena um novo personagem: o advogado e militar da reserva Ailton Gonçalves Moraes Barros. Segundo a PF, foi ele que conseguiu colocar os dados falsos no sistema público, por meio de uma servidora da Prefeitura de Duque de Caxias (RJ).

“Diante do exposto, os elementos informativos colhidos demonstram que Mauro Cesar Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, Luis Marcos dos Reis, Farley Vinicius Alcantara, Eduardo Crespo Alves e outras pessoas ainda não identificadas se uniram, em unidade de desígnios, para tentar inserir dados falsos de vacinação contra Covid-19, em benefício de Gabriela Santiago Cid, nos sistemas de informação do Ministério da Saúde (RNDS e SI-PNI), incidindo na conduta tipificada no art. 313-A do Código Penal”, diz trecho da decisão de Moraes.

De acordo com o documento judicial, as mensagens identificadas apontam que o crime não se consumou pelo fato de os lotes das vacinas contra Covid-19, utilizados para inserir no sistema do Ministério da Saúde, não foram distribuídos para o Rio de Janeiro.

A apuração policial define que o esquema configuraria crime de peculato eletrônico.

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