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Morador que ofendeu funcionário em condomínio no DF diz ter sofrido racismo

Um vídeo mostra o homem insultando empregado de residencial de luxo. Ele pediu desculpas e afirma ter sido chamado de negrinho

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Morador ofende funcionário de condomínio de luxo no DF
1 de 1 Morador ofende funcionário de condomínio de luxo no DF - Foto: Reprodução

Gravado ofendendo um funcionário, um morador do Condomínio Ilhas do Lago, na Asa Norte, disse ter sofrido racismo. O homem divulgou, nesta quarta-feira (23/9), uma declaração, na qual conta a sua versão após a repercussão das imagens.

Segundo vizinhos, ele promoveu uma festa na área da piscina do residencial de luxo, nesse sábado (19/9), e os participantes não teriam usado máscaras de proteção facial contra a Covid-19.

Uma equipe de segurança foi acionada, e o encarregado recebeu ofensas e xingamentos ao se aproximar do grupo. Os insultos foram gravados. “Você sabe quem eu sou? Quem você é?”, questionou. “Vai se fuder, vai tomar no cu. Eu vou te mandar embora”, continuou. “Vai tomar no seu cu e some daqui, se não, eu te dou porrada”, completou o homem.

Em relato compartilhado com amigos e outros moradores (leia a íntegra no fim  da reportagem), o homem confirmou ter protagonizado “cenas lastimáveis no último sábado a noite na área de lazer” e disse que se envergonha do fato e pediu desculpas.

O morador contou que as imagens mostram “o lado reativo de um homem alterado por uma sequência de fatos que vem ocorrendo nos últimos meses contra mim e minha mãe, que é idosa, negra e moradora desse condomínio”.

Segundo ele, antes de as imagens serem gravadas, ele foi chamado de “negrinho” pelo funcionário. “De forma ofensiva, pejorativa, ofendeu minha cor e raça, complementando que a minha cota condominial não era nada”.

O homem pontuou que a mãe está sempre com os netos, filhos dele, no condomínio. Um dia, conforme o relato, a mulher foi “direcionada, educadamente, a apresentar uma autorização para entrar na piscina com meus filhos, os netos dela”. “Será que a confundiram com uma empregada negra?”, questionou.

Outros episódios semelhantes ocorreram, segundo o morador. “Se você recebesse uma denúncia bem intencionada de que a sua ‘babá’ bebia cerveja enquanto tomava conta de seus filhos? Esqueceram de perguntar para aquela senhora negra, se ela era avó ou uma empregada negra! Não vi, infelizmente, em nenhum grupo, alguém falar disso”, destacou.

“Peço, mais uma vez, da forma mais sincera possível, todas as desculpas a todos que se sentiram ofendidos com o vídeo, mas, de forma alguma, vou deixar de defender a minha honra e raça”, frisou.

Veja as imagens:

Advogado do morador, Breno Valadares informou à coluna Grande Angular que o cliente foi advertido pelo condomínio e acatou a repreensão. “Foi uma reação intempestiva, que ultrapassou o limite da normalidade e, em relação até a própria conduta dele, que já fez esse reconhecimento. O que as pessoas não souberam é que não foi oportunizado a ele explicar por qual motivo reagiu daquela forma”, pontuou.

Nessa segunda-feira (21/9), o morador registrou ocorrência na 5ª Delegacia de Polícia (Área Central) por injúria racial. Aos policiais, ele relatou que, por volta das 21h de sábado, estava entre o Lago Paranoá e o Condomínio Ilhas do Lago quando resolveu ir até o residencial para usar o banheiro. O ataque racista teria ocorrido após ser abordado por dois funcionários.

“Disse que não deveria passar por ali e questionou por que o declarante passava por aquele lugar se a fração ideal do condomínio dele não era maior que a dos outros. Ao completar essa reprimenda, dirigiu-se ao comunicante, em tom pejorativo, chamando-o de: negrinho.​ Destaca que a pessoa falou baixo a expressão pejorativa para que os demais presentes não o ouvissem”, detalha trecho da ocorrência.

O outro lado

Funcionários do condomínio foram à 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) e também registraram ocorrência contra o morador, nessa terça-feira (22/9). Segundo os empregados, por volta das 20h de sábado, foram alertar um dos moradores do condomínio que não era permitido uso de bebida ou alimentos.

“Ato contínuo, tal morador, um homem de 44 anos, não gostou da abordagem e passou a proferir xingamentos diversos, prometendo dar porrada nos mesmos, bem como, ameaçando ambos de serem demitidos”, afirma trecho da ocorrência. Um pen-drive com a filmagem foi apreendido. O caso será apurado pela 5ª DP.

O síndico do Condomínio Ilhas do Lago, Felipe Guedes, informou ao Metrópoles que esse “é um caso isolado”. “Não posso ser leviano em comentar o que aconteceu, mas vamos apurar os fatos. A administração está ciente para saber o que houve e tomar providências”, assinalou.

O Condomínio Ilhas do Lago tem 432 unidades, com cerca de 1,4 mil pessoas moradores. Por isso, diz o síndico, ainda não foi possível identificar o homem que aparece no vídeo ou entrar em contato com ele.

Confira, na íntegra, a manifestação do morador:

“Caros vizinhos amigos e moradores do Ilhas do Lago.
Sou o Daniel, que protagonizei cenas lastimáveis no último sábado a noite na área de lazer de nosso condomínio. E por tal fato, me envergonho e peço desculpas a todos. Nunca imaginei que viveria um situação assim na vida. Contudo, depois de dois dias de muito pensar, achei que também tinha o direito de contar o meu lado da história, pois como todos sabem, todas as histórias tem dois lados. E, até agora, tive notícia que estou sendo execrado em grupos de WhatsApp por conta da visão monofocal do fato.

Vocês viram o lado reativo de um homem alterado por uma sequencia de fatos que vem ocorrendo nos últimos meses contra mim e minha mãe, que é idosa, negra e moradora desse condomínio.

Todos viram um vídeo que foi realizado por um funcionário do condomínio, de forma muito engenhosa e premeditada, para tirar de mim o meu pior, e conseguiu. Contudo, ninguém viu as cenas que aconteceram antes do vídeo filmado. Reparem: quando o funcionário chegou com seu celular filmando, eu já estava muito alterado, irado com o que tinha acontecido antes disso. Ele me chamou de “NEGRINHO”, de forma ofensiva, pejorativa, ofendeu a minha cor e raça, complementando que a minha cota condominial não era nada. E isso para mim foi a gota d’água, o copo transbordando, de uma série de fatos constrangedores e discriminatórios que tenho vivido aqui na nossa ilha da fantasia.

Sem me aprofunda muito, vou compartilhar com vocês um pouco da minha história. Alguns devem conhecer minha mãe, a “Dona Chica”, que esta sempre com meus filhos pequenos nas áreas comuns do condomínio enquanto trabalho todos os dias. O que vocês fariam se depois de um dia de trabalho, tivesse a notícia de que ela, aquela senhora que te criou, a sua mãe, tivesse sido direcionada educadamente a apresentar uma autorização para entrar na piscina com meus filhos, os netos dela? Entendam, não digo atestado médico, digo autorização. Será que a confundiram com uma empregada negra? E se em outra ocasião ela tivesse tentado agendar para fazer um tratamento de cabelo no salão e não tivessem permitido pois ela não era moradora. Será que acharam que ela era uma empregada negra? Vamos para outra? Se você recebesse uma denúncia bem intencionada de que a sua “babá” bebia cerveja enquanto tomava conta de seus filhos? Esqueceram de perguntar para aquela senhora NEGRA, se ela era AVÓ ou uma empregada negra! Não vi infelizmente em nenhum grupo alguém falar disso.

Agora, voltemos ao nosso fato, ao video pela metade que todos estão execrando. E se fosse com você? E se alguém cometesse injuria racial contra você? Contra alguém da sua família, alguém que você ama? O que você faria? Eu, indignado, me controlei para não agredir, entrar em vias de fato com ninguém, mas infelizmente reagi com o que tinha, com as palavras. Peço mais uma vez, da forma mais sincera possível todas as desculpas a todos que se sentiram ofendidos com o vídeo, mas de forma alguma vou deixar de defender a minha honra e raça.

Contra o funcionário, já realizei um boletim de ocorrência na delegacia de polícia e espero que as medidas cabíveis sejam tomadas pelo poder público. Em uma época que o mundo está levantando punhos cerrados aos céus, entoando o “Back Lifes Matters”, imperdoável permitir atos racistas em qualquer lugar que seja. Realmente não esperava ter que me defender de racismo justo no quintal da minha casa.

Quero esquecer que tudo isso aconteceu, por um lado, pela vergonha de ter protagonizado um momento tão detestável, mas, por outro lado, pela profunda tristeza por ter sofrido na pele a discriminação.

Desejo o melhor a todos. Muita saúde e paz.”

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