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Psicóloga Ana Rizzon ensina a colocar em prática as resoluções de 2021

“Mudar é desafiador. Nosso cérebro funciona focado na eficiência”, defende a especialista

atualizado

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Dra Ana Rizzon
1 de 1 Dra Ana Rizzon - Foto: Imagem cedida ao Metrópoles

Com a virada do ano, muitas pessoas do mundo todo almejam mudar suas vidas para melhor, seja por meio de novos hábitos, seja na realização de sonhos ou metas que ainda não conseguiram alcançar nos anos anteriores.

Você se sente parte do grupo de pessoas que não colocam em prática as resoluções para o ano seguinte? A coluna Claudia Meireles conversou com a psicóloga Ana Rizzon, que acumula mais de 10 mil seguidores no Instagram, sobre o grande desafio de dar um check-list nas metas do novo ano.

Confira o bate-papo:

Na sua opinião, porque tanta gente não consegue colocar em prática as resoluções para o ano seguinte?

Mudar é desafiador. Nosso cérebro funciona focado na eficiência. Se você agiu de uma determinada forma e isso funcionou, ele tenderá a repetir a estratégia até que ela se torne automática. Vamos a um exemplo: se eu aprendi na infância a ser confortada com alimento, toda vez que eu me sentir vulnerável eu recorrerei a essa estratégia.

Esse automatismo economiza minha energia, deixando mais disponibilidade para que eu dê conta de outras demandas. Só que, à medida que eu automatizo essa maneira de me confortar, não penso que existem outras opções que poderiam gerar o mesmo ganho sem os mesmos custos (ganho de peso, por exemplo). Eu deixo de avaliar outras estratégias. Eu não penso se esse comportamento me leva na direção do meu objetivo. Não faço esse tipo de avaliação. Somos animais de hábitos e muda-los é desafiador.

Outro aspecto igualmente importante é a falta de estratégia no processo de mudança. Para desafios serem superados é preciso estratégias pensadas e planejamento. Desejo sem operacionalização é só sonho.

Ana Rizzon
Ana Rizzon

Você acha que a pandemia de coronavírus (e o medo, quarentena e isolamento social que vieram com ela) piorou esse fato?

Sim. Medos nos adrenalizam. Medos novos nos adrenalizam ainda mais. Diante de qualquer ameaça, o cérebro se prepara para sobreviver. Foca a energia para lutar por nós e pelos nossos. Não somos estratégicos com medo, somos reativos. Diante de um incêndio, não paramos para pensar qual a melhor estratégia de fuga, nós fugimos. A parte do nosso cérebro voltada para a sobrevivência libera adrenalina e nos prepara para ter ações que salvem a nossa pele. Isso nos fez sobreviver enquanto espécie.

Praticar mudanças exige da parte estratégica do nosso cérebro. A parte que planeja, pondera, calcula, corta a meta em fatias finas e coloca em prática. Essa parte está hipoativada quando sentimos medo.

Ao mesmo tempo, vejo que muitas pessoas encontraram um propósito que tocou a sua emocionalidade nesse “novo normal”. Bem-vinda, dopamina! Esse neurotransmissor somado com adrenalina vira poder. Aí, assistimos ao florescimento de pessoas motivadas e transformando seu propósito em ação. Está aí uma rota de saída para a “desgraçolândia”: se engaje em metas que toquem seu coração e use a adrenalina a seu favor!

menina de máscara olhando pela janela
“Diante de qualquer ameaça, o cérebro se prepara para sobreviver”, diz Ana Rizzon

Na prática, como você recomenda criar uma lista de metas? Ela precisa ser física ou escrita?

Recomendo! Você já viu um empresário de sucesso fazer planejamento estratégico só na cabeça? Começa na ideia mas, se não for operacionalizado, para ser convertido em ações, não florescerá. Se sua lista for escrita à mão, facilita ainda mais para o seu cérebro.

Então, qual é o passo a passo para conseguir executar as metas em 2021?

A neurociência nos explica sobre isso.  Mudar é difícil, porque confundimos sonhos com metas. Seguem os passos para você “divar” nas suas metas em 2021:

Papel e caneta na mão!

1. Comece pelos seus sonhos. Eles são compostos de ideias que levarão mais de três meses para tornar realidade. Tendem a ser vagos, abstratos e longínquos. É o norte da sua bússola de realizações. Pesquisas mostram que pessoas que têm sonhos são menos vulneráveis ao tédio e a depressão. Então, sonhe.

2. Mas os sonhos, por sua vez, tendem a ser intangíveis. Precisamos trazer a esse norte atraente métricas para medir mudanças. Aí, surgem os objetivos. Eles te aproximam do sonho e estão focados em quais ações você fará nos próximos um a três meses para chegar lá. É o desenho do nosso mapa rumo ao norte.

3. Agora, as metas! Para elas, quebramos os objetivos em pequenos pedaços que tornem factível atingi-los. São “tiros” mais curtos, de um a quatro semanas.

4. Em seguida, os passos. O que você vai fazer hoje para realizar a sua meta? Quais ações diárias você estruturou para chegar lá? Esses passos são baseados em pesquisas das ciências cognitivas e comportamentais. É dessa forma que eu estabeleço meus objetivos. Funciona comigo.

Mas tem mais um pulo do gato! Temos uma energia finita e mudar demanda muito dela. Ter muitas metas concomitantes é um tiro no pé. Você não colherá resultados e perderá o melhor motivador que existe: o sucesso. Sobre isso, a ciência diz que precisamos estabelecer, no máximo, duas metas por vez. É isso mesmo! Sejamos econômicos que quisermos ser prósperos. Descubra o que é essencial para você, o que toca a sua emocionalidade e inicie por aí.

Ana Rizzon
Psicóloga Ana Rizzon

Se você quiser saber mais, indico seguir o canal Neurovox, do YouTube. É de um pesquisador brasileiro chamado Pedro Calabrez, que fala muito sobre processos de mudança de comportamento.

Para as pessoas que procrastinam, tem alguma dica específica?

Primeiro precisamos entender que a procrastinação é um fenômeno de prazer. Gera alívio em um primeiro momento, mesmo que posteriormente “encalacre” a vida da gente. Se você anda procrastinando, vale se perguntar: por que eu me comprometi com coisas que me despertam a necessidade de buscar alívio? Existe algum recurso que me falta para dar conta dessa tarefa? O que essa demanda desperta em mim? Ela está em consonância com o que eu considero essencial na minha vida? Talvez a procrastinação possa ser o seu sábio interior sinalizando que você precisa olhar as suas escolhas atuais.

Também existem os que procrastinam por motivos mais profundos, relacionados com o seu funcionamento psíquico. Se for esse o caso, a procrastinação tende a ser uma atitude mais global. Essas pessoas possuem autocontrole e autodisciplina insuficientes. Elas tem dificuldades reais em persistir em comportamentos que necessitam de várias etapas de investimento para ter acesso a recompensa (dieta, poupança, um curso longo…). Para esses casos, a psicoterapia contribui para melhora desse quadro.

acordar manhã espreguiçar bem-estar saúde
Para a especialista, procrastinação é um fenômeno de prazer

E para pessoas perfeccionistas e ansiosas demais, há algum segredo para relaxar um pouco e não pirar?

O perfeccionismo pode ser tão paralisante quanto a procrastinação. Leva tempo fazer perfeito. Em função disso, muitos nem começam. E como se desgraça pouca fosse bobagem, muitos perfeccionistas carecem de critérios. A organização da gaveta de meias é tão importante quanto a apresentação do novo projeto para a empresa. E no mar de demandas chamado vida, os perfeccionistas são engolidos por tarefas. Sua saúde é sugada sob aplausos do mundo que preza pela excelência.

Pra quê tem que ser perfeito? Isso é realmente importante? Dentro do todo, o quão fundamental é dedicar excelência a esse aspecto específico? Esse aspecto vai fazer diferença vida daqui há 10 anos?

Seja menos pinheiro e mais bambu. Se molde a realidade avaliando os ventos. Questione o automatizado e tenha mais clareza do essencial. Recomendo fortemente a leitura do livro Essencialismo: a disciplinada busca por menos, do Greg McKeown. Foi um divisor de águas na minha vida.

Livro Essencialismo (Português) Capa comum
Livro Essencialismo: a disciplinada busca por menos, de Greg McKeown
Sobre a especialista

Psicóloga clínica e terapeuta de casais há quase 20 anos, Ana Rizzon tem 23 mil horas de prática clinica. É supervisora em Terapia do Esquema e professora convidada em cursos de especialização na mesma abordagem. É autora do Romance Num sofá de bolinhas: amor & terapia e do Capítulo Infidelidade conjugal: novidade do outro, alteridade do eu ou amor velho que adoeceu?, que compõe o primeiro livro de Terapia de Esquema para casais lançado no Brasil (ARTMED).

Radicada na cidade de Novo Hamburgo (Rio Grande do Sul), Ana é graduada em Psicologia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) em 2001. É especialista em Gestalt-Terapia (Centro de Estudos de Gestalt-terapia do RS), pós-graduada em Psicoterapia Sistêmica Familiar (UNISINOS), pós-graduada em Terapia Cognitivo-Comportamental (UFRGS) e especialista em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia (credenciado internacionalmente junto à International Society of Schema Therapy (ISST) e ao New Jersey / New York Institute of Schema Therapy – USA). Atualmente, está em processo de treinamento Externship em EFT (Emotionally Focused Therapy).

Para saber mais, siga o perfil da coluna no Instagram.

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