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Samurai Jack, obra-prima dos desenhos, tem última temporada sombria

O desenho animado volta às telas após 13 anos da última exibição no Cartoon Network

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1 de 1 samuraijack_metropoles_banner - Foto: REPRODUÇÃO/ADULTSWIM

“Samurai Jack”, a cultuadíssima série animada criada em 2001 pelo geniozinho Genndy Tartakovsky, tem finalmente sua saga concluída em uma violenta e mórbida quinta temporada. A despedida é exibida atualmente pelo canal americano Adult Swim.

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Os motivos para celebrar este retorno triunfante não são poucos. Foram longos 13 anos desde que o último episódio da quarta temporada foi exibido no Cartoon Network. “Samurai Jack” representa um rompimento de fronteiras na animação de grande público. Tartakovsky é o nome por trás do desenho animado “O Laboratório de Dexter”, na era de ouro do Cartoon Network, nos anos 1990.

A história do imbatível guerreiro extraviado no tempo, ejetado para um futuro distante e distópico, e seu nêmesis, o indizivelmente maléfico demônio/extraterrestre Aku, abriu terreno para uma visão inteiramente conceitual da animação infantil. “Samurai Jack” sempre foi muito arrojado em sua linguagem cinemática e poderosamente inventivo.

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Mas como, exatamente, esse desenho inovou e se transformou em modelo para animações que extravasam gênero e idade? Vejamos:

“Samurai Jack” faz emergir várias referências e sacadas ousadas vindas do mundo do cinema. Do cinema japonês, por exemplo, existem os cortes transversais dividindo a tela, típicos de Kurosawa (e que George Lucas chupinhou para “Star Wars”), além de tempos mortos, presentes não apenas nos filmes de Ozu, mas também na maioria dos mangás.

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Do “western spaghetti” italiano, Tartakovsky extraiu os hiper-closes nos olhos do samurai e todo tipo de aclimatação no momento fatal que são os duelos.

“Samurai Jack” também foi influenciado (e, posteriormente, pode-se dizer que influenciou) “Star Wars”: nas comunidades futuristas de aliens e na maneira criativa com que futuro e passado se mesclam para representar a diversidade cultural do nosso próprio mundo. Não à toa, Tartakovsky realizou, com igual êxito (tema para outra coluna), a série animada “Clone Wars”, que hoje faz parte do cânone de “Guerra nas Estrelas”.

Obviamente, os quadrinhos são também forte inspiração para a série. Dos mangás saem as longas e espetaculares sequências silenciosas que fizeram a fama de Tartakovsky. A história fundamental de samurais “Lobo Solitário”, de Koike e Kojima, é biblioteca básica para se compreender “Samurai Jack”. Já certas paisagens do desenho são tão lindas e deslumbrantemente bem animadas que parecem ter saído diretamente de um “ukyio-e” do pintor Katsushika Hokusai.

 

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“Ronin”, de Frank Miller, HQ que inspirou “Jack”

E é claro que não podemos deixar de mencionar o onipresente quadrinista americano Frank Miller. Ele escreveu, nos anos 1980, “Ronin” (também inspirado em “Lobo Solitário”): a história de um samurai sem mestre que é enviado a um futuro tenebroso junto com um inimigo demoníaco. Influência confessa de Tartakovsky.

O estilo de Miller, seus cortes, poses, contrastes, além de certos temas, estão espalhados por toda a série e retornam na nova temporada, especialmente na batalha na neve do terceiro episódio.

“Samurai Jack” se infiltra em cenários insólitos que vão desde um tecnológico e cyberpunk futuro até a mais remota natureza selvagem. Suas sociedades podem ser civilizações à moda antiga ou comunidades futuristas pan-universais. O espectro criativo no qual as incisivas parábolas do desenho se apresentam mostrou-se definitivo e longevo. Mas então que novidades a nova temporada traz?

A quinta temporada: metralhadoras, sangue e morbidez
[SPOILERS]
Até agora foram exibidos três episódios e, conforme havia sido anunciado, o tom é bastante diferente. Jack está preso no mundo de Aku há 50 anos, perdeu sua espada mágica e sofre por conta de uma esquizofrenia causada pela impossibilidade de retornar ao passado. Está assombrado pelo fantasma de seus familiares.

Sem a espada, o samurai perambula paramentado com armas de fogo, armadura e uma moto de guerra. O aspecto da coisa toda é o mesmo do filme “Logan”. A nova temporada, ao contrário das outras, é apenas uma mesma e contínua história, claramente voltada ao público adulto. O espectro da morte ronda as sequências sombrias e arrebatadoras por toda parte: antes, Jack enfrentava apenas os soldados mecânicos de Aku.

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Agora, sangue é derramado pela primeira vez na série. Jack, antes um sereno e honrado seguidor do código de honra Bushido, agora tem visões e apresenta o semblante de alguém completamente devastado por dentro. Ele deseja a morte, literalmente.

É pouco ainda, mas um grand finale é previsto para a série. Aku tornou-se uma espécie macabra de religião e está ausente, a não ser na presença de seus assassinos asseclas. Há uma aura de crepúsculo para série e, ao contrário de “Logan” (que abertamente banaliza as dezenas de assassinatos no filme), uma única morte provoca a completa desestabilização do nosso herói.

A quinta temporada, portanto, anuncia intensa reflexão sobre imortalidade, solidão, sanidade e finitude, algo que a série original jamais sonhou em fazer. Parece, na verdade, a realização de certa visão inicial de Tartakovsky. Há muito o que esperar dos outros episódios dessa temporada, que fecha a obra-prima com chave de sangue.

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