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Conheça o mundo punk e “noiado” do quadrinista Diego Gerlach

O artista está em Brasília para ministrar workshop sobre plágio

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1 de 1 metropoles_gerlach_CAPA_BANNER - Foto: Divulgação

Diego Gerlach está em Brasília! Sim, o quadrinista mais aloprado e niilista, mestre da nóia e da fuleirage, vai ministrar, junto ao prolífico brasiliense Gabriel Góes, um workshop de quadrinhos. A oficina Roube Essas Mãos vai trabalhar, junto com neófitos e veteranos, técnicas, exercícios e noções sobre como processar influências externas em trampos de quadrinhos e ilustrações (aka PLÁGIO!).

Verdadeiro herói cult de zineiros e também de artistas publicados Brasil afora, Diego traz em seus quadrinhos uma estética agressiva, verdadeira metralhadora giratória, que se volta contra todo tipo de establishment e põe por terra o moralismo boçal vigente neste momento em nosso país.

Gerlach publicou em todo tipo de revista mix de quadrinhos que tenha tido alguma representatividade nas décadas de 2000 e 2010: da punk Prego, passando pela brasiliense Samba e pelo projeto inovador de Angeli e Laerte, a Baiacu. Tem, inclusive, interessantes participações na eslovena Stripburguer e na suíça Strapazin.

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O grosso de sua obra, porém, pode ser lido em seus zines Know-Haole, minuciosamente elaborados à mão e depois fotocopiados e vendidos em distribuição centralizada pelo próprio autor. Ele prefere manter sua produção assim, sem grandes alardes, resistindo fora da maratona de publicações dos quadrinistas brasileiros da atualidade. Nas histórias, somos apresentados a uma grotesca fauna de degenerados, escroques, zé-ruelas, punks, psicopatas e aberrações.

O autor está em Brasília desde o último sábado (9/6), quando realizou o lançamento de vários de seus materiais na novíssima loja Cosmos Criativo, na 714 Norte. Desde então, Gerlach e Góes têm estado todos os dias desenhando dentro da loja (com visitações abertas), como espécie de ensaio para a parceria na oficina.

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Se eu pudesse destacar apenas um dos impagáveis quadrinhos de Gerlach, ficaria com o recente Nóia – Uma História de Vingança, em que uns quadrinistas perdedores e ex-punks são atacados por um terrorista com cara de Cebolinha e camisa da CBF (o “Real Cordeiro de Chumbo”). Impulsionado por traumas e moralismos, ele quer limpar a nação de certo “lixo” das ruas e sai por aí barbarizando. Foi publicado pela Vibe Tronxa (selo de Gerla) junto com o ótimo Escória Comix.

O estilo de Gerlach, que aqui mistura influências de um primeiro Angeli, com indie comics torto, Crumb e até mangá, está em um de seus melhores momentos. A história esconde um escarro anti-status quo (além de muita autoironia e paródia) em cada pequeno detalhe na saga desse cidadão lesado e amargurado.

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Confira entrevista com Gerla:

Hoje, no Brasil, há uma oferta de publicações, por algumas editoras, de quadrinhos de luxo, com capa dura, romances gráficos, etc. Você está no meio desta cena, mas continua publicando zines. Seria falta de oportunidades ou uma opção mais artística e ideológica?
Um pouco de cada. É muito prático poder concluir a história e logo publicá-la. Eu também gosto de divulgar em diferentes estágios de produção. Antecipar, controlar isso, gerar uma sincronia entre as minhas expectativas e o que será a recepção do público. Nas editoras, o trabalho sai um pouco das suas mãos.

Essa atitude com a distribuição do seu trabalho e o apelo ao “do it yourself” tem a ver com uma estética punk que podemos identificar em seus quadrinhos. Qual a sua relação com a cultura punk?
Venho de São Leopoldo, polo industrial a 30 Km de Porto Alegre, um tanto quanto decaída, mas que já foi a segunda cidade na região. Ela já teve uma vida cultural mais rica. Quando comecei com os quadrinhos, no início dos anos 2000, tinha bastante atividade de bandas e aquela mistura dos últimos zines impressos com o começo dos e-zines. Eu fiz parte desta cena. Acho que essa fixação era meio osmótica. Cresci vendo desenhos dos anos 1980, histórias de Frank Miller com punks caricatos, vilões de Desejo de Matar etc. Sempre achei isso uma ótima fonte de humor. Quando comecei a ser associado a essa cultura, estava em João Pessoa e morava com uma banda de afrobeat!

O punk está também no seu traço, que é muito original. No Brasil, hoje, temos algumas tendências de quadrinhos e a sua arte foge de qualquer parâmetro. Você se inspira muito em outros artistas ou seu estilo vem mais de uma força interna, de sua vida pessoal?
Cara, não sei. Acho que o aspecto mais rudimentar do meu traço vem da minha tentativa de retornar ao desenho mesmo. Eu fiquei muito tempo sem desenhar e, quando voltei, tinha cacoetes de desenhistas ainda com 18 anos de idade, de quem leu muito quadrinho de super-herói. Também tem uma coisa meio art brut de estudante de artes fake (risos).

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Como será o workshop?
A oficina Roube Essas Mãos foi inspirada em uma fala de Jack Kirby, que dizia ter o ímpeto de querer fazer imagens já feitas por outras pessoas. É o lampejo inicial do artista: “Queria ter desenhado isso”. Ele dizia ser um impulso legítimo: um sujeito é professor de outro sujeito. Então criamos uma série de exercícios para alavancar algum tipo de processo criativo baseado no plágio, em ilustrações já existentes. Em alguns casos, vamos retrabalhar apenas o texto de histórias prontas e, em outros, vamos copiar e dar um norte ao processo criativo a partir de quadros existentes e layouts.

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