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Em entrevista, Johnny Hooker fala sobre “onda rosa” e carreira

Condecorado pela ONU no projeto Livres & Iguais, músico pernambucano também abre o jogo sobre depressão e valoriza influência da mãe

atualizado

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1 de 1 0S1B2587 adobe johnny hooker - Foto: Divulgação

No dia 17 de maio, Johnny Hooker foi nomeado Campeão da Igualdade pela ONU no Brasil, através do projeto Livres & Iguais. Na ocasião, batemos um papo sobre ser artista ativista LGBT – caso não muito comum no nosso país – e o show que fará em Brasília no dia 8 de junho, que traz novas cores ao seu trabalho.

Em discurso emocionado, começou evocando a figura que o aproximou da arte e o influenciou pessoalmente. De vivência bissexual, uma batalhadora que acolheu tantos amigos durante o boom da Aids: sua mãe. Ela deu a ele as sementes do que depois se tornaria Johnny Hooker.

Rememorou o que é ser um artista nascido no Nordeste. O que enfrentou, aos 15 anos, quando subiu no palco para cantar usando batom e cabelo descolorido. E do abraço recebido de um jovem após um show. Chorando, disse que “Johnny era o artista que ele sempre sonhou que existiria quando criança. Não esqueceu os nomes de antecessores, abrindo caminhos na longa jornada pela liberdade de ser”.

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Convocou a presença de Dandara, Matheusa, Marielle e todos os mortos durante essa luta, ao mesmo tempo que exigiu a incompreensivelmente demorada criminalização da homofobia.

Esta nomeação é algo que coroa não só seu trabalho como artista, mas também a trajetória pessoal. Infelizmente, no Brasil, é mais comum vermos artistas fazendo negativas do que afirmações positivas. Sobram declarações como “não sou isso, nem aquilo”, “não me coloque rótulos” ou “não levanto bandeiras”. Muitos deles fazem uso de uma estética LGBT, mas quando saem do palco, mesmo os que são, preferem dizer que não são nada daquilo. Hooker não é um deles.

Se no palco sua influência é Bowie, Madonna e Caetano, fora dele quem o influencia é Indianara Siqueira, fundadora da Casa Nem, no Rio de Janeiro. Ser um ídolo é ter responsabilidade com o seu posicionamento ante o público. Quando o artista se assume como minoria, converge arte e política – na realidade, são indissociáveis desde a origem.

Ao longo da carreira, Johnny teve que decidir como seria sua imagem. À medida que se vai subindo os degraus da fama, maiores são as pressões para você não ser tão pintoso, ser mais discreto ou evitar se declarar como algo diferente. Nesse ponto, Hooker tornou-se um exemplo para os artistas de como não se deixar levar pelas pressões. A questão pode ser definida da seguinte forma: decidir entre decepcionar uma sociedade que não te aceita, ou decepcionar aquele garoto que chora na sua frente e, como você, já se sentiu sozinho por ser visto como diferente.

Falando do seu trabalho, mais alguém reparou que Johnny, na capa da regravação de Beija Flor, está usando uma camisa rosa? Durante nosso papo, ele também estava usando um blazer rosa! Quando perguntei se isso era o prenúncio de uma nova fase, ele me contou que anda numa “onda rosa”. Acabou descobrindo que, no candomblé, a cor rosa significa, entre outras coisas, perdão.

O perdão que você dá a si mesmo e aos outros. Do disco Coração para cá, Johnny enfrentou a pior depressão da sua vida, segundo ele mesmo. Para piorar, foi no período em que o país passou pelos piores momentos da crise política. A sensação era de que ele e o Brasil caíram da cama ao mesmo tempo.

Todo mundo lembra que fossa é o maior tema das músicas de Johnny. Por isso, ouvi-lo falar de perdão soa como um farol apontando uma nova direção (artística e pessoal). Parece que depois de fazer check-in no chão, por causa da lapada que o nos boy deu, ou pelo PT na balada, chegou a hora de se levantar.

O show do dia 8 vai ser uma jornada da resistência à renovação da esperança. Lembrando que um show de Johnny Hooker é mais do que deslumbre musical e visual. É também um posicionamento afirmativo de que rumo você quer para sua sociedade e seu país. Afinal, ele luta do nosso lado.

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