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Cuidei dos meus enteados como se fossem meus filhos

Unir-se a alguém com uma história não é fácil. Se não tem amor, se não existir uma verdadeira vontade de dar certo, não funciona

atualizado

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Kácio Pacheco/Metrópoles
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1 de 1 mae - Foto: Kácio Pacheco/Metrópoles

Hoje em dia, temos vários formatos de família. Não é raro se apaixonar por pessoas com filhos de outros relacionamentos. Unir-se a alguém com uma história não é fácil. Quando se decide investir nesse tipo de relação, é necessário entender que o amor e a dedicação devem incluir aquelas pessoas que são parte da vida e da trajetória do seu parceiro ou parceira. É um “pacote”, não tem como separar.

Quando me casei, já existiam cinco filhos com idade entre 16 e 1 ano. Eu tinha apenas 22 anos e apesar de jovem, nunca parei pra pensar que seria um problema na minha vida. Eu apenas me dediquei. De corpo, alma e coração.

Não entendia muito o espanto das pessoas por eu estar ali, com aquela idade, criando tantos meninos. Eu estava tão envolvida, achava tudo normal… Sentia um prazer enorme em fazer a vida deles funcionarem. Tinham culturas e hábitos diferentes. Cada um com sua individualidade e personalidade. As mães não moravam no Brasil. E eu estava disposta a fazer tudo dar certo.

Sempre tive um instinto maternal bem forte. Ainda morando com minha mãe, solteira e no auge da juventude, minha sobrinha e afilhada, hoje com 28 anos e grávida de sua primeira filha, veio morar conosco. Minha irmã, recém-separada, estava de volta a Brasília e Nathalia tinha apenas 1 ano. Eu deixava de sair à noite com meus amigos para ficar com ela. Era realmente uma realização.

Sempre tive uma boa rotatividade de crianças em casa. Os que moravam com as mães, vinham passar férias conosco e os que moravam em Brasília, ficavam com as mães quando não estavam em período escolar. Dava bronca quando necessário, cobrava resultado da escola, cuidava quando estavam doentes, mas também amei como se fossem meus filhos, sofri junto com os problemas de cada época da vida deles. Aprendi, acertei e errei muito também.

Kácio Pacheco/Metrópoles

A intenção sempre foi a melhor. A minha preocupação era genuína. Respeitei e valorizei cada momento da vida deles. Eu me sentia mãe! Uma vez, certa pessoa me vendo tão envolvida com eles, me disse: “Muito lindo esse seu sentimento, mas não se iluda, eles não são seus filhos”. Foi um banho de água fria, mas depois fui entendendo que por mais que eu me dedicasse, e independentemente do meu sentimento por eles, eu não seria a mãe deles e me coloquei no meu lugar: o de “boadrasta”.

Ser responsável pela vida de uma criança que não é seu filho não é tarefa fácil. Tem responsabilidade, mas não tem autonomia. A palavra final sempre é da mãe ou do pai. É o correto. E sempre agi assim. Se algo dava errado, eu me cobrava por não ter prestado mais atenção. Por isso, ficava sempre agoniada com quedas, doenças e acidentes. E olha, não foram poucos…

Depois de cinco anos de casada tive meu primeiro filho, Pedro, hoje com 19 anos. Dois anos e meio depois veio o Marco. Meus enteados me ensinaram a ser mãe. Fiz um treinamento intensivo! Hoje devo muito ao convívio que tive com os filhos do Nelson. Atualmente, duas “netas” postiças moram comigo e eu adoro tê-las em casa. Elas, junto com os meus filhos e enteados, são minha alegria. Gosto da casa cheia, com histórias para contar, conselhos pra dar e coisas a aprender.

Olhando pra trás, vejo que o mais importante foi o amor dedicado a eles. Se não tem amor, se não existir uma verdadeira vontade de dar certo, não funciona. Entender que os filhos são parte da pessoa que você escolheu para dividir a sua vida, é fundamental para as coisas se ajeitarem e assim um lar seja construído. Gargalhadas, brigas, sorrisos e muito amor.

Somos uma família numerosa, pouco convencional, mas somos felizes. Hoje fico feliz com a relação que tenho com cada um dos meus enteados. Faço parte da vida deles e eles da minha. Temos respeito, carinho e um bem-querer enorme. Fiz o meu melhor. E fico com sensação de missão cumprida.

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