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Overdose de sexo em 2024? Especialista repercute teoria de epidemiologista

Psicólogo e especialista em sexualidade opina sobre previsão de “sexo, sacrilégios e gastança” desenfreados pós-pandemia

atualizado

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Foto: Jonathan Knowles/Getty Images
Overdose de sexo
1 de 1 Overdose de sexo - Foto: Foto: Jonathan Knowles/Getty Images

Se teve uma coisa que 2020 trouxe para as pessoas, principalmente nos primeiros meses da pandemia, foi privação. Ainda em 2021, mesmo com a flexibilização, muita gente ainda não se sente 100% livre ou confortável para fazer certas coisas. Com isso, uma das áreas mais afetadas da vida humana foi a sexualidade.

Seja pelo “tesão acumulado” que assolou solteiros mundo afora ou pela hiperconvivência forçada de casais que acabou deixando muita libido no chão, a verdade é que a maioria das pessoas não se realizou sexualmente no ano passado.

Por conta disso, o epidemiologista social Nicholas Christakis, da Universidade de Yale, nos EUA, fez a previsão de que o mundo passará por uma “overdose de sexo, sacrilégios e gastança”. De acordo com o especialista, o comportamento será uma resposta ao fim da pandemia e pode ser comparado ao período liberal de 1920, que foi consequência da gripe espanhola em 1918.

“Durante as epidemias, aumenta a religiosidade, as pessoas se tornam mais abstêmias, economizam dinheiro, ficam avessas ao risco (…) As pessoas buscarão implacavelmente as interações sociais”, explicou Nicholas em entrevista ao The Guardian.

A previsão de Nicholas, apesar de ser para daqui a três anos, já vai ao encontro com pesquisas comportamentais mais recentes. Como citado no Dia do Sexo pela coluna Pouca Vergonha, um levantamento feito pelo site de relacionamentos Sexlog aponta um aumento significativo no interesse dos usuários por fetiches mais intensos, como o gangbang.

O gangbang consiste em um sexo grupal no qual, em um cenário com necessariamente mais de três pessoas, apenas uma delas é penetrada por todas as outras durante todo o ato. Enquanto apenas 7,1% dos entrevistados afirmaram já ter realizado o fetiche antes da pandemia, 18,7% disseram querer praticar depois da vacina. Ou seja, o interesse mais que dobra.

Depende

Ainda que logo após períodos de reclusão ocorra uma busca pela recuperação acelerada das práticas e uma consequente “sede ao pote” ao querer compensar o tempo perdido, essa reação vai depender do perfil de cada pessoa.

De acordo com Marcos Santos, psicólogo e especialista em sexualidade humana do Sexo Sem Dúvida, cada indivíduo lida de um jeito às adversidades. Seja a pessoa negacionista ou desesperada em relação à pandemia, sua resposta à retomada das atividades vai seguir a mesma linha.

“Os negacionistas não permitiram que a pandemia os privasse de seus prazeres, logo, continuarão suas vidas sem grandes mudanças. Os desesperados realmente podem se lançar no mundo das experiências de modo compensatório, e fariam o mesmo com outras necessidades, como se empanturrar após uma privação de comida”, explica.

O terapeuta pontua então que, caso haja uma overdose pós-pandemia, ela não será exclusivamente sexual, mas sim de novas experiências com a presença de outras pessoas. “Não será uma busca por sexo louco e desvairado, nem tanto o aumento dos comportamentos de risco, mas sim uma busca de contato”, afirma Marcos.

“O golpe tá aí, cai quem quer”

Em meio às especulações da overdose de sexo, cresce também a preocupação com questões de saúde, como as transmissões de doenças e infecções sexualmente transmissíveis.

Mas os comportamentos de risco que levam à contaminação já aconteciam com frequência alta antes de surgir o novo coronavírus. Logo, Marcos não credita à corrida de retomada das atividades uma possível onda de contaminação, mas sim à falta de informação combinada com despreocupação.

“Segundo a Organização Mundial da Saúde, 94% dos brasileiros sabe que a camisinha é a melhor forma de prevenção às ISTs e ao HIV. Mesmo assim, 45% da população sexualmente ativa não usa preservativo nas relações casuais. Por esse motivo, cerca de 2,5% da população brasileira sexualmente ativa já foi contaminada em alguma ocasião por alguma IST. Isso representa aproximadamente 5 milhões de brasileiros”, diz.

Viver intensamente a sexualidade?

Para finalizar, o psicólogo levanta o questionamento sobre o que seria, afinal, “viver intensamente” a sexualidade. Quando a maior parte das pessoas pensa no conceito, a imagem mental que se segue é repleta de extravagâncias, milhares de parcerias, loucuras sexuais e o Kama Sutra de cabo a rabo.

Contudo, Marcos afirma que, para os especialistas em comportamento, viver intensamente o sexo tem a ver com a maneira de realizá-lo e de valorizar as coisas que são importantes na transa para cada pessoa.

“A intensidade da vivência depende do significado que cada um de nós dá a ela. Ter fantasias e pensar em estratégias para realizá-las já é uma das fases do viver intensamente. Sentir que está aproveitando com segurança o que de melhor o sexo pode oferecer também inclui o envolvimento e o compromisso que cada pessoa tem com a própria existência”, explica.

Nesse sentido, o viver o sexo passando por todas as experiências de forma indiscriminada, sem reflexão e correndo riscos desnecessários gera mais ansiedade. É um prazer momentâneo, que quando deixa de fazer efeito, leva a pessoa ao mesmo lugar de antes.

“Escolher viver com mais qualidade e menos quantidade de parcerias sexuais nesta volta à “normalidade” pode ser um bom filtro para recuperação da afetividade que também nos faz falta no isolamento”, finaliza.

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