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Ícone da moda, Cleuza Ferreira conta sua trajetória com a Magrella

No aniversário de Brasília, homenageio Cleuza Ferreira, personalidade que fala de sua história em uma entrevista exclusiva. Vem comigo!

atualizado

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Bruno Pimentel
Brasília (DF), 08/02/2018 Closet de Cleuza Ferreira Local: SHIS
1 de 1 Brasília (DF), 08/02/2018 Closet de Cleuza Ferreira Local: SHIS - Foto: Bruno Pimentel

No aniversário de Brasília (21/4), nada mais justo do que homenagear Cleuza Ferreira, pioneira da moda e símbolo de bom gosto na capital federal. Proprietária da Magrella, a empresária, respeitada por estilistas famosos, é considerada um exemplo a ser seguido quando se fala em mercado de luxo. O caminho do sucesso foi construído pela paixão por roupas, tecidos e texturas, além de muita determinação, visão e trabalho.

A principal inspiração para os negócios veio da mãe, uma pessoa simples, de família muito humilde, que bordava e fazia enxovais de noiva para criar os filhos. Tendo esse referencial materno, Cleuza se lembra vividamente de, aos 3 anos, brincar com tecidos e colocá-los tom sobre tom.

Da infância até hoje, ela ganhou notoriedade nacional. Atualmente, comanda não apenas a renomada loja, como também sua própria marca, há três anos – com direito a ponto no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Dona de uma personalidade ímpar, a empresária se orgulha de sua história e traz emoção para o nosso bate-papo, realizado em sua casa, decorada harmoniosamente e que reflete seu estilo elegante.

Cleuza Ferreira é alguém à frente do tempo – pelo menos, à frente do nosso tempo!

Vem comigo saber mais!

Bruno Pimentel/Metrópoles

“Eu acho que multimarcas jamais serão ultrapassadas e não sairão de moda. Elas têm diversidade, você não sai vestida de cima a baixo com uma grife só. Esse é o diferencial: poder misturar peças totalmente diferentes que ficam muito boas juntas. Sempre tive esse dom de mesclar estilistas e cores, de montar uma arara, fazer uma vitrine e vestir uma pessoa”, confessa a empreendedora.

Cleuza Ferreira é pioneira quando falamos em empoderamento feminino. O cabelo está sempre curto e moderno. Nas roupas, gosta de um toque de cor. Vemos uma paleta alegre na saia rodada, que veste tão belamente junto à sua clássica camisa branca, no turquesa dos brincos ou na estampa do lenço amarrado no pescoço. Ela se apresenta com um look contemporâneo e atemporal. É a Carolina Herrera da capital.

Tinha 10 anos quando a família se mudou para Brasília, em 1958, antes de a cidade ser inaugurada. A única loja de tecidos daqui na época, chamada Casas Pernambucanas, atraiu o olhar de Cleuza. “Era uma coisa fascinante! Lá, a gente encontrava chita, um tecido pobre de linha, mas com as estampas mais bonitas do mundo, bem florais. Foi a primeira vez que sonhei em ter uma loja de tecidos”, relembra.

Bruno Pimentel/Metrópoles

Quando iniciou os estudos na Universidade de Brasília, em 1966, percebeu a escassez de roupas descoladas. Cleuza relembra que, na época, só existia um estabelecimento especializado, o qual vendia peças vindas do Rio de Janeiro. “Mas eram todas detonadas. Mesmo assim, comprei um jeans para mim, combinei com uma camiseta e determinei que aquele seria o meu uniforme durante as aulas”, conta.

Para complementar o guarda-roupa, a empresária comprava tecido listrado ou xadrez, e sua mãe fazia camisas para ela ir à faculdade. Foi nesse momento que a estudante descobriu a chance de começar a empreender. Decidiu vender camisetas personalizadas: amarrava as peças, jogava pigmentos de diferentes cores e as fervia, técnica conhecida como tie-dye.

A demanda foi crescendo, assim como a vontade de inovar. Na década de 1960, ao contrário de atualmente, não era tão fácil se locomover para outros estados e cidades. Mesmo assim, a empresária ia de ônibus ao Rio de Janeiro para comprar tecidos e, então, começou a criar – e até mesmo modernizar peças já existentes, como no caso dos cintos. Os produtos eram expostos na casa dos pais, mas, após um tempo, Cleuza decidiu vender seu carro, um antigo Fusca, para montar sua primeira loja, em 1969.

Bruno Pimentel/Metrópoles

A Milonga foi inaugurada na 103/104 Sul e vendia roupas de marcas do Rio de Janeiro e São Paulo, como Maria Bonita e Mr. Wonderful. Em seguida, a boutique transferiu-se para o Conjunto Nacional, o primeiro shopping da cidade, já com o novo nome: Magrella.

A ideia surgiu a partir do biótipo de Cleuza. Por ser muito magra na época, tinha dificuldades em encontrar roupas na numeração ideal. “Mulher tinha curvas, né? Cintura fina, quadril, bumbum. Eu era o oposto. Era um nicho que precisava ser preenchido”, relembra.

Inicialmente, as peças eram vendidas somente nos tamanhos 36 e 38, mas, com o passar do tempo, a loja ficou conhecida e outras medidas tornaram-se pedidos comuns entre as clientes. “Começamos com 40, fomos para 42, 44 e, hoje, temos até o 46.”

Atualmente, a multimarcas reconhecida como a mais tradicional de Brasília ocupa os 2 mil metros quadrados de uma casa de três andares na região mais nobre do Distrito Federal. Com vista para o Lago Paranoá, oferece moda feminina e masculina, lingerie, joalheria e também uma linha especialmente dedicada a artigos para casa.

Cristiano Sérgio/Divulgação/Magrella

Divulgação/Magrella

Entre as grifes nacionais encontradas na loja, estão peças de Ricardo Almeida, Le Lis Blanc e Gloria Coelho e, entre as internacionais, Givenchy, Céline, Saint Laurent e Valentino. Para a empresária, estabelecimentos como a Magrella possibilitam um estilo único.

Em 2013, Cleuza decidiu expandir o negócio e criou a própria marca. A proposta da label Magrella é guiada por um estilo jovem e fresh, com apelo versátil e muito fácil de usar. A ideia democrática e ampla guia as apostas em busca de shapes e estampas exclusivas.

Divulgação/Magrella Divulgação/Magrella

A equipe de estilo conta com Martha Queiroz, diretora de criação, e Juana Ferreira, filha de Cleuza. A herdeira da Magrella consolida a etiqueta com peças feitas para serem usadas no dia a dia e que podem se estender a ocasiões mais especiais. Além disso, os negócios da família também têm o dedo do filho caçula da empresária, Fabrício Ferreira, responsável pela parte financeira.

Juntos, eles somam à força empresarial da capital, sempre com os olhos focados na qualidade extrema, seguindo os padrões já exigidos há anos pela multimarca brasiliense.

Bruno Pimentel/Metrópoles

 

Quer saber mais segredos e confissões dessa empresária de sucesso? Então, acompanhe a entrevista que fiz com ela:

Você sempre gostou de moda?
Sempre gostei por causa da minha mãe. Ela nos criou bordando e fazendo enxovais de noiva. Era uma pessoa extremamente ligada ao belo, passava tudo isso para mim e para as pessoas que conviveram com ela. Passeávamos por lojas de tecidos e eu ficava apaixonada. Sentia a mesma coisa ao entrar em um armarinho.

Depois disso, comecei a trabalhar na Editora Abril, no Setor Comercial. Fazia camisetas pintadas, todas manchadas, numa técnica conhecida como tie-dye. Você amarrava o tecido, fervia e, quando abria, era uma coisa totalmente inusitada.

Arquivo Pessoal

Quais foram as primeiras marcas que vocês trouxeram para a Magrella?
Marco Ricca, George Henry e Gregório Faganello. Todos morreram, daqui a pouco sou eu! A gente não tem muito tempo para ficar pensando na nossa vida… E outra coisa: todas as pessoas que começaram comigo e tiveram grandes lojas em Belo Horizonte e São Paulo fecharam as portas.

Você vendia até Clodovil, né?
Fui atrás do Clodovil, bati na porta dele. Engraçado isso, né? Sempre bati, sempre quis. Até hoje eu vou, sou curiosa, falo: “Vamos lá, Juana”. Aí eu vejo uma, duas coisas e digo: “Vai ser legal à beça!” (risos).

Arquivo Pessoal

 

 

Como é trabalhar em família, com seus filhos?
Os meninos começaram a trabalhar muito cedo, tanto a Juana quanto o Fabrício. Primeiro, na parte de estoque; depois, na área de balanço e inventário. Eles também ficavam muito na loja em épocas de movimento alto, como Dia dos Namorados e Dia das Mães. Eu não podia ficar com eles e também não podia deixá-los, então os carregava comigo. Faziam pacotes e entregavam os presentes.

Instagram/Reprodução

 

Qual é a importância da Magrella para a moda contemporânea?
Já representei todos os tipos de franquias. Um período maravilhoso. A gente teve Fórum, Triton, Maria Bonita, Armani. Fomos os primeiros franqueados da Zoomp e da Company. Todas me deram prazer, mas a Magrella é um mundo. Ela tem diversas marcas dentro de um universo único, que inclui sua própria marca autoral. E isso é muito bom.

Você é conhecida por oferecer um lifestyle próprio aos seus clientes. Conte um pouco sobre isso.
Adoro o inusitado. Não gosto de preto, por exemplo, não sou uma pessoa que fica bem nesse tom. Mas, quando quero apostar nesse look, pego um sapato da Juana supercolorido e misturo com uma bolsa Gucci estampada. E o resultado é superbacana, entendeu? Acho que faço isso muito bem. Faço para mim, para os clientes e para a loja. Em uma multimarca, é possível montar um guarda-roupa com mais facilidade. Duas clientes podem comprar as mesmas peças e terem estilos completamente diferentes.

Como isso pode ser colocado em prática na cliente Magrella?
Dá para mostrar o trabalho do Reinaldo Lourenço e, ao mesmo tempo, colocar algo da Patrícia Vieira e o trabalho da Amissima. E nisso você vai misturando. Uma roupa extremamente simples, com um preço muito mais barato e que combina com outras coisas por cima. Adoro fazer isso.

Felipe Menezes/Bruno Pimentel/Metrópoles

O hábito de consumo ao longo dos anos, especificamente dos brasilienses, mudou muito?
Tudo na vida muda. Já tive várias formas de comercializar. Mas a gente tem um lado permanente: as mulheres de Brasília trabalham. Elas têm o próprio salário e gostam de comprar. Essa é a nossa grande cliente.

Vendemos também, por meio do Instagram, para todo o Centro-Oeste, Rio de Janeiro, Belém, Manaus, Goiânia e Fortaleza. E temos clientes que vêm a Brasília exclusivamente fazer um pequeno enxoval. Passam o dia na loja, a gente sempre tem champanhe, sanduíche e salada. No fim do dia, voltam para a terra natal.

O país está passando por momentos difíceis, com 49 anos de loja nunca vi nada igual. As clientes sabem da crise e, por isso, administram as compras para não se sentirem tão culpadas. Fazem um high-low: uma peça mais cara misturada com itens mais baratos. Assim, levam um volume maior por um preço mais acessível.

Felipe Menezes/Metrópoles

No dia a dia, você se considera uma pessoa prática?
Muito. Sabe uma coisa que eu faria muito bem? A mala das pessoas. Vejo mulheres reclamando antes de viajar, mas para mim é tão simples. Monto duas malinhas pequeninas da Louis Vuitton para passar 12 dias na Europa vendo desfile.

Sempre te vejo com golas, muito preto e branco e acessórios coloridos. Mas fica aqui uma curiosidade: como você definiria o seu estilo?
O meu armário é pequeno. Gosto de comprar, mas me desfaço de tudo com muita facilidade, não tenho apego a roupas. Saio pouco, vou a pouquíssimos lugares, mas trabalho arrumada. Não posso dizer que sou clássica, porque tenho 72 anos. Uso muito brinco, pulseira, cor e ombro a ombro. Não coloco o braço de fora desde os 38 anos de idade. Então, sou um casual, um pouco mais arrojado e, vamos dizer, sofisticado também. Misturo algodão com uma joia bacana. Sou muito ligada a acessórios e adoro listras.

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Tem cores favoritas?
Não vivo sem cor. Adoro branco. Não gosto de preto. Só durmo de camisola branca. É engraçado isso. A roupa de cama também é toda branca. Muitas pessoas sonham em conhecer o meu armário. Eu moro sozinha e, hoje em dia, só tenho três suítes. Eram quatro, desmanchei uma e fiz um quarto maior. Então, não tenho um closet que valha a pena fotografar.

Instagram/Reprodução

Quais são os principais diferenciais que fazem a Magrella ter esse sucesso com as clientes?
Queremos praticidade e conforto para o cliente. Temos masculino, feminino e casa. Tem sempre um pot-pourri de coisas novas da cidade.

Deve ser difícil para uma mulher ser dona de seu próprio negócio por quase 50 anos. Qual é o segredo que fez você ter perdurado tanto tempo?
Tive loja por prazer. Mas, evidentemente, em primeiro lugar, fiz isso para me sustentar e ter aquilo que tinha vontade. Sempre quis poder comprar todos os livros que desejava e tive vontade de viajar. Isso me foi proporcionado por meio do trabalho. Depois, lutei muito para ter filhos. Perdi três bebês antes da Juana. Então, posso dizer: tive grandes sonhos a minha vida inteira. Hoje, trabalho com o belo, vivo com o prazer e tenho o necessário, além da sorte de ter comigo pessoas competentes.

 

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