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Morde e assopra. Chefe de gabinete de Rollemberg anuncia pelo Facebook sua saída entre elogios e críticas

Rômulo Neves diz que estará mais à vontade para apontar “eventuais discordâncias” com decisões tomadas

atualizado

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1 de 1 romuloface - Foto: Reprodução/Facebook

O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) vai perder o seu chefe de gabinete. Em um longo desabafo publicado nesta quinta-feira (4/2) no Facebook, Rômulo Neves, titular do cargo, anunciou que vai deixar a equipe do Palácio do Buriti depois do carnaval. Entre elogios e alfinetadas, diz que cumpriu sua parte no governo desde a transição, mas que saindo se sentirá à vontade para “apontar publicamente eventuais discordâncias com as decisões tomadas pelo, apontando alternativas e críticas construtivas.”

O ainda assessor de Rollemberg chama especial atenção para as áreas de Saúde e de Mobilidade. “Mais do que nunca, o governo precisará de coragem e criatividade para tomar medidas concretas para o encaminhamento desses problemas. Medidas que contrariam interesses de agentes políticos históricos na cidade e que deverão enfrentar resistência de parte da população, canalizadas pela atividade parlamentar”.

Ele ainda criticou os órgãos de controle, “já que, muitas vezes, politizam questões para as quais as soluções devem ser mediadas e não impostas”. Sobrou, também, para o sistema prisional, a questão dos resíduos sólidos, o sistema socioeducativo e a grilagem de terras, problemas não enfrentados pelo GDF.

Diplomata, Rômulo anunciou a sua saída do PSB, que para ele desde a morte de Eduardo Campos não é mais o mesmo, e a filiação à Rede. Já antecipou, inclusive “que, se tudo correr bem, farei campanha para a senadora Marina Silva para presidente em 2018”.

Leia o desabafo na íntegra:

“Devo deixar o Governo logo depois do Carnaval, depois de 400 dias de intenso trabalho na sala em frente à estátua de Rômulo e Remo, no Palácio do Buriti, à frente da Chefia de Gabinete do Governador, além do período de dois meses de transição no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, no qual a média diária de trabalho foi de 16 horas, sete dias por semana. Ainda na transição, pude receber e conversar com centenas de pessoas que acreditaram no novo Governo eleito e prestaram informações valiosíssimas não apenas sobre o funcionamento da máquina governamental, mas também sobre os problemas da ponta, em diversas áreas, como Saúde, Mobilidade, Regularização Fundiária, Limpeza Urbana, Educação, Desenvolvimento Econômico e Habitação. Foram os dois meses mais didáticos da minha carreira profissional. Foi um mergulho profundo nos problemas do DF e em suas possíveis soluções, que me habilitou a fornecer ao Governador informações detalhadas, bem como sugestões de políticas, durante o período em que estive no Buriti.

Minha saída do Governo foi fruto de uma decisão amadurecida, considerando que foi tomada ainda em julho do ano passado. Naquele momento, entretanto, o Governo atravessava seu momento mais delicado, com várias incertezas ainda na pauta. Minha permanência por mais seis meses deveu-se à compreensão de que minha saída poderia prejudicar os esforços conjuntos para a superação daquela fase inicial, muito adversa. Hoje, porém, o Governo está mais equilibrado. Há muito o que se fazer, é certo, mas muitos dos riscos que enfrentávamos foram superados. Parto com a sensação de que minha contribuição está completa. Saio com o sentimento de dever cumprido. Não se trata de rompimento com o Governo, tampouco com o Governador, a quem deverei seguir apoiando, a partir de agora de outra perspectiva, em outra posição.

Devo, muito provavelmente, voltar às minhas atividades no Ministério das Relações Exteriores, meu órgão de origem, bem como voltar a lecionar, agora no curso de Relações Internacionais, do Uniceub. Ambas as funções muito me honram e me dão prazer. Deverei, também, retomar os estudos do doutorado, eventualmente em Economia, ou mesmo voltar ao doutorado em Sociologia. Em termos pessoais, espero ter tempo, finalmente, para lançar um livreto de poesias engavetado há anos, fazer uma exposição de fotos, cuja seleção sempre adio, e, eventualmente, ampliar a família, preferencialmente por meio da adoção.

Além de minhas atividades profissionais cotidianas e de meus interesses pessoais, devo voltar a participar do debate sobre as políticas públicas de interesse de nossa cidade de maneira mais ativa e autônoma. Minha posição no Governo limitou muito minha disponibilidade de participar do debate público, seja por falta de tempo hábil para escrever sobre os temas conjunturais e cotidianos, seja pelo limitação natural imposta pelo cargo. Diferentemente de outras estruturas governamentais, a política de comunicação do Governo não ficou na alçada do Gabinete, o que acarretou certo distanciamento do debate público, mesmo participando ativamente dos debates internos sobre os rumos do Governo. Esse período na Chefia de Gabinete também limitou muito minha possibilidade de receber e ouvir as pessoas, a fim de compreender os detalhes dos problemas dos cidadãos, ainda que eu tenha realizado um grande esforço de receber a todos que me procuraram, bem como responder as demandas que a mim chegaram nesse período. O cotidiano do Gabinete é, entretanto, por vezes, massacrante.

Uma vez afastado do Governo, além de poder atuar em frentes de meu interesse específico, incluindo uma atuação mais direta no âmbito da sociedade civil, poderei defender publicamente as medidas governamentais acertadas – a grande maioria – sem correr o risco de ser acusado de chapa branca, de fazê-lo porque faço parte da estrutura. Do mesmo modo, terei liberdade de apontar publicamente eventuais discordâncias com as decisões tomadas pelo Governo, apontando alternativas e críticas construtivas. Devo dizer que, em algumas áreas, o Governo foi exemplar. Destaco o tremendo e exitoso esforço das Secretarias do Planejamento e da Fazenda, de recuperar, ao menos em parte, a capacidade financeira do Estado. Lembremos que em outros Estados, onde os Governadores iniciaram seus mandatos em situação muito melhor do que a encontrada no DF deverão, em 2016, atrasar salários, fantasma que o GDF deverá conseguir se manter afastado, caso prossiga no processo de austeridade e racionalização das finanças.

Devo registrar também que algumas áreas já apresentaram avanços e deverão seguir com resultados bastante satisfatórios, com destaque para a Educação e a Segurança Pública, que, mesmo com a crise orçamentária em curso, atingiram bons números – os índices de aprovação dos alunos das escolas públicas nos exames vestibulares e a diminuição do número de homicídios são alguns exemplos. Apesar dos eventos recentes de barbárie, que causaram comoção na opinião pública, há melhoras consideráveis nos índices de violência na cidade, que deverão melhorar ainda mais com o Programa Viva Brasília.

Algumas áreas, porém, necessitam de cuidado redobrado do Governo e um esforço mais amplo para apresentar os resultados esperados pelos cidadãos. Chamo especial atenção para as áreas de Saúde e de Mobilidade, essenciais na vida da população, especialmente daquela parte que depende dos serviços públicos. Em ambos os casos, o Governo terá de vencer entraves históricos, potencializados por problemas conjunturais. Mais do que nunca, o Governo precisará de coragem e criatividade para tomar medidas concretas para o encaminhamento desses problemas. Medidas que contrariam interesses de agentes políticos históricos na cidade e que deverão enfrentar resistência de parte da população, canalizadas pela atividade parlamentar. Os órgãos de controle também são um desafio à parte, já que, muitas vezes, politizam questões para as quais as soluções devem ser mediadas e não impostas, dada sua sensibilidade e complexidade. O sistema prisional, a questão dos resíduos sólidos, o sistema socioeducativo e a grilagem de terras são outras áreas que me causam grande preocupação e precisam receber atenção especial do Governador. A articulação política também será um desafio em 2016. Devo, em minha atuação política fora do Governo comentar em textos publicados semanalmente, várias dessas áreas.

Gostaria, também, de informar a todos sobre o meu desligamento do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Trata-se de uma decisão difícil, já que foi o único partido ao qual fui filiado e a que dediquei os últimos nove anos de militância política, cinco dos quais envolvido diretamente em sua organização estrutural e na elaboração do projeto que desembocou na vitória nas eleições de 2014. Não foi uma decisão fácil, mas resultou de uma reflexão bastante intensa e pormenorizada. Devo filiar-me à Rede Sustentabilidade, partido da base aliada do Governo, já na próxima semana.

Dentre as principais razões que me levaram a essa decisão, destaco minha esperança e profundo desejo de participar de uma estrutura partidária horizontal, descentralizada, com práticas modernas – a exemplo de consulta direta aos filiados -, com base em princípios com os quais compartilho, que valorize a discussão conceitual e programática acima dos cálculos meramente eleitorais. Não sei se a Rede conseguirá se concretizar nesses termos, mas se trata do protótipo mais próximo do que almejo. Tentarei dar minha contribuição, como a que dei no PSB, nessa direção. Trabalharei para concretizar esse sonho.

Devo dizer, ainda, que as posições adotadas pelo PSB nacionalmente contribuíram, também, para a minha decisão, já que o partido tem perdido, desde a morte de Eduardo Campos, sua consistência programática, a exemplo da falta de posicionamento claro da bancada federal frente aos temas nacionais. É difícil, atualmente, identificar claramente o direcionamento político do PSB nacionalmente, e quando consigo identificar uma tendência, não é a que almejo como ideal de partido. Novamente, não tenho garantias de que encontrarei isso na Rede, mas o indicativo é de que há maior consistência conceitual, além do fato de que, sendo um partido novo, avalio ter a possibilidade de participar dessas definições. Nesse sentido, sinto-me bastante confortável para adiantar que, se tudo correr bem, farei campanha para a Senadora Marina Silva para Presidente em 2018.

A qualidade da bancada da Rede no DF também influenciou minha decisão. São parlamentares experientes, mas abertos às arrojadas ideias da Nova Política, ainda em formação. As lideranças do partido em nossa cidade, igualmente, me inspiram muita confiança e compartilham muitos dos meus ideais políticos.

Diferentemente do informado pela imprensa, minha decisão de disputar as eleições em 2018, como candidato à Câmara Federal, não foi um fator crucial para minha saída do PSB, já que teria condições de disputar as eleições também pelo meu partido anterior. Aliás, em termos estritamente eleitorais, teria sido mais pragmático apenas deixar a Chefia de Gabinete – esta sim uma posição delicada para qualquer candidato -, ter aceitado alguma outra posição que me foi oferecida no Governo; fazer uso eleitoral da confiança em mim depositada pelo Governador; ter construído uma candidatura pelo PSB, que terá mais tempo de televisão -, do que partir para uma nova construção partidária. Mas eu não atuo apenas em função do utilitarismo. Preciso ter confiança no projeto político, para poder trabalhar com o estímulo necessário. É no projeto apresentado pela Rede que recuperei esse estímulo. Na verdade, é até em função dessa minha característica que grande parte de meus parceiros e aliados continuam me dando credibilidade. Eles sabem que qualquer projeto em que eu estiver envolvido, estarei limpo, de corpo e alma.

Aproveito para agradecer a cada um de vocês que têm acompanhado a minha atuação política, aos que tive o prazer e a honra de dialogar, àqueles, como o próprio Governador, com quem tive a oportunidade de trabalhar, e, especialmente, àqueles que seguem acreditando em mim, independentemente de onde eu estiver. A única coisa que prometo é agir sempre em função de uma visão de mundo, de uma ideia de sociedade mais justa e mais democrática, de uma política mais ética e, de uma atuação governamental consequente e eficiente. Nada disso é fácil, mas tudo isso é extremamente necessário. Muito obrigado pelo apoio.”

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