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Marielle foi morta por aqueles que defendia?

Quando uma pessoa luta pelos Direitos Humanos, ela luta pelos direitos de todos, independentemente do que fizeram em suas vidas

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Marielle Franco
1 de 1 Marielle Franco - Foto: Ninja

O desconsolo pela morte de alguém tão inspiradora quanto a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, executada na semana passada, só me é menor que a dor de ver tanta insensibilidade de seus críticos nas redes sociais. “Morreu nas mãos daqueles que defendia”, dizem uns. “Bem feito, quem mandou defender direito de bandido?”, completam outros.

Mas, na manhã de domingo (18/3), o depoimento do coronel da reserva da Polícia Militar Robson Rodrigues da Silva pipocou reluzente em meio ao lodo de ódio nas redes sociais e me caiu como um bálsamo. A principal lembrança trazida por ele é a de que Marielle tinha apreço por policiais e suas viúvas, chegando até a criar um núcleo de atendimento destinado a elas.

Marielle também trabalhou por 10 anos dando auxílio jurídico e psicológico a familiares de policiais assassinados. Ela não queria que militares fossem usados como ferramentas do ódio e do racismo, mortos nem sofressem qualquer tipo de abuso.

Quando uma pessoa luta pelos Direitos Humanos, como Marielle, não luta exclusivamente pelos direitos de criminosos. Ela luta pelos direitos de todos os seres humanos, independentemente do que fizeram em suas vidas. E isso inclui todos os policiais, inclusive os corruptos e membros de milícias de extermínio.

Sim. Marielle, de certa forma, foi morta por aqueles por quem defendia – porque lutava por direitos de todos os humanos, sem distinção. Cometendo crimes ou não. O erro de quem ridiculariza o fato é não perceber que isso não a diminui, mas a engrandece. Mostra o gigantismo de seu espírito e da defesa dos Direitos Humanos, de ultrapassar as barreiras da vingança social.

Por sua história e seus discursos, Marielle jamais pregaria que seus assassinos fossem torturados – sejam eles policiais corruptos ou criminosos civis.

O erro, do qual a esquerda também deve fugir, é esquecer-se de que toda morte por violência é uma profunda derrota da nossa sociedade.

Os policiais mortos em vielas das favelas cariocas também merecem as nossas lágrimas, como as merecem a sua família, como merecem os negros vítimas de racismo policial, como merece Marielle.

Tenhamos o gigantismo de perguntar, vez ou outra, como ela fez, como a sociedade pode ajudar policiais a desempenharem seu trabalho de forma mais segura, mais digna e menos corrupta e violenta? Como fazer com que não sejam ferramentas do ódio racista de quem, de fato, ganha com o extermínio de pobres negros nas favelas? Como podemos olhá-los sem o mesmo determinismo julgador e cego com o qual muitos olham a favela? Como criar essa ponte de diálogo entre humanos merecedores de Direitos Humanos?

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