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A igreja é fundamental nas eleições, mas a esquerda ainda não entendeu

Tem crente querendo mudar o quadro, falando o dialeto do igrejês, e vocês estão nos violentando e menosprezando: ao menos tenham estratégia

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Gui Prímola/Metrópoles
Ilustração para coluna do Anderson França sobre a igreja e a esquerda nas eleições
1 de 1 Ilustração para coluna do Anderson França sobre a igreja e a esquerda nas eleições - Foto: Gui Prímola/Metrópoles

Acho que a esquerda precisa superar sua dificuldade ou preguiça com a religião, porque, veja bem, não somos uma Suécia. E Darcy Ribeiro dizia que era fácil fazer uma Dinamarca, onde todo mundo é branco igual, pensa igual e tem dinheiro igual.

Fazer um Brasil é difícil.
Ninguém é igual.

E quando uma esquerda “nutella”, “ciranda”, “militante de DCE”, “jovem de Twitter”, acadêmica ou universitária olha pra classe trabalhadora e a condena, vocês, dessa esquerda, estão fazendo pior que a direita e para ela abrindo caminhos.

Porque a classe trabalhadora pode ser despolitizada, desmobilizada, sem leitura crítica, mas são estes mesmos que sofrem com as políticas alienantes ou defasadas de educação, são estes que nunca vão chegar à universidade, e quando chegam, um ou outro, viram capa de jornal.

A classe trabalhadora não usa gênero neutro, não se preocupa em não ser machista, homofóbica, transfóbica, racista, ou não tem ideais veganos, utópicos, emancipadores.

A classe trabalhadora se sente ofendida e exposta quando lhes apontamos suas ignorâncias sobre um tema como se fossem falhas de caráter. A esquerda intelectualizada faz isso e oprime a classe trabalhadora.

E isso sem falar no jovem místico, que só existe na esquerda mesmo.
Que faz cara de nojo pra quem é crente, porque não acredita em Deus, mas na primeira oportunidade, diz que é Sagitário com ascendente em Peixes.

Queridos, horóscopo é a Terra Plana socialmente aceita.

A gente aceita guru indiano porque é hipster e defende sandices religiosas tão impróprias quanto o cristianismo. Democracia prescinde da existência de todo mundo. Isso, por um lado, garante o direito de existir do evangélico, e impede, por outro, que ele taque fogo em terreiro. Democracia é um negócio engenhoso, jovem.

E o principal voto no Brasil é da mulher negra e parda, pobre, trabalhadora, mãe e com fé em alguma coisa. Geralmente, católica ou neopentecostal.

Daí que você diz que a ‘Bíblia não significa nada’ nos espaços de disputa narrativa, e a direita vem e papa. Não percebe que há inúmeros teólogos e políticos de esquerda que são praticantes de diversas religiões, INCLUSIVE a protestante.

Temos, enquanto protestantes, reflexões profundas sobre o mercado, a desigualdade, o poder político da igreja e pensamos que estes pensamentos combatem o que Malafaia e outros pastores propagam.

A verdade é que eu estou denunciando esses pastores há anos e vejo que as pessoas da esquerda me odeiam por isso.

Então, não venham chorar em 2023 quando Bolsonaro terminar de afundar o país e vocês se sentirem injustiçados. Porque agora tem crente querendo mudar o quadro, falando o dialeto do igrejês, e vocês estão nos violentando e menosprezando.

Tenham estratégia.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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