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Algumas leituras para quem quer tentar decifrar o enigma Brasília

É uma lista capenga, como toda lista, mas sugere importantes escritos sobre a construção da nova capital, de teses a crônicas e poemas

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1 de 1 coluna-colagem - Foto: Gui Prímola/Metrópoles

Com 60 ou 600 ou 6 mil anos, Brasília será sempre uma esfinge, a menos que se faça outra cidade sobre ela. Enigma urbano, que incomoda, assusta, apaixona – tudo em proporções altiplanas –, a capital do país inspira poetas, cronistas, romancistas, pesquisadores, cineastas, artistas plásticos, designers, todo tipo de gente que busca o sentido das coisas ou transforma o estranhamento em novo estranhamento, como bem disse, a seu modo, Clarice Lispector.

A menos de três meses dos 60 anos da cidade de Lucio e Oscar, ouso sugerir aqui alguns dos escritos que considero os mais importantes sobre a capital dos brasileiros. Com a ressalva habitual de quem se arrisca a fazer lista, sempre parciais e injustas.

  • São de Clarice os dois textos mais importantes que já se escreveu sobre Brasília. Duas crônicas feitas nas duas visitas que fez à cidade. Uma, a mais impactante e mais conhecida, “Nos primeiros começos de Brasília”, adivinha a espécie brasiliensis – “uma raça humana muito contemplativa”. A outra é “Brasília de ontem e de hoje”. As duas crônicas foram publicadas no Jornal do Brasil.
  • Para mais ou menos entender Brasília, é preciso conhecer Lucio Costa, e para conhecer o arquiteto é preciso ler “Registro de uma vivência”, autobiografia feita de recortes, lembranças, pensatas, afetos, saudades. O projeto do Plano Piloto está incluído no livro de 600 páginas.
  • Dois documentos caudalosos são fundamentais, os relatórios Cruls e Belcher. Esquadrinham o chão do lugar para que dele, não muito mais tarde, Lucio tomasse posse. Nessa mesma toada, é preciso ler “História da terra e do homem do Planalto Central”, de Paulo Bertran. A linguagem meio rebuscada esconde segredos incríveis.
  • Muito antes da construção de Brasília, esse pedaço de Goiás já tinha história. É o que se aprende lendo “Sertão Planaltino”, de Luiz Ricardo Magalhães, produção acadêmica publicada em livro.
  • Nessa linha universitária, destaca-se, também, “O capital da esperança”, de Gustavo Lins Ribeiro, que desvela a dura realidade dos operários que ergueram a cidade.
  • Livro pouco conhecido, “Brasília, o enigma da esfinge: a construção e os bastidores do poder”, de Luís Carlos Lopes, é o resumo de uma tese de doutorado. Tem fartura de dados e encadeamento de análises sobre o papel das empreiteiras e os embates políticos.
  • No campo dos testemunhos, há algumas coisas bem boas: “Diário de um candango”, de José Marques da Silva, uma espécie de Carolina de Jesus da Vila Planalto quando ainda era uma soma de acampamentos caóticos e insalubres. “Meu testemunho de Brasília”, de Manuel Mendes, traz relatos de um atento almoxarife que mais tarde viraria jornalista e escreveria o também importante “O Cerrado de casaca”, sobre a transferência do Itamaraty.
  • Primeiro cronista da nova capital, Clemente Luz reuniu textos encantados e doídos em “Invenção da cidade”.
  • Oscar Niemeyer deixou “Minha experiência em Brasília”. Juscelino, “Por que construí Brasília”. Os dois são meio ufanistas, mas, lidos a certa distância, contêm relatos importantes. Do mesmo modo, “História de Brasília”, de Ernesto Silva – tem dados e uma linha do tempo difíceis de encontrar num mesmo lugar.
  • Não dá pra não ler “A cidade modernista”, de James Holstom, um soco na boca do estômago da utopia.
  • Dois livros do jornalista Edson Beú lançam um olhar minucioso sobre a vida dos operários e de seus filhos brasilienses, “Expresso Brasília” e “Os filhos dos candangos”. “A cidade encantada”, de Ivany Neiva, recupera a memória da Vila Amaury, que foi encoberta pelo Lago Paranoá.
  • Lançado pelo Iphan, esgotado e raro, “A invenção da superquadra”, de Marcílio Mendes Ferreira e Matheus Gorovitz, esquadrinha os projetos mais significativos dos blocos residenciais das duas asas.
  • Pra quem quer conhecer Brasília e só tem tempo para uma leitura, recomendo “Brasília, antologia crítica”, organização de Alberto Xavier e Julio Katinsky. O volume reúne 65 ensaios sobre a cidade, produzidos de 1956 a 2010 – só gente fera. Mesmo quando delas se discorda, se aprende.
  • Alguns poetas que escreveram poemas inspirados em Brasília: João Cabral de Melo Neto, Joaquim Cardozo, Sophia de Mello Breyner Andresen, Sylvia Plath, Carlos Drummond de Andrade, Nicolas Behr, Ronaldo Costa Fernandes, Chico Alvim, Fernando Mendes Viana, Anderson Braga Horta. E Tom e Vinicius na letra elegíaca da “Sinfonia da Alvorada”.

 

Por certo falta muita coisa, mas já é um começo.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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