metropoles.com

Vinícola Salton adere a Pacto pela Erradicação do Trabalho Escravo

Vinícola gaúcha divulgou carta anunciando medidas tomadas após resgate de trabalhadores explorados como escravos por terceirizada

atualizado

Compartilhar notícia

Ministério do Trabalho e Emprego/Divulgação
imagem colorida de resgate de trabalhadores de exploração análoga a escravidão no Rio Grande do Sul
1 de 1 imagem colorida de resgate de trabalhadores de exploração análoga a escravidão no Rio Grande do Sul - Foto: Ministério do Trabalho e Emprego/Divulgação

A vinícola Família Salton divulgou uma carta à sociedade brasileira nesta sexta-feira (3/3) anunciando medidas tomadas pela empresa para garantir o respeito aos direitos trabalhistas em toda a sua cadeia produtiva. A vinícola enfrenta uma crise de imagem por ter envolvimento no escândalo da exploração de trabalho análogo à escravidão na colheita de uvas na Serra Gaúcha.

A Salton é uma das três vinícolas que tinha contrato de terceirização com uma empresa acusada de manter trabalhadores em condições desumanas e puni-los com ameaças e violência física. Em sua maioria oriundos da Bahia, 208 trabalhadores foram resgatados na semana passada em uma operação coordenada por vários órgãos federais.

“Não adotamos e nem adotaremos uma posição omissa. De imediato, tomamos medidas internas que dizem respeito à melhoria do trabalho em toda a nossa cadeia produtiva”, diz a carta divulgada pela Família Salton.

Entre as medidas anunciadas, está a “revisão de todos os processos de seleção e contratação de fornecedores, com implantação de critérios mais rigorosos e que coíbam qualquer tipo de violação aos dispositivos legais, incluindo direitos humanos e trabalhistas”.

A empresa também anunciou que está aderindo ao Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, uma iniciativa da qual participam centenas de empresas, incluindo algumas das maiores do país, e que tem o objetivo de orientar o setor empresarial sobre o respeito aos direitos trabalhistas em toda a cadeia produtiva, incluindo a relação com empresas parceiras.

0

Em outro trecho da carta (veja íntegra abaixo), a Salton não cita diretamente o caso do vereador gaúcho que desqualificou as operações de combate ao trabalho escravo e ainda sugeriu que as empresas da região contratassem argentinos ao invés de baianos, mas expressou “repúdio a todas e quaisquer declarações que não promovem a pacificação social”.

Controle de danos

Mais cedo, nesta sexta, outra vinícola envolvida no escândalo divulgou uma carta aberta à sociedade brasileira, a Aurora. A empresa pediu desculpas e se disse envergonhada com o caso.

“Os recentes acontecimentos envolvendo nossa relação com a empresa Fênix nos envergonham profundamente. Envergonham e enfurecem. Aprendemos com aqueles que vieram antes que, sem trabalho, nada seríamos. O trabalho é sagrado. Trair esse princípio seria trair a nossa história e trair a nós mesmos. Entretanto, ainda que de forma involuntária, sentimos como se fora isso que fizemos”, diz a carta da Aurora.

Os mais de 200 trabalhadores em situação análoga à escravidão trabalhavam para a terceirizada Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda e foram resgatados em 23 de fevereiro nos municípios de Nova Roma do Sul, Caxias do Sul, Flores da Cunha e Bento Gonçalves, todos no Rio Grande do Sul. Além da Aurora e da Salton, a Fênix contratou a vinícola Cooperativa Garibaldi.

Como denunciar o trabalho escravo

Denúncias de trabalho análogo à escravidão podem ser feitas de forma anônima no Sistema Ipê, do Ministério do Trabalho em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Veja a íntegra da carta divulgada pela Família Salton:

“Em meio às notícias divulgadas, recentemente, sobre casos de trabalho análogo à escravidão na região de Bento Gonçalves (RS), nós, líderes da Vinícola Salton, nos expressamos, publicamente, para esclarecer os fatos que envolvem o nome da nossa empresa.

Em primeiro lugar, a Salton repudia, veementemente, qualquer ato de violação dos direitos humanos e expressa, também, seu repúdio a todas e quaisquer declarações que não promovem a pacificação social.

Não adotamos e nem adotaremos uma posição omissa. De imediato, tomamos medidas internas que dizem respeito à melhoria do trabalho em toda nossa cadeia produtiva. Podemos listar ações que estão sendo intensificadas e outras que serão desempenhadas com a urgência que a gravidade do tema demanda:

Revisão de todos os processos de seleção e contratação de fornecedores, com implantação de critérios mais rigorosos e que coíbam qualquer tipo de violação aos dispositivos legais, incluindo direitos humanos e trabalhistas;
Estruturação de um cronograma para a realização de auditoria sobre práticas trabalhistas junto aos fornecedores e prestadores de serviços de forma recorrente e sistematizada;
Contratação de auditoria independente externa para certificar as práticas de responsabilidade social;
Ampliação e divulgação de nossos canais de denúncia e ampla disseminação de nossos códigos de conduta e ética em nossa cadeia produtiva;
Adesão ao Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo.

Adotaremos, ainda, medidas complementares a partir de novas recomendações de entidades públicas, privadas e órgãos fiscalizadores.

Para melhor elucidar o contexto dos acontecimentos, esclarecemos que o período de safra da uva é dinâmico, exigindo, por vezes, contratações urgentes para um curto período. Este ano, no mês de fevereiro, precisamos recorrer à contratação terceirizada de 14 profissionais para a descarga de caminhões de uva.

Ao tomarmos ciência do gravíssimo resgate ocorrido nas dependências da empresa prestadora de serviço, suspendemos imediatamente o contrato de trabalho. Além disso, em total colaboração com o Ministério Público do Trabalho, fizemos depósitos para o pagamento do fornecedor, visando a garantia das verbas rescisórias e retorno dos trabalhadores a seus lares.

Somos uma empresa de 112 anos, cujo legado foi construído por milhares de trabalhadores que sempre foram tratados com respeito e lealdade. Acreditamos na sustentabilidade e na valorização das relações humanas como premissa de negócio.

Em nome da transparência e integridade, há anos, disponibilizamos para todos os públicos nosso Canal de Ética (www.contatoseguro.com.br/familiasalton, 0800 800 4545 ou pelo aplicativo) para receber denúncias, anônimas ou não, para averiguar qualquer tipo de conduta que não esteja de acordo com os nossos valores ou com as leis vigentes.

A Salton segue colaborando com as autoridades e reforçou o seu compromisso, solidariedade e colaboração junto ao Ministério Público do Trabalho. Reiteramos nossos valores sociais e éticos e nosso compromisso de trabalhar, incessantemente, na melhoria contínua e na implementação de ações para que ocorrências lastimáveis como esta não se repitam.

Atenciosamente,

Família Salton.”

Compartilhar notícia