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Suspensão do Censo compromete investimentos públicos e privados

Sem a contagem da população, decisões são baseadas em estimativas feitas pelo IBGE, que não refletem fielmente a realidade

atualizado

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IBGE/Divulgação
Censo do IBGE
1 de 1 Censo do IBGE - Foto: IBGE/Divulgação

Com a nova suspensão do Censo 2021, empresários e agentes públicos brasileiros vão precisar usar, por pelo menos mais um ano, as estimativas populacionais feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Baseada em parte nas dinâmicas de comportamento observadas nas últimas contagens, o cálculo define entre cada Censo a quantidade oficial de habitantes presente em cada município e unidade da Federação.

Apesar de todos os esforços do órgão, é impossível evitar que a estimativa tenha erros na comparação com a realidade. Isso porque não há como o IBGE saber, por exemplo, se a dinâmica migratória de determinada cidade mudou por conta do fechamento de uma fábrica.

O problema pode ficar ainda maior por conta dos novos cortes orçamentários que podem inviabilizar um Censo também em 2022. Com isso, o Brasil corre o risco de sofrer um apagão de dados.

Uma forma de demonstrar esse erro é comparar a estimativa feita pelo IBGE em 2009 com a população contada no Censo de 2010. Em 2009, o cálculo do IBGE apontava 1 milhão a mais de pessoas no Brasil do que foi verificado na contagem de 2010. O gráfico a seguir mostra a variação entre os dois anos por UF.

A realização do Censo estava inicialmente prevista para 2020, mas foi postergada para este ano por conta da pandemia de Covid-19. Entretanto, o Orçamento de 2021 aprovado pelo Congresso Nacional retirou as verbas destinadas a realização da contagem populacional, inviabilizando-o.

O professor de geografia da Universidade de Brasília (UnB) Fernando Sobrinho aponta que a falta de informações recentes e, portanto, mais precisas, impacta tanto o setor público quanto o privado. “Corremos o risco de ter um apagão de dados no Brasil”, resumiu.

O impacto mais direto é nos repasses de recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e dos Municípios (FPM) que, entre outros, usa a população como critério para definir quanto vai para cada localidade. Assim, quanto mais distante do último Censo, mais distorcida é a informação. No ano passado, o FPM repassou R$ 869 bilhões enquanto o FPE distribuiu outros R$ 770 bilhões.

“Nós fazemos planejamento em cima de dados. É fundamental ter informações precisas para dar suporte a um processo complexo que é organizar e projetar o futuro”, apontou Sobrinho. Um exemplo utilizado por ele é o cálculo dos grupos prioritários para a vacinação contra a Covid-19.

“No DF, por exemplo, a fila de vacinação é organizada a partir das faixas etárias coletada em dados do Censo. Os técnicos da Secretaria de Saúde sabem quantos por cento da população está entre 66 e 67 consultando esse banco de informações”, explicou.

A iniciativa privada também usa o Censo para planejar investimentos. “Eles precisam de dados para organizar suas ações.  Não posso criar cenários totalmente deslocados da realidade”, disse Sobrinho.

De acordo com o professor, o Censo foi postergado apenas duas vezes desde que Getúlio Vargas convencionou que a pesquisa seria realizada nos anos terminados em zero — como era o caso de 2020. A primeira aconteceu em 1940 por conta da Segunda Guerra Mundial e a última em 1990 devido aos problemas orçamentários do governo federal no início da gestão do ex-presidente Fernando Collor.

“Em 2020, a dificuldade de execução da pesquisa ficou por conta da pandemia, não se resumiu apenas à ordem orçamentária”, avaliou. Para o professor,  é complicado pedir ao recenseador sair em campo, bater na porta da casa de pessoas, sem ter recebido a vacina.

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