metropoles.com

Porteira chamada de “macaca”: “Aquela cena não sai da minha cabeça”

Ela foi vítima de xingamentos e ameaças proferidas por um morador de um prédio de luxo de Goiânia. “Desejo que ele responda por isso”, diz

atualizado

Compartilhar notícia

Vinícius Schmidt/Metrópoles
porteira vítima de injúria racial em goiânia, goiás
1 de 1 porteira vítima de injúria racial em goiânia, goiás - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Goiânia – A porteira de um prédio de luxo de Goiânia que foi chamada de “macaca” e “chimpanzé” por um morador  raivoso na tarde de domingo (18/4) disse nesta terça-feira (20/4), após nova ida à delegacia para assinar os papéis do depoimento, que ainda está com medo e com dificuldades para dormir à noite.

“É como se não tivesse passado ainda. Aquela cena não vai sair da minha cabeça tão cedo. (O medo) não passou ainda. Ainda não estou dormindo bem à noite. Ainda não estou bem”, revelou ela, que ainda não conseguiu retornar ao trabalho.

Parte da situação foi registrada em vídeo pela própria porteira, que tem 35 anos. O morador, identificado como Vinícius Pereira da Silva, aparece nas imagens chamando-a de “macaca”, “chimpanzé” e “chipanga”. A Polícia Civil apura o caso e deixou uma intimação no apartamento dele para que ele compareça na delegacia.

Veja o vídeo:

“Eu desejo que ele responda pelo o que aconteceu”, disse a porteira nesta terça. Até esta manhã, o morador ainda não havia comparecido ao 8º Distrito Policial de Goiânia. O delegado Gil Bathaus é quem está à frente do caso, que vem sendo tratado como injúria racial e ameaça.

Porteira cumpriu regra de segurança

A administração do prédio, Residencial M Times, que fica no Jardim Goiás, bairro nobre de Goiânia, está auxiliando a funcionária. Segundo o síndico do local, Anderson Schneider, o morador se exaltou depois que chegou no portão da garagem sem o controle e apenas piscou os faróis para que a porteira autorizasse a entrada.

O procedimento de segurança do prédio orienta que o morador, nesse tipo de situação, deve pelo menos se identificar. Insistente, Vinícius tentou várias vezes, piscando os faróis do carro, e a porteira não cedeu.

Ele ligou na portaria e a funcionária pediu que ele se identificasse por telefone. “Ele não quis e já começou a xingá-la”, conta Anderson. Em seguida, ele desceu do carro, foi até a portaria e seguiu com os xingamentos. “Macaca, você está fudida (sic)”, disse.

Ao ver que a porteira estava gravando, ele a chamou de “chimpanzé” e falou: “me encara, desgraça”. A funcionária trabalha há seis anos como porteira e atuou antes numa empresa de vigilância.

0
Moradores fazem abaixo-assinado

Os moradores do prédio, para melhor acolher a porteira, começaram a fazer nessa segunda-feira (19/4) um abaixo-assinado para que ela retorne à função. A funcionária atua por uma empresa terceirizada e chegou a cogitar pedir a transferência para outro local.

“O síndico pediu para eu ficar e disse que minha segurança lá será garantida. A empresa está me dando todo o apoio psicológico e também alguns dias para eu melhorar”, conta ela.

Anderson Schneider acompanhou a porteira na delegacia nessa segunda-feira e foi testemunha, em favor da vítima. O morador, segundo ele, é reincidente nesse tipo de conduta.

Na gestão passada do prédio, que tem apenas três anos que ficou pronto, outras situações ocorreram e o mesmo morador chegou a ameaçar a síndica.

“A gente não pode julgar todos os moradores por uma pessoa, somente. Todos os outros moradores estão do meu lado, me acompanhando”, diz a porteira.

O Metrópoles tentou localizar a defesa ou algum representante de Vinícius Pereira da Silva, mas não obteve sucesso. O espaço segue aberto.

Compartilhar notícia