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Dilma: “Só a escravidão explica a insensibilidade da elite brasileira”

Ao podcast Mano a Mano, a ex-presidente disse que não tinham como acusá-la de corrupção e usaram sua condição de mulher para o impeachment

atualizado

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André Dusek/Estadão
DILMA / MARIANA
1 de 1 DILMA / MARIANA - Foto: André Dusek/Estadão

Em entrevista ao podcast Mano a Mano, conduzido pelo músico e ativista Mano Brow, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) criticou a “insensibilidade” da classe mais alta do país com os mais pobres e comparou esse comportamento com a herança escravocrata do país. Segundo Dilma, o Brasil tem dinheiro para dar escolas de graça à população, da creche até a faculdade, mas tem uma elite que não se preocupa com o povo.

“O que eu acho mais absurdo no Brasil é a absoluta insensibilidade da elite brasileira, das oligarquias brasileiras, sejam financeiras, industriais, agrícolas, seja quem for, pelo destino de seu próprio povo. Isso é imperdoável”, disse a ex-presidente.

E completou: “Nunca vamos esquecer que um dos problemas mais graves do Brasil é a escravidão. Não só porque escravizaram nosso povo, mas porque, quem escravizou, e o fez por 300 anos, é a elite desse país. É só isso que explica a insensibilidade dela perante o seu próprio povo”.

Dilma também defendeu a revogação do chamado teto de gastos, em vigor desde o governo de Michel Temer, que impõe limite de despesas ao Estado.

“Eu acho que tem dinheiro. E tem dinheiro”, destacou a petista.

“Por mais racional e intelectualizado que você seja, a sua relação com o seu povo tem que ser uma relação emocional, afetiva. E ela tem que ser forte. Ela tem que sair de dentro de você. Você não pode ficar conformado. Eu não fico conformada”, disse.

“Não se preocupar se eles estudam ou não, se eles comem ou não, se eles tem um futuro ou não. E com as crianças principalmente, porque você tem de apostar no futuro”, destacou.

“Paiseco exportador”

A ex-presidente ainda apontou que a política de paridade de preço dos combustíveis adotada pela Petrobras fez com que o Brasil passasse a ser um “paiseco exportador de commodities” e disse que não faz nenhum sentido o presidente da República, Jair Bolsonaro, culpar a estatal pela alta dos preços da gasolina e do diesel.

“É bom lembrar que o presidente da República nomeia toda a diretoria”, disse a petista. “O governo tem a maioria do conselho de administração. Ele não manda na Petrobras?”, questionou.

“Golpe”

Dilma disse não ter pretensões eleitorais e, ao falar sobre as “pedaladas fiscais” – que serviram como base para a denúncia que levou ao seu impeachment –, disse que “adora” mencionar o assunto.

Ela considerou que esse argumento foi usado porque não havia nada que as pessoas pudessem acusá-la de corrupção, a não ser de gastar dinheiro em um projeto de inclusão social no Brasil.

“Acho que sofri impeachment porque representava um projeto diferente para o Brasil, de inclusão social”, analisou.

“Tentaram criminalizar o exercício do orçamento”, avaliou. “Havia uma certa dificuldade de me acusar de qualquer coisa”.

“Eu não quero o compromisso eleitoral porque eu quero falar as coisas que eu acredito”.

“Eu cansei de escutar ministro do Supremo, o próprio Temer dizendo que não foi bem pedalada fiscal, foi porque eu não tinha apoio político”, disse a petista. “Só que não ter apoio político no Brasil não é razão para impeachment”.

Misoginia

Dilma ainda apontou o caráter misógino do impeachment. Para ela, houve o uso de sua condição de mulher para tirá-la do governo.

“Agora, eu acho que o golpe utilizou profundamente da minha condição de mulher para criar o meio ambiente para me tirar do governo”, falou.

 

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