metropoles.com

Clube do milhão: autodoação não garante eleição de candidatos abonados

Sete dos 20 maiores doadores para suas campanhas não serão eleitos, segundo pesquisas. Sobras de dinheiro vão engordar caixa dos partidos

atualizado

Compartilhar notícia

Daniel Ferreira/Metrópoles
Notas de dinheiro – Brasília(DF), 06/10/2015
1 de 1 Notas de dinheiro – Brasília(DF), 06/10/2015 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Vinte candidatos que vão concorrer nas eleições de 2018 doaram, pelo menos, R$ 1 milhão para as próprias campanhas. Nesta lista, apenas três políticos têm chance de vitória ou de ir para o segundo turno. Outros sete caminham para ser rejeitados nas urnas em outubro. Além do presidenciável Henrique Meirelles (MDB), no “clube do milhão” estão quatro candidatos a governador, cinco ao senado e dez disputam vagas de deputado federal. Entre os mais abonados, apenas uma mulher: Paula Belmonte (PPS) que tentará uma vaga na Câmara dos Deputados.

Meirelles (MDB) foi quem mais colaborou com a própria candidatura: R$ 45 milhões, dentro do teto de R$ 70 milhões para o cargo. No entanto, ele – que é seu único doador – é apenas o 8º colocado nas consultas junto ao eleitor. Se as pesquisas retratarem a realidade das urnas, Meirelles estará fora do segundo turno mesmo com o alto investimento.

Gordas ou magras, caixa de campanhas tendem a ter prejuízo ou sobras. A diferença entre os recursos arrecadados e os gastos realizados no período eleitoral pelos candidatos, quando positiva, vai para os cofres dos partidos. Por lei, as siglas têm a liberdade de definir como vão usar esse dinheiro, seja no pleito seguinte, investindo no próprio partido ou repassá-lo a um ou mais candidatos.

“Compra de poder”
Para Alexandre Bandeira, mestre em administração pela Universidade de Brasília (UnB), especialista em política e diretor da Strattegia Consultoria, doações vultosas acabam por desenhar e influenciar a ascendência de candidatos dentro dos partidos. “Configura uma compra de poder nas siglas. Acabou por criar um time de 35 poderosos no Brasil, que são os 35 presidentes dos partidos e controladores desses recursos. Se tornou mais importante dirigir uma legenda”, assegura.

Tomando como exemplo a candidatura de Meirelles, o candidato já gastou R$ 31.001.173,21 dos R$ 45.000.000,00 disponíveis, deixando como sobra R$ 13.998.826,79. O partido, no entanto, prevê que irá consumir R$ 43.352.456,91, sobrando assim R$ 1.647.547,09 ao MDB.

No DF, Ibaneis Rocha (MDB), candidato ao governo distrital, investiu R$ 2.450.000,00. Já pagou R$1.642.075,83, sobrando, até o momento, R$ 807.924,17 ao partido. Carlos Amastha (PSB), que disputa o governo de Tocantis, doou R$1.449.822,00 para sua campanha. O político já arrecadou R$ 4.881.422,00. Caso o candidato gaste os R$ 3.607.616,65 em despesas já contratadas, ainda assim sobrará R$ 1.273.805,35 para o PSB usar como quiser.

Com chances
Abaixo de Meirelles, o segundo candidato que mais investiu em campanhas é Amastha. O colombiano doou R$ 3.649.822,00, sendo R$1.449.822,00 para ele mesmo. Nas pesquisas daquele estado, ele é o 2º na intenção de votos, com 19%, atrás de Mauro Carlesse (PHS), com 50%, conforme consulta do Ibope feita junto aos eleitores em agosto. Embora pequena, ele tem chance de provocar um segundo turno.

Outro caso emblemático é o de Ibaneis Rocha (MDB), com crescimento meteórico no Distrito Federal. O ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tirou R$ 2.450.000,00 do próprio bolso para se eleger governador. No caso dele tem funcionado o investimento. Ele figura na primeira colocação na corrida pelo Palácio do Buriti, a frente de Eliana Pedrosa (Pros): 24% contra 16% dela.

O terceiro político que tirou pelo menos R$ 1 milhão da conta para se viabilizar e com chances de ser efetivado é Ratinho Júnior (PSD). Ele concorre a governador do Paraná, ofertou R$ 1.114.400,00 para a própria corrida eleitoral e lidera as pesquisas no estado com 44% ante os 17% da segunda colocada Cida Borghetti (PP).

 

Andressa Anholete/Metro/Divulgação
Ibaneis Rocha: candidato do MDB é o segundo maior doador para própria campanha

Sem chance
Sete candidatos que depositaram valores milionários em suas campanhas tendem a não ser eleitos segundo as pesquisas. Além de Meirelles, os concorrentes ao Senado Oriovisto Guimarães (Podemos), Jarbas Vasconcelos (PV-PA), Eduardo Girão (Pros-CE), Fernando Marques (SD-DF), Jaime Bagattoli (PSL-RO) e ao governo do Rio de Janeiro Marcelo Trindade (Novo-RJ) têm desempenho tímido nas pesquisas.

Oriovisto Guimarães é o 4º nas pesquisas, com 15% de votos, e está no limite da dúvida entre conseguir ou não uma vaga. No Paraná, lideram a corrida Roberto Requião (MDB) 39% e Beto Richa (PSDB) 17%. No Ceará, Eduardo Girão (Pros) está em 3º, com 10%, atrás de Cid Gomes (PDT) 64% e Eunício 39%. Quem também está praticamente fora da corrida é Fernando Marques (SD), sétimo na corrida no DF com 3%.

O candidato do PSL ao senado por Rondônia, Jaime Bagattoli, tem 3% nas pesquisas e é o 9º colocado naquele estado. No Rio de Janeiro, Marcelo Trindade está com 2%, bem distante de Eduardo Paes (DEM) e Romário (Podemos), com 24% e 16%, respectivamente.

Na corrida contra Jader Barbalho (MDB) e Zé Geraldo (PT), Jarbas Vasconcelos (PV) tem 3%, percentual que dificilmente irá garanti-lo como senador do Pará.

Fora os competidores acima citados ao senado, governo e presidência da República, há 10 nomes para deputado federal que figuram na lista milionária. São eles:

Paula Belmonte (PPS-DF) – R$ 1.915.000,00
José Nelto (Podemos-GO) – R$ 1.637.500,00
Glaustin da Fokus (PSC-GO) – R$ 1.534.700,00
Jorge Cenci (PSB-SC) – R$ 1.518.927,52
Professor Luiz Flavio Gomes (PSB-SP) – R$ 1.290.000,00
Edenilson Rossi (PMN) – R$ 1.285.000,00
Eduardo Avallone (PRB-SP) – R$ 1.100.000,00
Pedro Leitão (PV) – R$ 1.030.000,00
Ricardo Molina (PRB) – R$ 1.025.000,00
Igor Timo (Podemos) – R$ 1.000.000,00.

* Como não há consultas junto aos eleitores em todos os estados é difícil prever as chances desses aspirantes

Arte/Metrópoles

Corrida desigual
A minirreforma eleitoral, aprovada no ano passado, alterou as regras de doação e limite de gastos das campanhas. Trata-se do Projeto de Lei da Câmara nº 110/2017. Na norma ficou estabelecido o teto para presidente da República de R$ 70 milhões; para deputado federal, R$ 2,5 milhões; e para deputado estadual e distrital, R$ 1 milhão. A campanha de governador tem seis faixas de gastos, estipulado segundo o número de eleitores, variando entre R$ 2,8 milhões e R$ 21 milhões. Postulantes ao senado podem consumir de R$ 2,5 milhões a R$ 5,6 milhões.

Com a proibição de pessoas jurídicas doarem a candidatos, foi flexibilizado a participação de pessoas físicas. Assim, aqueles que possuem boa condição econômica foram liberados para turbinar as campanhas.

Alexandre Bandeira critica a regra eleitoral. “Não estamos jogando para dentro da política aqueles atores que tem maior representatividade, e sim criando uma classe de ricos políticos”, aponta.

Considero que foi uma falha da questão eleitoral para esse ano. Tornou o jogo desigual. A justiça sempre primou e até condenou atitudes por poder de abuso econômico dentro do processo eleitoral. Só que ela acabou instituindo isso com o autofinanciamento e excluiu da massa de candidatos viáveis uma série de pessoas que não são milionárias e têm aproximação com o povo, mas sem acesso ao dinheiro do partido

Alexandre Bandeira, mestre em administração pela UnB, especialista em política e diretor da Strattegia Consultoria

Segundo Bandeira, apenas o dinheiro não é suficiente, pois quem não tem qualquer conexão com a população torna as cifras um ingrediente não funcional. Pensamento semelhante tem o pós-doutor e professor-adjunto do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília Lúcio Rennó. O especialista aponta que as eleições de 2018 têm mostrado que os recursos tradicionais da política não asseguram o sucesso.

“São importantes, mas não decisivos ou suficientes. A definição de tetos para os diferentes cargos impõe limites que tornam a competição mais intensa. Assim, um candidato que se auto financia ainda encontrará adversários competitivos com recursos próprios ou do partido”, avalia. Rennó indica ainda que o dinheiro público dos partidos está concentrado nos candidatos mais competitivos. Assim, “quem investiu em sua própria campanha não antecipou esses riscos”.

Sobre o caso específico de Ibaneis, Bandeira acredita que o candidato conseguiu fazer o “melhor dos dois mundos”. “É um novo político, que se posiciona mais ou menos como o [João] Doria (PSDB) fez em São Paulo, foi para um partido com grande máquina partidária (MDB)  e consegue se colocar em evidência com inserções na televisão”, avalia. Para o especialista, Ibaneis consegue irrigar a campanha com dinheiro que outros candidatos não têm, além de um apoio forte da sigla, consolidada no DF.

Bandeira volta a criticar a lei eleitoral, por que, segundo ele, vai “levar para dentro das casas políticas uma casta de empresários”. Para os casos em que a eleição tornou-se inviável, ele culpa o tempo de campanha. “É difícil querer formar imagem na mente do eleitor em uma campanha de 45 dias nas ruas. Na hora de fazer as contas é pouco tempo para apresentar o candidato ao eleitor”. Até a tarde de sexta-feira (28/9), o TSE computava R$240.010.581,37 em doações de recursos próprios dos candidatos.

Compartilhar notícia

Todos os direitos reservados

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?