Secretário de Bolsonaro já comparou Trump a Dilma: “Populista”
Carlos Pio já publicou um artigo contra o ídolo do presidente. Atualmente, comanda a Câmara de Comércio Exterior (Camex) na Economia
atualizado
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O apoio irrestrito do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não é novidade. Posicionamentos favoráveis ao norte-americano entraram na lista da campanha eleitoral de 2018 e permanecem em 2020, após um ano de gestão. Apesar da idolatria, Bolsonaro mantém no próprio governo Carlos Pio, secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério da Economia, crítico ferrenho de Trump.
O artigo A Cartilha de um Populista, de autoria do cientista político, foi publicado após a posse do norte-americano, em abril de 2017, com três páginas. No texto, Pio chamou Trump de “líder populista” e o comparou aos ex-presidentes petistas Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, principais adversários políticos de Bolsonaro.
Na publicação, Pio ressaltou que o norte-americano se apresenta como um “ser superior, que não aceita ser cerceado pelos seres insignificantes com os quais disputa o poder” e afirmou que, “como todo populista, menospreza as instituições democráticas de seu país, que servem justamente para frear os arroubos autoritários de quem controla o governo e as Forças Armadas”.
E completou: “Despreza o Congresso e o Judiciário, pois são independentes do governo e responsáveis por fiscalizá-lo e aprumá-lo sempre que se desviar do que diz a Constituição. E desdenha os políticos e os partidos, preferindo apostar na lealdade direta do ‘povo'”.
Pio citou ainda a revista The Economist, quando o veículo chamou Trump de “líder peronista”. “Não é mera coincidência qualquer semelhança com a retórica de Vargas, Collor, Lula e Dilma, no Brasil, de Chávez e Maduro, na Venezuela, de Rafael Corrêa, no Equador, de Perón e Evita, de Néstor e Cristina Kirchner, na Argentina, entre tantos outros”, criticou.
À frente da Camex, Pio participa da coordenação de ações do Executivo federal para assuntos referentes à política comercial e investimentos externos. Técnicos da área ouvidos pelo Metrópoles, inclusive, criticam o trabalho dele à frente do órgão, uma vez que o secretário não é economista, tampouco teria experiência em gestão pública. Os servidores citam ainda que a principal “bandeira” dele é o “ombudsman de investimentos estrangeiros”, mas alegam baixos resultados.
Quanto à economia dos EUA, Pio escreveu que o “líder populista traça um quadro repleto de injustiças, ameaças, aproveitadores e inimigos, em busca de apoio doméstico para avançar uma agenda isolacionista e confrontacionista: protecionismo comercial, desvalorizações competitivas do câmbio, decisões unilaterais nos organismos internacionais e retórica crescentemente nacionalista para mobilizar o apoio político doméstico”.
A Camex foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem. O espaço continua aberto.
Taxas de importação
No ano passado, Trump acusou o Brasil e a Argentina de desvalorizarem “maciçamente” suas moedas e disse que voltaria a cobrar taxas de importação de aço e alumínio. Entretanto, após apelo de Bolsonaro, o presidente norte-americano recuou e manteve o país isento da tarifação.
Frequentemente, Bolsonaro afirma que espera ajuda dos EUA para que o Brasil faça parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).