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Governo admite tirar estados e municípios da reforma da Previdência

Parlamentares têm demonstrado resistência em assumir sozinhos o ônus do endurecimento das regras de aposentadoria

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
agencia do INSS – 502 sul
1 de 1 agencia do INSS – 502 sul - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A equipe econômica do governo já admite que mais um item deve ficar de fora do projeto de reforma da Previdência que tramita no Congresso: a inclusão de estados e municípios na proposta. Embora considere o tema importante, pois grande parte dos servidores estaduais se aposentam mais cedo, graças a regras especiais (como para professores ou policiais), os integrantes do Ministério da Economia já receberam a sinalização de que há resistência a esse item na proposta e não farão disso um caso de vida ou morte.

A saída de estados e municípios da reforma se somaria a outros itens que o governo já admitiu abrir mão, dada a resistência dos parlamentares em aprová-los, como as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) – o auxílio a idosos em situação de miséria – e na aposentadoria dos trabalhadores rurais. Mas, diferentemente desses casos, a exclusão dos governos regionais da reforma não teria impacto nas contas – a economia de R$ 1,2 trilhão em 10 anos calculada pelo governo leva em conta apenas os gastos federais.

O impacto seria grande mesmo nas contas dos estados e municípios. E, por isso mesmo, a avaliação em Brasília é de que governadores e prefeitos precisam se engajar na defesa da reforma. Se o projeto da equipe econômica excluí-los, cada estado ou município precisará aprovar mudanças nos Legislativos locais – o que pode ser um fator de desgaste maior para esses governantes com os servidores públicos. As contas do governo são de que a reforma poderia proporcionar uma economia de R$ 350 bilhões em 10 anos para estados e municípios.

Essa resistência dos parlamentares em Brasília, em aprovar uma reforma que inclua governos estaduais e prefeituras, tem, claro, uma motivação política. Lideranças de partidos de centro e do próprio PSL, sigla do presidente Jair Bolsonaro (PSL), têm feito chegar à equipe econômica a mensagem de que não pretendem assumir o desgaste ante as bases eleitorais, para evitar que até governadores e prefeitos de oposição colham os frutos pela melhora nas contas. Alguns deputados já miram as eleições para prefeitura, em 2020, e para governo do estado, em 2022. Por isso, resistem a fortalecer potenciais candidatos de oposição.

Além disso, embora muitos governadores e prefeitos apoiem publicamente a aprovação da reforma, a visão dos parlamentares é a de que governadores de partidos de oposição têm falado contra a proposta, embora precisem dela para melhorar as contas dos estados e sobreviver politicamente.

Briga
A interlocutores, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem dito que gostaria de “consertar todo mundo”, mas demonstra também compreender a posição dos partidos de centro e indica que o governo federal não comprará a briga sozinho. A avaliação do ministro é no sentido de que cabe à oposição agir e seria um equívoco se os governadores desses partidos não partissem em defesa da reforma, pois isso resultaria em uma “destruição política”.

Ele acredita que esses governadores podem, no futuro, ser cobrados pela ausência de apoio à proposta, principalmente se os efeitos da crise ficarem ainda mais evidentes na precarização de serviços públicos.

O PT é um dos principais críticos e governa Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. Na Câmara, o partido tem se posicionado contra a proposta, mesmo diante da posição de governadores como Rui Costa (BA). Ele já defendeu a reforma mediante a revisão de pontos como aposentadoria rural e benefício assistencial, a retirada dos parâmetros da Constituição e da criação de um regime de capitalização – em que o trabalhador contribui para contas individuais.

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