metropoles.com

PF cumpre mandados no DF, SP e PR em nova fase da Operação Acrônimo

O alvo principal é Felipe Torres, sobrinho do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). Investigação apura desvio de recursos do BNDES em troca de pagamento de propina

atualizado

Compartilhar notícia

Cristina Índio do Brasil/Agência Brasil
lava jato
1 de 1 lava jato - Foto: Cristina Índio do Brasil/Agência Brasil

A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (13/9) a 7ª fase da Operação Acrônimo, que investiga um esquema de corrupção envolvendo a liberação de empréstimos do BNDES em troca de pagamento de propina para o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). Estão sendo cumpridos mandados de condução coercitiva no Distrito Federal, Paraná e São Paulo

O alvo principal é um sobrinho do governador. Felipe Torres é sócio de Pimentel numa rede do restaurante Madero, especializada em hambúrgueres gourmet, na cidade de Piracicaba (SP). Ele foi alvo de condução coercitiva. A operação foi autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em depoimento no dia 12 de maio para a delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro na sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, Bené relatou detalhes da transação. Segundo ele, naquele ano Pimentel o procurou e comentou sobre “solicitações” que vinha recebendo do sobrinho, Felipe, “sobre a necessidade de aporte financeiro” para abrir um restaurante em Piracicaba.

Bené declarou que Fernando Pimentel o incumbiu de “resolver essa demanda”. Ele disse aos investigadores que informou o então candidato ao governo de Minas que “a única quantia disponível naquela oportunidade era de cerca de R$ 800 mil transferidos pela empresa Caoa para conta da empresa Colorprint para pagamento de despesas da campanha eleitoral de 2014”.

Ajuste
Segundo o delator, o valor era referente ao “ajuste financeiro’ entre Pimentel e os acionistas da Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade e Antonio dos Santos Maciel Neto. Tal “ajuste”, afirmou Bené, era correspondente a supostos benefícios que o petista teria concedido ao grupo empresarial quando ocupava a cadeira de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do governo Dilma Rousseff.

Em relato anterior, ainda no âmbito de sua delação premiada, Bené afirmou que o Grupo Caoa repassou R$ 20 milhões para Pimentel, dos quais R$ 13 milhões teriam sido destinados à campanha e outros R$ 7 milhões pagos ao petista no exterior.

Pimentel já foi denunciado pela Procuradoria da República perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) por supostos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de receber propina da montadora de veículos Caoa para favorecê-la no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, pasta que comandou de 2011 a 2014.

O delator disse que para atender o pedido de Pimentel, entrou em contato com uma pessoa chamada Sebastião e com o sobrinho do governador para tratarem “em conjunto” do tema. Segundo ele, Felipe foi a Brasília e apresentado a Sebastião.

Bené informou que o uso do dinheiro recebido pela Colorprint foi “autorizado” para investimento no restaurante.

Ele disse que soube que, posteriormente, o sobrinho de Pimentel e Sebastião acertaram um contrato de “prestação de serviços de reforma e construção entre a Colorprint e a prestadora desses mesmos serviços ao restaurante”.

O contrato, disse o delator, foi firmado “para dar lastro” à transferência da quantia “aproximada” de R$ 800 mil. O valor, destacou, teve origem da conta da Caoa, “passou pela conta da Colorprint e custeou as reformas no restaurante”.

Defesas
Quando foram citados na delação de Bené, em junho deste ano, os investigados se manifestaram sobre o assunto. “A CAOA repele com veemência qualquer irregularidade e reafirma que jamais contratou ou pagou, no Brasil ou no exterior, qualquer pessoa ou empresa para angariar vantagens junto a qualquer agente ou órgão público. Convém esclarecer ainda que a CAOA jamais celebrou contrato ou foi tomadora de empréstimos junto ao BNDES”, disse a empresa por meio de nota.

“A CAOA participa do Programa Inovar Auto, criado pelo MDIC, junto com outras 22 montadoras. Todos os incentivos e contrapartidas assumidos pela CAOA, que estão sendo rigorosamente cumpridas, decorrem de direitos previstos em lei e foram permanente e detalhadamente examinados tanto no aspecto técnico quanto no jurídico, no âmbito do MDIC, MCTI e AGU.

Os incentivos concedidos à CAOA e as contrapartidas impostas observam estrita permissão legal, em condições permitidas a todas as demais empresas do setor automobilístico”.

“Não atende à lógica comum e ao bom senso a afirmação de que tivesse a CAOA realizado vultosos pagamentos para obter direitos reconhecidos expressamente em Lei”, finaliza a nota.

O criminalista José Roberto Batochio, defensor da Caoa, também se manifestou, dizendo que a empresa “desconhece esses fatos (sobre o restaurante no interior de São Paulo), não tem conhecimento e nega enfaticamente qualquer participação neles.”

O governador de Minas, Fernando Pimentel, defendeu-se por meio de seu advogado, Eugênio Pacelli: “A delação dessa pessoa, de conhecimento público e repercutida em doses homeopáticas, revela reiteradas mentiras e o desespero de quem está disposto a alimentar o imaginário acusatório e de prévia condenação do investigado”.

“É sempre preciso lembrar que a delação por si só não é elemento de prova e a divulgação de parte de seu suposto conteúdo, além de ilegal, o que pode invalidá-la, não tem outro sentido senão o de influenciar a opinião pública, que, quase sempre, não se interessa mais pelas explicações da defesa. O objetivo é amplamente conhecido: uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”, escreveu Pacelli.

Compartilhar notícia