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Pela 1ª vez em 10 anos, internações por falta de saneamento crescem

Dados, no entanto, apontam para uma queda em 2020

atualizado

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Arquivo/Agência Brasil
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1 de 1 saneamento_basico_arquivo_agencia_brasil - Foto: Arquivo/Agência Brasil

A falta de saneamento básico no Brasil gerou 273 mil internações em 2019, um número 12% maior em relação ao ano anterior. Essa foi a primeira vez em 10 anos que uma alta ocorreu. Em 2020, no entanto, os números preliminares tiveram uma nova queda, com 174 mil internações.

Apesar da alta em 2019, os dados representam uma queda considerável em comparação a 10 anos atrás, quando houve ao menos 600 mil internações no país. Os números são de um estudo do Instituto Trata Brasil, divulgados nesta terça-feira (5/10), pelo G1.

Segundo a pesquisa, o total de 2,7 mil óbitos significa que, em média, sete pessoas morreram por dia no Brasil em 2019 por falta de saneamento básico. Em 2020, esse número diminuiu para 1,9 mil mortes anuais, totalizando uma média de cinco mortes por dia por falta de acesso a água tratada e esgoto.

As internações são consequência de doenças que têm a água como um importante veículo de transmissão, como diarreias, malária, dengue, leptospirose, entre outras.

“As doenças mais ligadas à falta de saneamento básico provêm muitas vezes da ingestão da água imprópria, que não é potável, ou com contato com esgoto”, explica o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. “São doenças muito antigas, que existem há décadas no Brasil e que ainda continuam vivas, mesmo depois de tanto tempo e mesmo já tendo remédios consagrados.”

Do total de 2.734 mortes em 2019 pela falta de saneamento, ao menos mil ocorreram no Nordeste.

A falta de saneamento, no entanto, é mais evidente na região norte do país, onde somente 12% da população conta com coleta de esgoto. O Norte só não representa uma parcela maior no número de mortes, pois possui menos habitantes. A incidência na região, no entanto, é a mais alta, com 23 casos por 10 mil habitantes, muito acima da média nacional, de 13.

Ainda assim, o Nordeste chama atenção negativamente por uma incidência de 20 casos a cada 10 mil pessoas. No total, a região desembolsou quase R$ 43 milhões com essas internações, o equivalente a quase 40% dos gastos totais do país.

No Centro-Oeste, a taxa de internações foi de 17 por 10 mil pessoas. Já no Sul, esse número foi de nove por 10 mil pessoas.

O Sudeste teve os melhores indicadores, com sete casos a cada 10 mil. O resultado, porém, não é ideal, uma vez que o número de internações na região foi de 61 mil, mas ficou abaixo das demais por ter mais habitantes. Mesmo assim, foram R$ 28 milhões gastos em 2019 com esses casos, no Sudeste.

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Sobre o aumento nos dados referentes a 2019, os pesquisadores se mostram cautelosos. “A tendência continua sendo o indicador mais importante a ser avaliado diante dessa serie histórica e, nesse caso, precisaremos acompanhar esse comportamento nos próximos anos para ter maior clareza em relação a alguma mudança no perfil de redução”, afirma Luciano Pamplona, doutor em ciências médicas e embaixador do Instituto Trata Brasil.

Além disso, a diminuição nos dados registrados em 2020 também deve ser analisada com um olhar criterioso, segundo os pesquisadores. “Os números de 2020 certamente não poderão ser comparados com nenhum outro da série histórica, pois foi um ano completamente atípico. Por isso, nós do Trata Brasil creditamos essa redução de casos muito mais à falta de visitas aos hospitais de pessoas que adoeceram do que à melhoria de saneamento ou das condições de saúde”, diz Édison Carlos.

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