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Pai acusa shopping de racismo contra filho: “Confundido com mendigo”

O incidente, segundo o artista plástico Enio Squeff, teria ocorrido na sexta-feira (2/6), no Shopping Higienópolis, em São Paulo

atualizado

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Reprodução/Google Street View
shopping higienópolis
1 de 1 shopping higienópolis - Foto: Reprodução/Google Street View

O artista plástico Enio Squeff passeava com seu filho no Shopping Pátio Higienópolis, no centro de São Paulo, quando, segundo ele, passou por uma situação desagradável: seu filho teria sido confundido com um mendigo. A história foi relatada pelo homem no Facebook e compartilhada centenas de vezes. O incidente teria ocorrido na sexta-feira (2/6).

“Nós dois estávamos tomando chá num restaurante, conversando, e meu filho estava com o uniforme do Sion [colégio que fica próximo ao shopping], portanto não estava malvestido. Chegou uma segurança, uma senhora, dizendo: ‘Senhor, este menino está te incomodando?’. Respondi que não, e perguntei o motivo. ‘É porque temos ordens de não deixar mendigos importunarem os clientes’, ela respondeu”, narrou o artista plástico.

Enio Squeff prosseguiu no relato. “Então eu disse: ‘Você está chamando meu filho de mendigo por ser negro?’. Ela disse ‘não’, eu repeti, e ela falou ‘desculpa, essa são as ordens da casa, sou negra e tenho orgulho de ser negra’. Então eu falei: ‘Se você tem orgulho de ser negra, não deve desculpas a mim, mas a sua família e a você, porque você está assumindo um racismo dos seus patrões, não sei em nome de quê.”

O homem disse, porém, que culpa o shopping. “Ela ficou pedindo desculpas, eu disse que não tinha desculpa e ela que se desculpasse a ela mesma. Se fosse homem, iria à auditoria. Mas como ela era mulher, ela deveria ser arrimo de família. E pensei que o shopping iria mandá-la embora, como se não fosse o próprio a dar essa ordem.”

Enio afirma que “não é a primeira vez que o Shopping Higienópolis age assim”. E narra: “Uma vez, um casal de amigos negros ingleses da minha mulher foi seguido o tempo todo por seguranças lá. Aí você tem uma dimensão da coisa. Num bairro judeu, formado por uma comunidade que sofreu todas as consequências do racismo”.

Na hora, a atitude do filho, segundo Enio, foi se afastar. Depois, o menino perguntou o que havia ocorrido e o pai apenas falou que a segurança havia dito algo que ele não tinha gostado. Posteriormente, Squeff contou o caso para a mãe do filho, que resolveu transformar o incidente em um caso público. “Ela queria uma retratação pública”, disse.

Na segunda-feira (5), o shopping entrou em contato com a mãe para se desculpar. “Uma moça disse que o shopping não dava esse tipo de orientação e pediu desculpas. Mas a mãe do meu filho respondeu que não aceitava essas desculpas por telefone, que queria desculpas formais”, relembra.

Durante a conversa com a reportagem, Squeff reiterou diversas vezes que não quer que a funcionária seja demitida: “De jeito nenhum, tanto que não fui à auditoria, porque senti pena dela. Eu sabia que, cinicamente, a direção do shopping a mandaria embora, como eu acho que já devem ter feito. Eu não vou engrossar a fila de desempregados. Eu vi que ela estava cumprindo ordens”.

Defesa
Procurada, a assessoria de imprensa do centro de compras enviou uma nota por e-mail em que diz “que o Shopping Pátio Higienópolis reforça que todos os frequentadores são sempre bem-vindos, sem qualquer distinção”. A assessoria não quis informar, porém, se a segurança permanece no quadro de funcionários.

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