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Milei deve “congelar” relação argentina com governo Lula se for eleito

Candidato de ultradireita argentino, Javier Milei preocupa governo brasileiro por críticas diretas a Lula e propostas econômicas arriscadas

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1 de 1 Imagem colorida do candidato à presidência da Argentina, Javier Milei - Metrópoles - Foto: Tomas Cuesta/Getty Images

Cidadãos da Argentina vão às urnas, neste domingo (22/10), decidir quem será o novo presidente do país. O sucessor de Alberto Fernández definirá os rumos da economia, atualmente, em situação de fragilidade aguda, e das relações diplomáticas argentinas: temas de impacto também em território brasileiro.

Três candidatos de perfis bastante distintos disputam a preferência do eleitorado: o ultradireitista Javier Milei, que tem apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e com quem divide visões políticas semelhantes; o atual ministro da Economia e candidato governista, Sergio Massa; e a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich.

Entre as opções, Milei venceu as primárias e tem se destacado nas pesquisas. Diante do cenário, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), ressaltou que o governo federal vê com preocupação uma eventual eleição do direitista. Dono de retórica bélica e propostas econômicas não convencionais, no poder, o candidato da direita pode esfriar as relações diplomáticas azeitadas entre Lula e Fernández.

Especialistas consultados pelo Metrópoles avaliam, no entanto, que apesar de promessas de rompimento com o governo brasileiro e as críticas a Lula, quem Milei define como um presidente “comunista e furioso”, uma eventual vitória da direita na Argentina não representa risco eminente para a relação entre os dois países.

Eventuais embates no âmbito político, no entanto, podem impedir o avanço de agendas importantes para a política externa brasileira e a recuperação econômica argentina, que tem a gestão de Lula como aliada.

No campo diplomático, o professor de relações internacionais Pedro Feliú, da Universidade de São Paulo (USP), usou como referência o recente cenário entre Jair Bolsonaro e Fernández, de visões políticas bastante distintas, para representar como deve funcionar uma possível dinâmica Lula-Milei.

“A relação entre Brasil e Argentina é tamanha, tão bem estabelecida, que dificilmente uma rusga entre presidentes vai ter um efeito enorme”, avalia.

O Brasil é o principal parceiro econômico da Argentina, assim como o vizinho sul-americano é o terceiro país com mais impacto na balança comercial brasileira, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.

O que pode ocorrer, segundo o especialista, é uma dificuldade muito grande em avançar novas políticas, assim como propor alguma novidade no Mercosul — bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai —, ampliar a agenda de integração regional e atrasar o avanço de agendas importantes para os dois países.

“No caso do Brasil, seria difícil garantir apoio para conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). Para a Argentina, é o fim do auxílio do Brasil na reconstrução financeira e monetária do país, a partir de uma parceria estratégica que vem desde os anos 1980”, prossegue Pedro.

Outro dano que Milei poderia causar, caso seja eleito, é gerar instabilidade no âmbito do Mercosul, ao dificultar avanços nas negociações do acordo de livre comércio do bloco com a União Europeia. Tirando esse aspecto, questões estruturais impediriam impactos maiores.

Fenômeno Milei

À frente nas pesquisas, o economista e deputado Javier Milei surge como principal nome da extrema direita para se tornar o próximo presidente do país vizinho.

A atual gestão governista, exaurida por um fracasso econômico somado a escândalos de corrupção, e o anticomunismo crescente criaram um terreno fértil para a ascenção do candidato conhecido por declarações polêmicas.

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Em frangalhos, a economia vai decidir a eleição na Argentina. Consequência direta da disparada dos preços, a pobreza alcançou 40,1% da população argentina no primeiro semestre de 2023 e jogou outros 9,3% em situação de indigência. Tais números eram de 36,5% de pobres, além de 8,8% de indigentes, no mesmo período de 2022.

Reformas econômicas

Do ponto de vista econômico, o cientista político Leonardo Paz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que as críticas firmes a outros países, como Brasil, China e Estados Unidos, se limitam a retórica para conquistar o eleitorado.

Outras propostas arriscadas como dolarizar a economia, fechar o Banco Central da Argentina e romper com os demais países sul-americanos seriam barradas sem apoio no Congresso.

“Dificilmente, ele vai conseguir mudar a configuração do Congresso argentino também. A indicação é de que, se ele ganhe, o Congresso ainda vai ser tradicional. Isso vai fazer com que ele tenha uma dificuldade muito grande de fazer qualquer mudança que não passaria pelo Congresso”, destaca.

“Dado que o movimento dele é também pequeno, sem força. Não é um movimento tradicional, que tem capacidade de eleger um uma grande bancada, na qual ele consiga avanços políticos. Pelo menos isso é o que está posto hoje. A ver como ele consegue induzir as pessoas a votarem mais nos seus candidatos no Legislativo”, acrescenta Leonardo.

Em resumo, o movimento seria um “congelamento de novas iniciativas e um esfriamento de ânimos”, de acordo com o cientista político. “Uma eventual vitória do Milei faria um pouco um congelamento das relações Brasil e Argentina, no sentido não que ela vá ficar ruim, o comércio vá acabar, ou coisa parecida. Ela deve ficar congelada durante o tempo que o Lula ficar no governo”.

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