metropoles.com

Um mês no cárcere: a vida de Paulo Maluf na Papuda

Detido na “Ala de Vulneráveis” do presídio, deputado federal recebe ajuda de traficante, rejeita marmita e faz dieta de minipizza

atualizado

Compartilhar notícia

Rafaela Felicciano/Metrópoles
Paulo Maluf preso pela PF
1 de 1 Paulo Maluf preso pela PF - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

No dia em que Paulo Maluf deixou a mansão construída pela sua família no Jardim América, bairro nobre paulista, com destino à Polícia Federal, o promotor de Justiça por 17 anos Sílvio Antônio Marques disse à imprensa: “Aquela velha história do ‘rouba, mas faz’ acabou. Agora é ‘rouba, faz e vai preso’”. A frase parece resumir a trajetória do deputado federal e ex-prefeito de São Paulo que, aos 86 anos, cumpre, desde o dia 22 de dezembro, pena em regime fechado no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.

Condenado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a 7 anos, 9 meses e 10 dias de prisão, o político teve a execução imediata do cumprimento da pena determinada pelo ministro Edson Fachin em 19 de dezembro. No acórdão condenatório, a Corte Suprema do país determinou que a condenação fosse cumprida no Distrito Federal.

Na Papuda, complexo prisional notório por abrigar presos condenados por crimes de corrupção, Maluf ocupa a cela 10 da Ala B, no Bloco 5 do Centro de Detenção Provisória (CDP), a chamada “Ala de Vulneráveis”. No local, encontram-se detidos políticos, ex-policiais, idosos e sentenciados com ensino superior que podem correr riscos caso confinados com os demais internos.

A cela de cerca de 30m², construída para abrigar seis detentos, é dividida com o homem apontado como chefe da Máfia dos Concursos no Distrito Federal, Hélio Ortiz; o holandês Frank Andy Edgar Uden, preso preventivamente por tráfico de drogas, e o médico Maikow Luiz de Araújo, atrás das grades por associação com o tráfico.

“Mike”, como é chamado pelo deputado, ajuda Maluf, que se locomove com o auxílio de uma muleta, em atividades diárias, como levantar da cama e ir ao banheiro. Em troca, espera obter remissão da pena.

Veja o histórico do parlamentar: 

0


5kg a menos
No cárcere, o idoso considerado um dos políticos mais influentes do país passa o dia assistindo televisão. Pela manhã, por breve período – entre 30 minutos e uma hora –, ele desfruta do banho de sol. Maluf tem direito a quatro refeições por dia: café da manhã, almoço, jantar e lanche noturno. A marmita é quase a mesma recebida pelos outros 15,7 mil internos das unidades prisionais do Distrito Federal – as empresas fornecedoras fazem uma adaptação para os internos idosos e com problemas de saúde.

O deputado, no entanto, não se adaptou ao cardápio da Papuda: queixa-se de já ter perdido 5kg desde que chegou ao presídio brasiliense e, por vezes, prefere itens vendidos na cantina do CDP, como minipizza, refrigerante e café. A alimentação é complementada por frutas levadas pela equipe de advogados que o visita diariamente.

A mudança na alimentação somada à falta de suplementos e remédios manipulados – o presídio proíbe a entrada de medicamentos do tipo – provocou constipações e desconfortos abdominais no deputado. Por conta de uma incontinência urinária provocada por um câncer de próstata em remissão, Maluf tem recorrido, nas últimas semanas, ao uso de fraldas geriátricas.

O ex-prefeito pode receber, às quartas e quinta-feiras, visitas de familiares. Mas prefere, contudo, manter-se reservado no seu contato com conhecidos. Pelos advogados, o parlamentar comunica-se com parentes e amigos por meio de recados. No Natal, celebrado atrás das grades, uma carta escrita por um dos netos emocionou Maluf. Na mensagem, lida para o político por seus defensores, o jovem menciona sua admiração pelo avô e pede para que ele “mantenha a cabeça erguida.”

Prisão domiciliar
O estado de saúde de Maluf, assim como a sua idade avançada, tem sido usado pela equipe de defesa do parlamentar como argumento para a concessão de prisão domiciliar humanitária. Segundo os advogados, o deputado sofre de dificuldades de locomoção, problemas cardíacos e um câncer de próstata, e corre risco de vida ao cumprir pena em regime fechado.

Argumentos que o próprio político apresentou, em defesa da mudança de regime prisional, à juíza titular da Vara de Execuções Penais (VEP) do Distrito Federal, Leila Cury, e a um dos substitutos da VEP Bruno Aielo Macacari, que estiveram no complexo na última quarta-feira (17/1). Aos magistrados, Maluf reclamou da negativa em lhe fornecerem suplementos alimentares e medicamentos, fez várias ponderações sobre sua idade avançada e seus problemas crônicos de saúde. Lembrou dos “mais de 50 anos de bons serviços prestados ao Brasil” e que tem filhos, netos e bisnetos, na tentativa de convencê-los a liberá-lo para a prisão domiciliar. Não funcionou.

No dia seguinte, o próprio Bruno Macacari negou-lhe o benefício. Segundo o magistrado, “é incontroverso que o sentenciado padece de doenças graves e permanentes.” Nenhuma delas, contudo, seria suficiente para a concessão de prisão domiciliar, na avaliação do magistrado.

Em sua decisão, o juiz rebate os argumentos apresentados sobre a saúde do deputado. Segundo Macacari, Maluf não é o único detento acometido de doença grave no Distrito Federal. Em sua decisão, o magistrado chega a citar entrevista concedida pelo deputado federal ao jornalista Roberto Cabrini, do SBT, em outubro do ano passado. Na ocasião, o político afirmou, quando perguntado sobre o segredo de sua juventude: “Eu ando, no mínimo, todo dia, três quilômetros”.

Assista trecho da entrevista mencionada pelo juiz da VEP:

 

A defesa do parlamentar afirmou estar “perplexa” com a decisão. Os advogados deverão entrar com pedido de habeas corpus nos próximos dias. “Continuamos firme na convicção de que os tribunais irão rever o posicionamento do juiz, por medida de justiça e por uma questão de humanidade”, afirmou um dos defensores do deputado, Marcelo Turbay.

Retorno à Câmara
Com as derrotas sofridas na Justiça, Maluf vê diminuírem cada vez mais as chances de retomar o seu quarto mandato como deputado federal na Câmara dos Deputados. Após a determinação do STF do cumprimento de pena em regime fechado, a Presidência da Casa determinou a suspensão do salário de R$ 33,7 mil do parlamentar e o corte de benefícios como a verba para viagens e a cota indenizatória.

O deputado também perdeu 15 funcionários de seu gabinete, exonerados após decisão da Mesa Diretora da Câmara, e deverá desocupar o apartamento funcional registrado em seu nome até o fim do mês de janeiro.

Na Câmara, a decisão sobre uma eventual cassação de Maluf deverá ser retomada após o recesso parlamentar, em fevereiro. A tendência é que a Presidência questione a perda automática do mandato determinada pelo Supremo Tribunal Federal. Como precedente, o órgão deverá usar a votação que retirou o mandato de Natan Donadon (ex-PMDB-RO), em 2014.

Na época, o Supremo afirmou que caberia ao plenário da Câmara a cassação do mandato parlamentar de Donadon. O político, que havia sido inocentado em 2013 em votação secreta, foi cassado, em uma apreciação com voto aberto, por um placar de 467 votos a 0. Caso a cassação de Maluf seja levada a plenário, é necessária maioria absoluta – 257 dos 513 deputados – para que o parlamentar perca o seu cargo eletivo.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?