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Spoofing: PF buscou crimes em conduta de Glenn, mas não encontrou

Em relatório, delegado mostra que o jornalista fundador do The Intercept Brasil foi investigado e lamenta não ter podido interrogá-lo

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Glenn Greenwald na audiência pública. Brasília(DF), 25/06/2019
1 de 1 Glenn Greenwald na audiência pública. Brasília(DF), 25/06/2019 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O relatório da Polícia Federal que conclui a primeira parte das investigações da Operação Spoofing e indicia seis pessoas pela invasão de celulares de autoridades, como o do procurador Deltan Dallagnol e o do então juiz federal Sergio Moro, mostra que os policiais buscaram indícios de que o jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do site The Intercept, poderia ter cometido crimes, como incentivar a invasão ou receptar material roubado, mas não encontraram nada.

O relatório, que foi obtido pelo Metrópoles, tem 177 páginas, a maioria dedicada a explorar e denunciar a conduta criminosa dos indiciados em golpes financeiros sem conexão com o hackeamento dos celulares das autoridades.

O texto é redigido em tom de lamento pelo fato de o depoimento de Greenwald não ter sido tomado pelos policiais ao longo do inquérito. “Tendo em vista decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal (…) não foi possível obter maiores esclarecimentos junto ao jornalista sobre a forma de recebimento das mensagens, tendo em vista o reconhecimento da ‘proteção constitucional do preceito fundamental de liberdade de expressão e de imprensa (art. 5º, inciso XIV, e art. 220 da Constituição)'”, diz um trecho.

O relatório dedica cinco páginas a transcrever o conteúdo de uma conversa entre o jornalista e um dos indiciados, o hacker Luiz Henrique Molição, na qual o suspeito, segundo o documento, “busca orientações com Glenn Grenwald sobre se deveriam baixar ou não o conteúdo de contas do Telegram de outras pessoas antes da publicação das matérias [da série Vaza Jato] pelo The Intercept, tendo em vista que os investigados estariam monitorando diversas vítimas e elas poderiam apagar o conteúdo de suas contas”.

A fonte da conversa é um áudio transcrito de arquivo que foi encontrado com o suspeito e mostra o jornalista agindo de modo cuidadoso, evitando dar conselhos sobre o que os hackers devem fazer.

Veja trechos:

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O relatório registra que o jornalista diz ao hacker que “para não ser acusado de participação na invasão de dispositivos alheios e interceptação ilegal de comunicações [hackear], ele teria de provar que somente falou com a “fonte” das informações após a conclusão da ação criminosa”.

“É que com certeza eles vão tentar acusar a gente que nós participamos na, na no hack. Eles vão tentar acusar que “nós formam” parte dessa ah… tentativa de hackear. Eles vão com certeza acusar. Então para mim, mantendo as conversas, são as provas que você só falou com a gente depois você tinha tudo. Isso é muito importante para nós como jornalistas para mostrar que nossa fonte só falou com a gente depois que ele já tinha tudo”, diz o jornalista, segundo a transcrição.

Greenwald dá a entender, então, que não precisa de mais material para publicar a série jornalística Vaza Jato. “Pra vocês, nós já salvamos todos, nós já recebemos todos. Eu acho que não tem nenhum propósito, nenhum motivo para vocês manter nada, entendeu?”, diz o jornalista.

Na interpretação do diálogo, o relatório, que é assinado pelo delegado Luis Flávio Zampronha, avalia que o jornalista adotou “postura cuidadosa e distante em relação à execução das invasões”.

Veja a conclusão registrada já no final do documento.

Reprodução

O jornalista Glenn Greenwald, que sempre negou ter cometido crimes na apuração da série Vaza Jato, publicada pelo The Intercept Brasil e por veículos parceiros do site, como Folha de S.Paulo e Veja, não comentou as conclusões da PF.

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