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Juiz cobra da PF laudos que serviram de base para operação Carne Fraca

Investigação se baseou principalmente em interceptações telefônicas e depoimentos de fiscais e funcionários dos frigoríficos

atualizado

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ERNANI OGATA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO
operação carne fraca
1 de 1 operação carne fraca - Foto: ERNANI OGATA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO

O juiz Marcos Josegrei, responsável pelos desdobramentos da operação Carne Fraca no âmbito do Judiciário, determinou que a Polícia Federal apresente até esta terça-feira (21/3) os laudos que serviram de base para as ações realizadas ao longo das investigações.

A investigação, que começou há dois anos, se baseou principalmente em interceptações telefônicas e depoimentos de fiscais e funcionários de frigoríficos, que afirmam ter presenciado vários tipos de irregularidades, incluindo a má conservação de alimentos. A PF teria utilizado apenas dois laudos técnicos na operação.

Um deles é o “laudo de exame de produto”, feito na empresa Peccin, que fabrica derivados de frango, porco e embutidos em geral com a marca Italli. Segundo a PF, o laudo “comprova a impropriedade das salsichas e linguiças produzidas pela Peccin, e coletadas em estabelecimentos comerciais de Curitiba, materializando crime contra a saúde pública”. Duas unidades do frigorífico, uma em Curitiba (PR) e outra em Jaraguá do Sul (SC) foram interditadas.

Outro laudo foi feito com produtos do frigorífico Souza Ramos, que fabrica embutidos. A Polícia Federal afirma que a análise apontou que os produtos tinham formulação diversa do contrato e do próprio rótulo, “conforme exame laboratorial”. No lugar do peru, que deveria estar na composição, as salsichas eram feitas com carcaça de frango, inferior em qualidade e valor nutricional.

O juiz atendeu a um pedido feito pelo Ministério da Agricultura, que também quer ter acesso à numeração de lotes considerados suspeitos para poder fiscalizar os produtos.

Críticas
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, criticou abertamente a Operação Carne Fraca no domingo (19). Disse que houve “fantasias” e que é uma “idiotice” achar que os produtores colocariam, por exemplo, papelão em embutidos, como foi apontado pelas investigações.

Blairo reclamou ainda que o Ministério da Agricultura não foi consultado pelos policiais e declarou que os técnicos poderiam ter esclarecido pontos que foram considerados irregulares, mas que são práticas permitidas do setor. “Em função da narrativa é que se criou grande parte dos problemas que temos hoje”, afirmou.

O ministro citou um áudio sobre papelão, em que os investigadores entenderam que o material seria misturado à carne. Para ele, fica claro que os funcionários grampeados estavam falando de embalagens. “É uma idiotice. As empresas gastaram milhões de dólares para conquistar mercados, e vão misturar papelão?”, questionou.

Blairo também citou outro áudio que mostra um dono de frigorífico adquirindo carne de cabeça de porco para usar em linguiça, o que, segundo o ministro, é permitido em determinados produtos e porcentuais: “Por que não estávamos presentes para dizer que cabeça de porco pode ser utilizada ou que ácido ascórbico é vitamina C?”

A Operação Carne Fraca foi deflagrada na sexta (17) e teve como alvo o pagamento de propina a servidores públicos por alguns dos maiores frigoríficos do país. Entre eles, a BRF Brasil (que controla marcas como Sadia e Perdigão) e a JBS — que detém Friboi, Seara, Swift e cujos executivos foram presos nesta manhã.

Segundo as investigações, fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) estariam envolvidos em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular das empresas. Em troca, receberiam propina. Certificados sanitários teriam sido emitidos para alimentos que não passaram por qualquer tipo de inspeção, colocando a saúde dos consumidores em risco. (Com informações do G1)

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