Galípolo explica a Haddad em carta o estouro da inflação em 2024
Em caso de estouro do teto da meta de inflação, presidente do Banco Central (BC) precisa divulgar carta aberta ao ministro da Fazenda
atualizado
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O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, divulgou nesta sexta-feira (10/1) carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando o estouro do teto da meta da inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O que aconteceu:
- A inflação de 2024 fechou o ano em 4,83% — 0,33 ponto percentual acima do teto da meta, que era de 4,5%.
- O resultado do ano passado registrou a oitava vez que o alvo para o IPCA foi descumprido na história do sistema de metas de inflação, em vigor desde 1999.
- A meta da inflação para 2024 era de 3% com variação de 1,5 ponto percentual, sendo 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
- Em dezembro, o próprio BC admitiu o descumprimento da meta em 2024.
- No documento desta sexta, o Banco Central diz que tem tomado as devidas providências para que a inflação atinja a meta estabelecida.
- A partir de 2025, a meta será contínua. Isso significa que a inflação é apurada mês a mês e não só no fim de cada ano. Com a nova regra, se o IPCA ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses seguidos, a meta será considerada descumprida.
Galípolo atribuiu o estouro da meta no ano passado ao ritmo forte de crescimento da atividade econômica, à depreciação cambial e a fatores climáticos. No que se refere a fatores climáticos, foi citada a seca que atingiu parte do país e pressionou os preços de alimentação, em especial, de carnes e leite, em função da deterioração de pastagens, e de produtos como café e laranja.
“Portanto, a inflação envolveu uma gama ampla de fatores. No sentido contrário, destaca-se a queda do preço internacional do petróleo no segundo semestre do ano”, escreveu.
A autoridade monetária é responsável pelo controle da inflação, por meio da taxa básica de juros, a Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) a cada 45 dias.
A última vez que a inflação ficou fora do intervalo foi em 2022, levando o então presidente do BC, Roberto Campos Neto, a enviar carta no começo de 2023 para o ministro Fernando Haddad, que também preside o CMN.
Galípolo assumiu a presidência do BC em janeiro de 2025, mas exercia anteriormente a função de diretor de Política Monetária do órgão.
O que o BC fará?
Ao tratar das providências que o BC tomará para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos, o chefe da autoridade monetária frisa que o Copom retomou o ciclo de aumento da taxa de juros, com elevação de 1 ponto percentual, levando a taxa a 12,25% ao ano, e deu sinalização de ajustes da mesma magnitude nas duas próximas reuniões (em janeiro e em março).
Copom prevê mais dois “ajustes da mesma magnitude”, com Selic a 14,25%
“O Copom considerou que a magnitude da deterioração de curto e médio prazo do cenário de inflação exigia uma postura mais tempestiva para manter o firme compromisso de convergência da inflação à meta”, disse Galípolo.
De acordo com as projeções do cenário de referência do Relatório de Inflação de dezembro, a inflação ficará acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, entrando depois em trajetória de declínio, mas ainda permanecendo acima da meta (também de 3%, com 1,5 p.p. de tolerância).
As projeções de inflação acumulada em quatro trimestres são de 4,5% para 2025 (valor, portanto, igual ao limite superior do intervalo de tolerância), 4,2% para o primeiro trimestre de 2026 (portanto, inferior ao limite superior), 4,0% para o horizonte relevante de política monetária, considerado em dezembro como sendo o segundo trimestre de 2026, e 3,6% para 2026.
Veja a íntegra da carta aberta enviada por Galípolo a Haddad.
Meta contínua
No ano passado, houve mudança na sistemática da meta de inflação, que passou de ano-calendário para meta contínua, definida com três anos de antecedência. Porém, esse modelo só será efetivamente adotado a partir deste ano de 2025.
De 1999 a 2024, a meta se refere à inflação do ano-calendário. Entre 1999 e 2018, o CMN definia em junho a meta para a inflação de dois anos-calendário à frente e, entre 2019 e 2023, para três anos-calendário à frente.
A partir deste mês de janeiro, visando se adequar às melhores práticas e à experiência internacional, a meta passa a se referir à inflação acumulada em 12 meses, apurada mês a mês, conhecida como “meta contínua”.
Por exemplo, em janeiro de 2025, a inflação acumulada em 12 meses é comparada com a meta e seu intervalo de tolerância. Em fevereiro, realiza-se o mesmo procedimento, e assim por diante. Dessa forma, a verificação se desloca ao longo do tempo e não fica mais restrita ao mês de dezembro de cada ano.
Se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, ocorre o descumprimento da meta. A utilização desse período evita a caracterização de descumprimento em situações de variações temporárias na inflação.
Esse é o caso, por exemplo, de um choque em preços de alimentos que faça com que a inflação fique fora do intervalo de tolerância por apenas alguns meses.