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“Bolsonaro e Ciro trazem instabilidade”, afirma Meirelles

Mais à vontade fora do traje de ministro, ele disse estar convicto de que será o candidato do MDB à Presidência se Temer abdicar da vaga

atualizado

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO
HENRIQUE MEIRELLES/EXCLUSIVO ESPECIAL PARA EDICAO DE DOMINGO
1 de 1 HENRIQUE MEIRELLES/EXCLUSIVO ESPECIAL PARA EDICAO DE DOMINGO - Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou, em sua primeira entrevista após deixar o cargo, que a eleição deste ano traz risco de instabilidade ao País. Para ele, os candidatos de esquerda, como Ciro Gomes (PDT), e de direita, a exemplo de Jair Bolsonaro (PSL), representam um desmonte da política de reformas do governo Michel Temer.

Mais à vontade fora do traje de ministro, o ex-titular da pasta da Fazenda disse estar convicto de que será o candidato do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) à Presidência caso Temer abdique da vaga. Questionado acerca das acusações de corrupção que pairam sobre seu novo partido, afirmou não se preocupar com possíveis respingos nele devido à sua trajetória pessoal: “Nunca fui político”.

Meirelles também negou ser o “candidato do mercado”. Ele começou a montar sua equipe neste fim de semana e prepara a instalação de um gabinete na sede nacional do MDB, em Brasília, de onde vai despachar com privacidade.

O senhor fez um acordo com Temer antes de deixar o cargo?
Não revelo minhas conversas com o presidente. Tenho convicção de que, não sendo o presidente Temer, o candidato do partido serei eu. Não há possibilidade de ser outro.

Sendo Temer, o senhor será o vice?
Não. No momento não estou considerando essa possibilidade. Se o presidente Temer julgar que tem condições de ganhar a eleição, ele vai ser candidato e certamente é um projeto ótimo. Isso vai ser um julgamento, uma avaliação que eu e ele vamos fazer juntos, num primeiro momento, mas depois também conversando com o restante das lideranças do partido: quem é que tem melhores condições.

O senhor se filiou ao MDB, que tem integrantes sob investigação. Isso pode afetar sua campanha?
Não acredito que afete em nada pelo meu histórico pessoal. Não participei de nada ilícito e ilegal. É óbvio. Nunca fui político. Disputei uma eleição autofinanciada em 2002. Só. Em segundo lugar, isso é trabalho normal da Justiça. Não é só um partido. Todos os partidos estão sujeitos a terem pessoas sendo acusadas. A Justiça vai decidir se são inocentes ou não.

O senhor trabalhou para a J&F, cujos sócios, os irmãos Batista, delataram corrupção. Alguma vez percebeu algo suspeito?
Meu trabalho estava estritamente relacionado à criação e lançamento da plataforma digital do banco Original, sem relação com os outros negócios do grupo. Nunca tive conhecimento de atividade ilícita.

Nas eleições de 2002, o País viveu grande instabilidade dos mercados. Isso pode se repetir?
Acho que vai ocorrer instabilidade em 2018. Não necessariamente na mesma dimensão. Aquele nível era a incerteza política com vulnerabilidades da economia, que agudizavam o processo. Não tinha reservas, existia uma dificuldade com a dívida doméstica. Agora é o risco da volta atrás. O risco do desmonte, de desestabilização da economia, por propostas de candidatos.

Quem são eles?
Os candidatos dos extremos que estão aí. Seja Bolsonaro, seja Lula. O Ciro está propondo várias coisas radicais nesse sentido. O Bolsonaro está apresentando propostas liberais, mas tem todo um histórico de votos a favor do intervencionismo econômico. Como parlamentar, ele foi contra todas essas reformas. Temos um candidato (Ciro) que propõe desestabilizar. Ele sugere interferir no câmbio para desvalorizar, está criando instabilidade. Vai romper contratos na área de concessão de petróleo e energia, expropriar capital estrangeiro. É o que se temia do Lula em 2002 e que não fez. São candidatos que pretendem reverter parte da agenda de modernização do País implementada. São propostas que remetem ao que foi tentado no passado e fracassou.

O senhor colocaria nesse grupo o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa?
Não sei o que o Joaquim Barbosa pensa de economia.

O que diferencia o senhor do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM)?
Tenho resultado concreto para mostrar. As pessoas estão cansadas de falatório. Entramos no governo na maior recessão da história. O Brasil saiu da recessão, está crescendo, criando empregos, a inflação é a mais baixa em 20 anos. Trabalhamos uma agenda reformista que está aumentando a possibilidade de os brasileiros ganharem mais e terem uma vida melhor, dando condições, com equilíbrio das contas públicas, de o governo executar políticas mais eficientes. Ele (Alckmin) foi governador de São Paulo e, portanto, não tem um histórico de realizações de políticas nacionais.

Como o senhor vê a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de remeter para a esfera eleitoral a investigação sobre Alckmin na Lava Jato?
Defendo a investigação de todas as suspeitas, sem partidarismo. Sou contra a politização de ações judiciais.

Como fica o quadro sem Lula?
Enfraquece muito a posição do PT e torna a eleição um pouco mais aberta. Lula é o pré-candidato mais conhecido. Na medida em que ele sai, abre-se um espaço grande para os eleitores procurarem conhecer quem são os outros. Não concordo que a Justiça esteja agindo politicamente (no caso de Lula). Acho que ela está cumprindo a sua função. É um grande avanço institucional o que está sendo feito em Curitiba e nos tribunais superiores. Se o Lula não puder disputar a eleição, será pelo funcionamento do estado de direito.

Qual a diferença entre a candidatura do senhor e a de Temer?
Não sei qual seria o plano de governo e de campanha dele. Sei o que ele está fazendo e concordo, evidentemente, participo do governo. Sei qual é o meu projeto. São três eixos. Prosseguimento das reformas e da modernização da economia. Não só a reforma da Previdência, mas a tributária, uma série de questões relacionadas aos estados. Segundo, um grande avanço na qualidade dos serviços públicos à população, seja na educação, saúde, segurança e infraestrutura. O terceiro pilar é a maneira como o País funciona, o que na economia olhamos sob o ponto de vista de produtividade.

Alguns líderes regionais do MDB apoiam outros candidatos… Num partido tão enraizado, é normal que eles pensem de forma diversa. Estou organizando uma agenda de visitas aos diretórios do MDB e dirigentes.

Como o senhor vai se tornar conhecido numa campanha curta?
É curta, mas é suficiente por causa do tempo da televisão. Não preciso de muito tempo para as pessoas reagirem: este é o candidato que quero. Quando elas veem o histórico na televisão, um vídeo bem feito, mostrando cenas da vida real, seja no exterior, na presidência de um banco global, seja no Banco Central… ‘Oh, então realmente foi ele o grande responsável pela estabilidade, pela inflação baixa e pelo crescimento do Brasil naquela época, pô, bacana’. Então, muitos resumem o seguinte: ‘Ele (Meirelles) é um homem competente (…) E a partir daí foi chamado pelo Lula porque o Brasil tinha problema. Ele resolveu o problema. Aí, de novo, o Brasil estava com um problema grave. O Temer chamou, (ele) resolveu o problema’. É uma história forte. As pessoas gostam.

O senhor financiará sua campanha?
Sim. Eu posso, se julgar adequado, financiar a campanha dentro dos limites. É uma vantagem, porque não existe nenhuma suspeita de qualquer tipo de financiamento ilegal.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o “candidato do mercado” não ganhará a eleição. O senhor é o “candidato do mercado”?
Não. Sou o candidato do crescimento e do emprego e contra o atraso. O mercado funcionando bem é consequência de qualquer política econômica.

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