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“Na Argentina, uma semana é longo prazo”, diz Fabio Giambiagi

Para o economista Fabio Giambiagi, a inflação na Argentina, de quase 100% em 2022, só cairá após a posse do novo presidente, no fim de 2023

atualizado

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Divlugação
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1 de 1 imagem colorida fabio giambiagi economista - Foto: Divlugação

A inflação paira como uma ameaça sobre boa parte das economias do planeta. Na Argentina, porém, ela desembarcou na maior sem-cerimônia. Ali, em um ano, os preços subiram 88% e essa cifra pode alcançar 100%, em dezembro. Para dar uma ideia do que isso significa, basta citar que a taxa acumulada em 12 meses no Brasil está em 6,47% – e, mesmo assim, é considerada preocupante.

Para tentar conter essa disparada, Sergio Massa, ministro argentino da Economia, congelou os preços de mais de 1,7 mil produtos por 120 dias, a partir de 11 novembro. Para quem já viu mercados passarem por perrengues desse quilate, como no Plano Cruzado, em 1986, tal medida soa desanimadora. Esse é o caso do economista Fabio Giambiagi, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), no Rio.

Para ele, que é argentino naturalizado brasileiro, a solução para o surto inflacionário do país vizinho só virá com a posse de um novo presidente, em 23 de dezembro de 2023. “Até lá, o governo vai tentar administrar o dia a dia”, diz. “De fato, na Argentina, uma semana é longo prazo”, observa Giambiagi, citando uma frase atribuída ao presidente argentino, Aberto Fernández. A seguir, trechos da entrevista que o economista do FGV Ibre concedeu ao Metrópoles.

Por que os preços subiram tanto e tão rápido na Argentina?

Ali, há um problema grave. Como resultado de vários surtos inflacionários, que ocorreram seguidas vezes, existe um esquema de remarcação preventiva de preços que foi incorporado à psicologia coletiva dos argentinos. Assim, na menor ameaça, os valores sobem, são remarcados.

E o governo do presidente Aberto Fernández, do Partido Justicialista, pode resolver esse problema?

Impossível. Como resolver o problema de uma inflação de 100%, num governo que está acabando e completamente dividido. Não é realista. A solução, a meu ver, só virá depois das eleições presidenciais, que acontecem no ano que vem.

O que acontece até lá?

O governo vai tentar administrar a situação no dia a dia. Como já disse o próprio Fernández, de fato, na Argentina, uma semana é longo prazo. O que eles fazem é tentar, a cada momento, que o Banco Central ganhe reservas. E ficam pensando no que deve ser feito para que isso aconteça, de olho, abertamente, no curto prazo.

E aonde isso leva?

O objetivo, parece ser, num primeiro momento, chegar à Copa do Mundo. A própria ministra do Trabalho [Kelly Olmos] disse recentemente que era melhor vencer o torneio a combater a inflação. Depois, vem o Natal e, em 2023, as eleições.

E é possível resolver o problema em 2023?

A boa notícia é que os assessores econômicos dos candidatos estão conversando bastante entre si. Tem uma briga dos caciques por cima, mas um relativo entendimento das equipes por baixo. Menos o Javier Milei, um candidato que, no espectro ideológico, é associado ao presidente Bolsonaro. Ele quer fazer coisas como dolarizar a economia e acabar com o Banco Central. Agora, como vão resolver esse problema é uma incógnita. Até pela pressão da inflação, acredito que vão pôr em prática um plano radical para que a inflação recue rapidamente. Difícil imaginar um governo que, nessa situação, tente fazer isso de forma gradual.

Os problemas na Argentina podem contaminar a economia brasileira?

Não. Aquela situação do passado, em que um país contaminava o outro, como em 1998 e 1999, e depois, em 2001 e 2002, não é mais possível. Para o Brasil, a importância relativa da Argentina diminuiu muto até pelo destaque que a China ganhou.

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