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Dois terços dos reajustes salariais em outubro superaram a inflação

Queda da inflação e melhora do cenário econômico explicam reajustes maiores; mercado de trabalho ativo dá poder de barganha ao trabalhador

atualizado

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Dois terços dos reajustes salariais negociados em outubro no país ficaram acima da média da inflação. É o que apontam dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em seu boletim Salariômetro – Mercado de Trabalho e Negociações Coletivas, divulgado mensalmente.

De acordo com a Fipe, o reajuste médio no período foi de 8,1%, ante 7,2% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado nos últimos 12 meses. O piso salarial médio em outubro foi de R$ 1.518.

A pesquisa da Fipe analisou 283 negociações salariais que tiveram correção. A fundação indica que há uma tendência de reajustes acima da média do INPC de 2021 para 2022.

“O primeiro fator é a queda da inflação. Quando a inflação está na casa dos 10%, 12%, como chegou a ficar, a empresa não consegue repor a inflação, porque a demanda não é muito forte. Inflação alta dificilmente é resposta. Quando a inflação cai para a faixa dos 6% ou 7%, ela cria algum espaço para repor e ainda dar um pouco a mais”, explica Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e coordenador do Salariômetro da Fipe, em entrevista ao Metrópoles.

“O segundo fator é que o mercado de trabalho está mais ativo nos últimos meses. Isso favorece a negociação do lado do trabalhador. Acaba dando um pouco mais de poder de barganha para ele”, completa Zylberstajn.

Os maiores reajustes

Na análise da pesquisa por setor de atividade, o maior reajuste real no acumulado de janeiro a outubro deste ano foi registrado no segmento de joalherias (0,76 ponto percentual acima da inflação).

O segundo lugar no ranking é do setor de vigilância e segurança privada, com ganho real de 0,26 ponto percentual. A terceira colocação da lista é de confecções e vestuário, com 0,03% de reajuste real.

“As empresas de segurança privada trabalham para bancos, principalmente, e também para o setor público. Os contratos têm cláusulas automáticas de reajuste do serviço. É uma espécie de indexação. Elas sempre têm um espaço maior para aumentar o salário”, afirma Zylberstajn.

No caso das joalherias, segundo o professor da FEA-USP, o bom resultado é atribuído às melhores condições do segmento no mercado, o que permite às empresas atenderem os trabalhadores nas negociações salariais.

Prévia de novembro

O levantamento da Fipe apresentou ainda uma prévia do Salariômetro de novembro, com base em 43 acordos.

Conforme aponta a entidade, o reajuste médio deve ficar em 7,3%, com 62,8% das negociações acima da inflação medida pelo INPC.

Zylberstajn ressalta que deve haver mais “espaço para reajustes reais” em 2023, dependendo do cenário político. “Se houver condições políticas menos instáveis, é possível que essa virada no reajuste dos salários na negociação continue com esse mesmo sinal”, projeta o coordenador do Salariômetro.

Metodologia

O acompanhamento das negociações coletivas pela Fipe é realizado por meio de acordos e convenções registrados no Ministério da Economia.

A Fipe coleta os dados disponíveis no sistema, tabula e organiza os valores observados nas negociações coletivas, reúne acordos em convenções e os classifica por atividades e setores econômicos.

Criado pela Fipe, o Salariômetro disponibiliza informações e análises sobre o mercado de trabalho no Brasil. Até o fechamento do boletim, foram reunidos 43 instrumentos para o cálculo da prévia.

O boletim da Fipe inclui todos os acordos e convenções com início de vigência até o mês anterior, assim como resultados preliminares do mês corrente.

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