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Dois anos de Pix: como os grandes bancos fizeram do limão uma limonada

Quando o Pix foi lançado, em 2020, muito se especulava sobre o impacto da ferramenta nas receitas bancárias geradas por TED e DOC

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Celular com aplicativo do Pix aberto - Metrópoles
1 de 1 Celular com aplicativo do Pix aberto - Metrópoles - Foto: Reprodução

Lançado em novembro de 2020, o Pix prometia ser uma grande revolução para o setor financeiro brasileiro. Prometia e foi. A ferramenta de pagamentos e transferências criada pelo Banco Central já é o meio de operação mais utilizado do país, e alcança mais de dois terços da população economicamente ativa.

Não há dúvidas quanto aos benefícios para os brasileiros, mas restava saber, ainda, qual seria o impacto do Pix na arrecadação dos bancos. A ferramenta se sobressaiu em relação às transferências por TED e DOC – não só por funcionar 24 horas por dia e 7 dias por semana, mas também por ser gratuita.

A questão ficou em evidência durante a campanha política, quando o presidente Jair Bolsonaro alegou que os bancos estariam apoiando seu opositor – o agora presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva –, pois teriam perdido “muito dinheiro” com o Pix, criado durante sua gestão. Apesar da alegação do mandatário, a ferramenta foi implementada por técnicos do BC, não pelo governo.

Dois anos depois, a resposta para a pergunta parece ter surgido: os bancos fizeram do limão do Pix uma limonada. Os balanços divulgados pelas instituições financeiras mostram que as receitas com serviços de conta corrente (que refletem, entre outras coisas, a arrecadação com operações de TED e DOC) mudaram muito pouco desde 2020.

O faturamento com serviços de conta corrente caiu 5% no 3º trimestre de 2022 em relação ao mesmo período de 2020, último trimestre antes do lançamento do Pix. Por outro lado, as receitas totais com serviços aumentaram quase 10% na janela de dois anos, o que mostra que os bancos se reinventaram para compensar as perdas.

“Claro que essa receita poderia ter crescido mais em ambiente mais favorável, mas o ponto é que os bancos têm conseguido compensar as perdas”, disse Renan Manda, analista-chefe do setor financeiro da XP. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles apontam duas explicações possíveis.

Crédito de sobra

A primeira foi a busca pelo aumento de receitas em outras frentes, sobretudo na concessão de empréstimos, principal máquina de dinheiro para os bancos. A segunda foi a transformação do Pix em uma nova avenida de crescimento, com novos produtos e serviços relacionados à plataforma.

“A atividade de crédito é muitíssimo mais lucrativa do que a de prestação de serviços. Se estivéssemos falando de um país com taxas de juros baixas, como os Estados Unidos, seria diferente; mas, no Brasil, que tem juros muito altos, o Pix não gera tanta preocupação, porque os bancos continuam ganhando dinheiro com empréstimos”, explicou Luis Miguel Santacreu, analista da agência classificadora de risco Austin Rating.

Em 2022, as carteiras de crédito dos maiores bancos devem crescer 14%, índice acima da inflação projetada para o ano, de 5%.

“Os bancos aproveitaram o aumento dos juros para recompor margens e reduzir a pressão da competição dos bancos digitais. Mas, na minha opinião, eles deveriam ter usado esse ‘respiro’ para buscar eficiência”, defendeu João Bragança, sócio da consultoria Roland Berger.

Ele lembra que a perspectiva é de juros estáveis ao longo de todo o ano que vem e, conforme as taxas se acomodarem, as margens dos grandes bancos vão voltar a ser espremidas pela competição com os bancos menores. É aí, diz ele, que o lançamento de produtos e serviços melhores e o corte de custos vão fazer diferença.

Novos serviços

Outro aspecto fundamental para tornar o Pix um aliado foi buscar formas de usar a plataforma gratuita para gerar receitas. Os bancos têm estimulado, por exemplo, que os clientes troquem os pagamentos por boletos pelas transações instantâneas.

“O custo operacional do Pix é menor para as instituições financeiras, porque os boletos têm custo de emissão e, muitas vezes, não são pagos. Além disso, as empresas que disponibilizam o Pix como forma de pagamento para seus clientes repassam aos bancos uma taxa por cada transação”, disse Santacreu, da Austin Rating.

Por fim, alguns bancos uniram o útil ao agradável e fizeram o Pix dar as mãos para o crédito pessoal. O Santander lançou, no ano passado, o Pix parcelado: o cliente faz uma transferência de determinado valor e paga o todo em parcelas, com o acréscimo de juros, é claro. A modalidade nada mais é do que um empréstimo pessoal, e com taxas bem mais salgadas.

Bragança, da Roland Berger, diz que a exploração do Pix pelos bancos foi tímida, e ainda há espaço para aproveitar o mundo de possibilidades oferecido pela plataforma de pagamentos e transações do Banco Central, como na quitação de contas de consumo e em duplicatas, por exemplo. Para quem conseguir unir inovação às facilidades da ferramenta, o céu é o limite.

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