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Após fiasco da “caixa-preta”, BNDES voltará a custear obras no exterior

Em 2020, foi aberta a “caixa-preta do BNDES”, que não encontrou indícios de irregularidades em obras feitas em Cuba e Venezuela

atualizado

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Fotos: Ricardo Stuckert
Lula e Fernández
1 de 1 Lula e Fernández - Foto: Fotos: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltará a financiar projetos de países vizinhos. A declaração de Lula se une à “caixa-preta do BNDES”, uma extensa auditoria feita em 2020 que não encontrou irregularidades no banco relacionadas a Cuba.

O BNDES contratou auditores para analisar negócios feitos entre o banco e as empresas do grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, mas não encontrou irregularidades. O relatório contém oito páginas e custou R$ 48 milhões — valor divulgado pela instituição à época.

A “caixa-preta do BNDES” era uma das promessas de campanha do então candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PL), em 2018. O objetivo era encontrar irregularidades em empréstimos destinados a países “comunistas”, como Cuba e Venezuela.

Entretanto, apesar de não haver indícios de fraudes ou irregularidades, a fala também leva ao polêmico Porto de Mariel, em Cuba. Gustavo Montezano, ex-presidente do BNDES durante a gestão Bolsonaro, afirmou em entrevista ao Canal Livre, da TV Bandeirantes, neste ano, que a construção do porto não acarretou em prejuízo ao banco, mas salientou que o Brasil recebeu charutos como garantia do empréstimo feito a Cuba.

Segundo Montezano, a garantia em charutos é uma sinalização de que a ilha não teria condições de honrar a dívida da construção do porto, que está em quase US$ 1 bilhão. “Então, dentro do banco, nada foi encontrado de irregular. Muito pelo contrário, constata-se que essas operações a Cuba, por exemplo, estavam respaldadas em amparos legais, infralegais, e o banco teve zero prejuízo. Por quê? Quem garantiu o empréstimo foi o Tesouro Nacional, todos nós, a sociedade brasileira. Esse empréstimo, que, hoje, tem uma inadimplência, no caso de Cuba, de quase US$ 1 bilhão, de US$ 700 milhões, salvo engano, tinha charutos em garantia”, explicou Montezano.

Já Lula, que agora conta uma auditoria para corroborar a segurança jurídica das operações realizadas às nações vizinhas, deverá iniciar o retorno dos financiamentos externos na Argentina, como sinalizou o presidente. “A Argentina é, em toda a América Latina, o principal parceiro comercial do Brasil. A Argentina e Brasil tinham um comércio maior do que Brasil e Itália, maior do que Brasil e Inglaterra, maior do que Brasil e França, maior do que Brasil e Rússia, maior do que Brasil e Índia”, afirmou.

O país vizinho é o maior parceiro comercial do Brasil na América Latina, e o terceiro, no mundo.

“Faz exatamente quatro anos que o BDNES não empresta dinheiro para desenvolvimento, porque todo o dinheiro do BNDES é voltado para o Tesouro que quer receber o empréstimo que foi feito. Então, o Brasil também parou de crescer, o Brasil parou de se desenvolver e o Brasil parou de compartilhar a possibilidade de crescimento com outros países”, completou o petista.

Gasoduto de Vaca Muerta

Na segunda-feira (23/1), Lula afirmou que há interesse na conclusão da rede de tubulação para transporte de gás natural argentino. O gasoduto vai transportar gás de xisto, e a expectativa é de financiamento de US$ 689 milhões (467km) do Brasil para bancar o 2º trecho do empreendimento.

“Eu tenho certeza de que os empresários brasileiros têm interesse no gasoduto. Eu tenho interesse. […] E, se há interesse dos empresários, se há interesse do governo, e nós temos um banco de desenvolvimento para isso, eu quero dizer que nós vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente puder fazer para ajudar o gasoduto argentino”, declarou Lula em viagem à Argentina.

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