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Depoimentos apontam que blogueiro organizava reuniões com bolsonaristas

Nas confraternizações na casa de Allan dos Santos, era comum o encontro de “pessoas que comungam a ideia de apoiamento a Bolsonaro

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Allan dos Santos veste traje social
1 de 1 Allan dos Santos veste traje social - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Allan dos Santos, o blogueiro apontado como autor de mensagens que sugerem “a necessidade de uma intervenção militar”, era responsável por um grupo de WhatsApp com deputados bolsonaristas e “outras pessoas de baixo escalão do governo”. As conversas resultavam em encontros na residência do blogueiro, no Lago Sul, em Brasília. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Nos depoimentos colhidos pela Polícia Federal (PF) do assessor parlamentar Tércio Arnaud Tomaz, apontado como membro do “Gabinete do Ódio”, do deputado federal Paulo Martins (PSC-PR) e do youtuber Adilson Nelseu Dini, do canal Ravox Brasil, foram confirmadas as realizações de encontros. Apenas Tércio Tomaz e o deputado federal Paulo Martins (PSC-PR) confirmaram as conversas virtuais.

Nas confraternizações na casa de Allan dos Santos, era comum o encontro de “pessoas que comungam a ideia de apoiamento ao presidente Jair Bolsonaro”. Entre os participantes, estaria o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que prestará depoimento no inquérito no dia 23 de setembro.

Apesar do depoimento de Adilson Dini ter sido o primeiro a mencionar sobre os “encontros” na residência do blogueiro, foram as falas de Tércio Tomaz que confirmaram que alguns encontros no local eram organizadas por meio de WhatsApp.

O assessor especial disse à PF que o blogueiro o adicionou em um grupo criado “para que pudesse se reunir” semanalmente na residência de Allan “para discutir temas relacionados ao governo federal com pessoas que estão dentro do governo”. Tércio Tomaz afirmou que “nunca” foi a nenhum dos encontros, mas que continuou no grupo “como forma de se informar de temas de interesse”.

Questionado sobre quem participava do grupo, o assessor especial respondeu que se recordava de “Paulo Eduardo Martins, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e outras pessoas de baixo escalão do governo”. Daniel Silveira prestará depoimento nesta segunda-feira (21/9).

Ouvido na terça (15/9), o deputado Paulo Martins também confirmou as reuniões na casa de Allan dos Santos com parlamentares da base do governo. Martins relatou à PF que participou no grupo de WhatsApp “Gengis House” e que “acredita ter participado” de apenas um encontro na residência de Allan, no ano passado.

Segundo o parlamentar, os deputados Bia Kicis (PSL-DF) e Filipe Barros (PSL-PR) também estavam presentes, “além de outras pessoas, mas não se recorda no momento”.

“Indagado sobre os assuntos que eram tratados nessas reuniões, respondeu que tratavam sobre pautas conservadoras e articulações políticas para viabilização de tais pautas”, apontou a PF.

Paulo Martins mencionou a reforma da Previdência como exemplo. “Indagado sobre quais assuntos eram tratado nesse grupo de WhatsApp, respondeu que eram abordados temas políticos, de comunicação, de acontecimentos e assuntos de interesses gerais que tinham repercussão”.

Em maio, um relatório da Polícia Federal já identificou que o deputado Filipe Barros e o blogueiro Allan dos Santos atuaram como supostos “influenciadores” na divulgação de ofensas contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

O documento foi anexado nos autos de outro inquérito que investiga “fake news” contra a Corte. O ministro Alexandre de Moraes conduz tanto essa investigação quanto a dos atos antidemocráticos, que se retroalimentam.

Por sua vez, a deputada Bia Kicis foi intimada e deverá prestar depoimento em Brasília na próxima sexta-feira (25/9).

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No mesmo depoimento, o deputado Paulo Martins disse que Allan dos Santos “conhece pessoas do governo e por isso tem canais para ser ouvido”. O blogueiro foi apresentado como uma “figura importante, possuindo condições de propor política de interesse de seu grupo de apoio”.

No final do depoimento, Paulo Martins foi perguntado se “percebeu em sua relação com Allan dos Santos ideias relacionadas à intervenção militar nas instituições”. O parlamentar negou, pois “não se coaduna com tal pensamento” e que “não se permite relacionar com pessoas que tenham essa linha de pensamento e, se fosse o caso de Allan dos Santos, o declarante não se relacionaria com ele”.

“As FFAA precisam entrar urgentemente”

Mensagens obtidas pela Polícia Federal e reveladas pelo jornal O Estado de São Paulo neste sábado (19/9) mostram que Allan dos Santos é visto “sugerindo a necessidade de uma intervenção militar” ao tenente-coronel Mauro Cid, chefe da Ajudância de Ordem da Presidência e assessor do presidente Jair Bolsonaro.

Segundo os investigadores, Allan dos Santos enviou um link de reportagem ao militar sobre grupos denominados “antifas” no dia 31 de maio. Os manifestantes protestavam contra o governo Bolsonaro na época.

No dia seguinte, 1º de junho, o militar respondeu: “Grupos guerrilheiros/terroristas. Estamos voltando para 68, mas agora com apoio da mídia”.

Allan dos Santos replicou: “As FFAA (Forças Armadas) precisam ENTRAR URGENTEMENTE”, ao que o tenente-coronel respondeu com um “Opa!”. Mauro Cid foi questionado pela PF e disse que o seu “Opa!” era “apenas uma saudação, como, por exemplo, ‘bom dia!'”, e não tinha relação com as mensagens de intervenção do blogueiro.

Já no dia 20 de abril, a PF disse que o blogueiro sugeriu a Mauro Cid “a necessidade de uma intervenção militar”. Naquele dia, o presidente Jair Bolsonaro foi alvo de intensas críticas sobre sua participação em um protesto a favor da ditadura.

Após receber a mensagem, o tenente-coronel respondeu ao blogueiro: “já te ligo”. Ainda de acordo com os investigadores, disse “que acredita que não realizou a ligação”.

As informações apresentadas na conversa com o tenente-coronel Mauro Cid contradiz depoimento do próprio Allan dos Santos à Polícia Federal, em junho. Na ocasião, o blogueiro afirmou que é “crítico à intervenção militar” e que não participa ou organiza atos antidemocráticos. Allan disse que sua participação nos eventos “se restringe a atividade profissional como jornalista” e não como manifestante.

“Como jornalista tem conhecimento de que os manifestantes em geral não possuem conhecimento histórico-literário e por isso procura entender suas motivações e, nesse contexto, procura mostrar para essas pessoas o melhor caminho, que não é a intervenção militar ou atos semelhantes”, apontou Allan, em depoimento.

Allan dos Santos é investigado no inquérito que apura o financiamento e organização de atos antidemocráticos. Ele alegou em julho ter deixado o Brasil. Investigadores suspeitam que ele embarcou em voo que saiu de São Paulo com destino ao México no dia 27 de agosto, mas não é confirmado se o país era o destino final de Allan. O blogueiro foi alvo de buscas e teve as redes sociais bloqueadas por ordem do ministro Alexandre de Moraes na época.

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