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Como Terça Livre, YouTube encerrou 7,8 milhões de canais em 2020

Plataforma pôs fim, semana passada, a dois canais do blogueiro Allan dos Santos. Gerente de Políticas Públicas do YouTube explica processo

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Allan dos Santos veste traje social
1 de 1 Allan dos Santos veste traje social - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Assim como fez no início deste ano com o canal Terça Livre, do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, o YouTube encerrou 7,8 milhões de canais ao longo do ano passado em todo o mundo, segundo dados da plataforma atualizados nessa quinta-feira (11/2).

No total, em 2020 foram removidos 34,7 milhões de vídeos por violação de diretrizes da rede social. O número é cerca de 8,6% maior que o registrado no ano anterior. Em 2019, pouco mais de 31,9 milhões de publicações foram eliminadas.

Houve, no entanto, uma baixa na quantidade de canais removidos pelo YouTube, apesar de as eleições presidenciais nos Estados Unidos terem sido marcadas, mais uma vez, por uma forte disseminação de alegações falsas, encabeçadas por apoiadores de Donald Trump.

A plataforma encerrou 12,3 milhões de canais em 2019, resultado 36,6% maior que o do ano passado, em meio à pandemia de Covid-19 – quando foram implementados recursos tecnológicos para ajudar em trabalhos normalmente feitos por revisores humanos.

O debate sobre essa política do YouTube voltou à tona na semana passada, após a plataforma ter removido dois canais de Allan dos Santos, que acusa a empresa e outras redes sociais, como Twitter e Facebook, de censurarem a liberdade de expressão.

Investigado no inquérito das fake news, no Supremo Tribunal Federal (STF), o blogueiro bolsonarista já havia recebido duas advertências (também conhecidas como “strikes”) do YouTube antes de ter os canais encerrados, no último dia 3.

Em material cedido ao Metrópoles, a gerente de Políticas Públicas do YouTube no Brasil, Alana Rizzo, explica que a rede social tem um sistema de avisos que serve para reforçar as diretrizes e evitar que um canal seja removido.

Inicialmente, a conta que viola as políticas da plataforma recebe um alerta, que serve para avisar ao criador que ele precisa se inteirar sobre as regras. Cerca de 98% dos donos de canais que recebem um alerta ficam sem cometer violações depois.

“De toda forma, se o criador desrespeitar nossas regras uma segunda vez, ele recebe o primeiro aviso [chamado também de strike, em inglês]. Nesse caso, ele ficará impedido de subir conteúdo em seu canal por sete dias”, explica Rizzo.

“Uma nova violação irá gerar o segundo aviso, cujas restrições valem por 14 dias. Por fim, se o criador receber três avisos em 90 dias, terá o canal removido permanentemente do YouTube”, complementa a gerente de Políticas Públicas.

Ela destaca que, ao longo desse processo, são enviadas comunicações por e-mail ou na área de gerenciamento do canal – conhecida como YouTube Studio – informando sobre política violada e os caminhos para contestar o aviso.

Um dos vídeos advertidos de Allan dos Santos descredibilizava a eleição norte-americana, da qual Joe Biden saiu vitorioso e se tornou o 47º presidente dos EUA. A alegação inflige na chamada “política de integridade da eleição presidencial”.

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Um segundo vídeo publicado pelo blogueiro e que sofreu strike fazia referência a uma fala de Trump, que incitou a violência em meio à invasão do Capitólio dos Estados Unidos, em 6 de janeiro. O canal do ex-presidente também foi encerrado.

Allan tentou reverter a decisão, teve o pedido reanalisado pelo YouTube, mas não obteve sucesso. Um dos canais removidos pela plataforma era usado pelo blogueiro como um “atalho” quando o primeiro era suspenso temporariamente, após esses strikes.

Isso aconteceu pois os Termos de Serviço do YouTube não permitem que o criador tenha um “canal reserva” para contornar as políticas da plataforma e, assim, continuar postando quando for penalizado no “canal principal” por violação.

“Essa forma de burlar as regras que regem o funcionamento do YouTube pode resultar no encerramento do canal”, esclarece Alana Rizzo, ao complementar que as políticas são globais e, portanto, aplicadas independentemente do porta-voz.

“Não oferecemos nenhum tipo de tratamento especial a pessoas públicas”, diz. Às vezes, a plataforma permite vídeos que poderiam ser considerados como violação caso haja entendimento de que o conteúdo oferece razão relevante, como reportagens.

Essa exceção é chamada de “EDSA”, sigla em inglês que se refere a conteúdo “Educacional, Documental, Científico ou Artístico”. Nesse sentido, o YouTube possibilita que o criador conteste a decisão por meio de um formulário, como fez Allan dos Santos.

“Eventualmente, esse sistema pode incorrer em erros e, por isso, quando o criador acredita que seu canal foi encerrado por engano, ele pode enviar uma contestação usando o formulário disponível em nossa página dos Termos de Serviço”, diz Rizzo.

“Nesses casos, a revisão será feita por uma nova pessoa, reforçando a isenção da avaliação. Após essa etapa, o canal poderá ser restabelecido ou permanentemente encerrado. Nesse caso, o criador não poderá usar, ter ou criar nenhum outro canal ou conta no YouTube”, assegura.

Questionada se isso poderia ser classificado como censura, a gerente afirma que, para criar um ambiente plural e diverso, é preciso garantir que os usuários estejam seguros ao navegar na rede, para que não encontrem conteúdo que os coloquem em risco.

“Garantimos isso por meio das nossas políticas, que são revisadas constantemente, inclusive com o apoio de diferentes grupos, como criadores de conteúdo, especialistas, entidades não governamentais e organizações de todos os lados do espectro político”, afirma.

“Nossa orientação para quem produz ou pretende produzir conteúdo no YouTube é reservar um tempo para conhecê-las [as políticas]. Nossa Escola de Criadores, por exemplo, é uma ótima ferramenta para isso. Nós levamos muito a sério as diretrizes de comunidade”, prossegue.

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