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Caso Marielle: jornalistas da EBC são proibidos de cobrir protestos

Profissionais da estatal foram orientados a não fazer matérias sobre atos em homenagem à vereadora, classificados como “exploração política”

atualizado

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Corpo de vereadora será velado na Câmara do Rio; polícia suspeita de execução
1 de 1 Corpo de vereadora será velado na Câmara do Rio; polícia suspeita de execução - Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Jornalistas e radialistas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), órgão público de comunicação do governo federal, foram orientados por diretores a reduzir a cobertura sobre os protestos envolvendo a morte da vereadora carioca Marielle Franco. A censura foi denunciada por profissionais da empresa em um ato nesta terça-feira (20/3).

Divulgação

A orientação foi feita por um e-mail enviado pelo gerente da EBC Roberto Cordeiro, na sexta-feira (16). Na mensagem, Cordeiro afirma que é preciso “reduzir matérias da morte da vereadora Marielle Franco”. “Essas homenagens do PSol são para tirar proveito do momento. Ou outras repercussões do gênero. Devemos nos concentrar nas investigações e naquilo que dizem as autoridades”, escreveu.

Em um outro e-mail, enviado nessa segunda (19), o gerente-executivo da Agência Brasil, Alberto Coura, pede ao coordenador do veículo no Rio que oriente uma repórter a “não fazer manifestações sobre a morte da vereadora”. “Estão repetitivas e cansativas. Nos jornais só há artigos e, você sabe, não publicamos essa forma de opinião. Claro que, se houver fato relevante, deve fazer”, dizia a mensagem.

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O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) afirmou estudar com outras associações da categoria a possibilidade de formularem denúncia ao Ministério Público sobre o caso de censura. “Desde 2016 estamos acompanhando o agravamento do controle editorial da empresa. Essa é mais uma tentativa de interferência para impedir que o jornalismo da EBC não dê repercussão para um caso que está sendo visto pelo governo de forma negativa”, afirmou o coordenador do SJPDF, Gessio Passos.

Críticas e orientações
Em nota conjunta divulgada no fim desta tarde, sob o título de O Jornalismo Sequestrado da EBC, os sindicatos dos jornalistas do Distrito Federal e São Paulo, o Sindicato dos Radialistas do DF, representantes dos trabalhadores no Conselho de Administração da EBC e a Comissão de Empregados da EBC do DF, RJ e SP acusaram o governo federal de fazer jogo duplo no caso ao declarar que auxilia a investigação do crime e, todavia, pedir a redução da cobertura do assassinato.

As entidades afirmam ainda que um dos chefes da Agência Brasil foi assessor por seis anos do atual Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e do Ministério da Defesa. “As ordens dele, nas últimas semanas, são de um relações públicas, exigindo a cobertura de todas as ações da intervenção, incluindo pautas menos relevantes […] Tem sobrecarregado a pequena equipe da sucursal, impedida de fazer a cobertura aprofundada do tema, mostrando os problemas históricos na segurança pública do Estado”, dizem na nota.

Os autores criticam ainda a política de patrocínio da empresa, que, segundo eles, tem se sobreposto a critérios jornalísticos para a veiculação de notícias. “[…] enquanto a Agência Brasil publica cerca de 10 matérias por dia sobre o Fórum Mundial da Água, devido à sobrecarga dessa cobertura paga, a EBC, pela primeira vez desde sua criação, deixou de cobrir o Fórum Social Mundial e mal vem cobrindo o Fórum Mundial Alternativo da Água, que reúne ambientalistas e especialistas críticos ao fórum oficial”, ressaltam, destacando ainda que ambos os fóruns têm cobertura na imprensa comercial, devido às suas relevâncias.

Por fim, segundo orientação das entidades, os funcionários que não se sentirem à vontade podem se recusar a escrever sobre os temas impostos pela chefia e têm, ainda, a opção de não assinarem as matérias que lhes causarem desconforto.

Vinculada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a EBC administra veículos como a TV Brasil e Agência Brasil, além de ser a responsável por produzir o programa de rádio A Voz do Brasil.

Outro lado
Por meio de nota, a EBC afirma que “a orientação sempre adotada pelo comando editorial da empresa – e repassada a seus veículos – é a de acompanhar todos os temas da agenda nacional, como o caso do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, e noticiar todos os fatos do dia a dia”.

A empresa também registrou que, do dia 14 de março até as 12h09 desta terça (20/3), foram produzidas pela Agência Brasil 41 reportagens, seis galerias de imagens, uma matéria em Inglês e duas em espanhol sobre os homicídios de Marielle e Anderson.

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