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Burocracia vai atrasar a chegada de vacina contra Covid-19 na rede privada

Ao Metrópoles, o presidente da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas, Geraldo Barbosa, destaca a dificuldade para conseguir doses

atualizado

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Jacqueline Lisboa/Especial Metrópoles
Doutor Gustavo Romero, coordenador do estudo da vacina contra Covid-19 no Distrito Federal, mostra embalagem e seringa utilizada para a imunização - vacina covid
1 de 1 Doutor Gustavo Romero, coordenador do estudo da vacina contra Covid-19 no Distrito Federal, mostra embalagem e seringa utilizada para a imunização - vacina covid - Foto: Jacqueline Lisboa/Especial Metrópoles

Com a validação das primeiras vacinas contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o mundo voltou os olhos para a possibilidade de uma imunização. Enquanto os governos pensam em um esquema de proteção a ser disponibilizado gratuitamente para grupos de risco, o mercado de saúde privada sequer tem previsão de quando o produto estará disponível e quanto custará.

Em entrevista ao Metrópoles, o presidente da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC), Geraldo Barbosa, explica que a capacidade de a indústria atender à demanda e, no caso do Brasil, a necessidade de legislação para que o produto seja liberado no mercado privado atrasarão a chegada das vacinas na rede particular.

A notícia frustra as expectativas de quem não está nas faixas etárias que são prioridade na vacinação a ser executada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que será em quatro fases e deve começar em março de 2021. “Entendemos a ansiedade, mas a própria indústria está preocupada em fazer o volume necessário de imunizantes. A gente não terá comercialização a curto prazo”, lamenta.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alterou regras a fim de que a vacina seja utilizada de forma emergencial. Contudo, as modificações só são válidas para o uso no SUS. Com a finalidade de comercialização, explica Geraldo, o processo é longo. O trâmite começa com a apresentação dos resultados finais pelos laboratórios – diferente dos trechos que estão sendo avaliados agora para acelerar a autorização – e termina com o registro, caso aprovado.

“A indústria tem que submeter o resultado final à Anvisa para avaliação. Teremos a vacina, mas o processo é mais lento para o mercado privado, infelizmente, não teremos a curto prazo a disponibilidade. Vamos monitorar a entrada dos documento na Anvisa. Nenhuma vacina está com o registro agora”, frisa.

Sequer é possível estimar o valor que as clínicas cobrarão pelo produto. Ainda não foi calculado o Preço de Fábrica (PF), uma exigência legal. “O mercado privado tem uma outra lógica de custo, de entrega, de temperatura, de carga tributária e de Preço de Fábrica que são diferentes do público”, detalha.

Apesar da indisponibilidade inicial, Geraldo está otimista com a descoberta da vacina. “Nunca se teve na história um investimento como esse na busca pela vacina contra a Covid-19. É um marco muito forte”, avalia.

Para ele, nem a pandemia da gripe H1N1, em 2009, mobilizou a ciência de tal forma. “Como tínhamos a vacina, foi rápido mudar a cepa do vírus. Não tivemos que estudar para produzir a vacina. Com isso, a procura foi grande e resposta, rápida. Essa ansiedade tremenda de agora foi algo assustador”, salienta.

Vacina para todos vai demorar

Geraldo comemora os resultados dos estudos e acredita que a imunização será bem-sucedida. “A gente vai ver em 2021 a vacinação no sistema público e o resultado será mensurado. Os estudos são bons e o resultado de proteção será alcançado”, torce.

Isso deve aguçar a busca pelo produto. Porém será preciso calma. “Até ter vacina suficiente para todo mundo isso vai demorar um pouco”, destaca. Ele completa. “Estamos falando de uma discussão de um ano, que normalmente se leva uma década.”

A forma como o Brasil tem se comportado no planejamento da vacinação incomoda o presidente da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas. Ele acredita que o país está demorando a estruturar a logística básica para uma imunização eficiente.

“Poderíamos estar mais avançados. Uma vacinação desse porte é uma coisa complexa e exige uma logística difícil. O governo poderia ter um projeto mais bem elaborado para iniciar a imunização assim que a primeira vacina for liberada”, indica.

Outro ponto complexo é que o Ministério da Saúde firmou acordo só com um produtor, o laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford.

“Pode acontecer de a indústria não conseguir entregar todo o imunizante. Precisaremos do dobro de doses, já que são duas aplicações. Deveríamos ter sido mais ousados nesse sentido e ampliado a oferta desses imunizantes, em vez de ficar preso a um único fabricante”, pondera.

Apesar dos percalços, Geraldo acredita que o Brasil conseguirá vacinar os grupos prioritários rapidamente. “Ao menos o grupo de risco será concluído em 2021 ou, pelo menos, no primeiro trimestre de 2022”, aposta.

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