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Brumadinho: pai perdeu filho ao trocar de lugar com ele em caminhão

O dois trabalhavam na Vale. Na hora de irem almoçar, Carlos cedeu lugar a Diogo no veículo que rumou para restaurante soterrado pela lama

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Brumadinho – Carlos Antônio
1 de 1 Brumadinho – Carlos Antônio - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Enviados especiais a Brumadinho (MG) – Carlos Antônio, 51 anos, ainda não sabe onde encontrar forças para enterrar seu filho, o engenheiro da Vale Diego Antônio de Oliveira, de 27 anos. O rapaz foi encontrado submerso em meio aos rejeitos da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Diego estava com o documento no bolso, o que facilitou a identificação feita nessa quarta-feira (30/1). O corpo está no Instituto Médico Legal de Belo Horizonte (IML) e aguarda a liberação. Enquanto os trâmites legais não são resolvidos, Carlos tenta lidar com a dor de não ter mais Diego por perto.

Pai e filho trabalhavam na empresa e se viram pouco antes de a barragem romper. “Ele chegou em um caminhão, saiu, perguntou se eu estava bem e brincou com os amigos. Peguei a vaga dele nesse veículo e subi o morro. Ele ficou. Foi a última vez que eu o vi. Estava sorrindo”, lembra Carlos Antônio.

Operador de instalações, Carlos seguiu com um amigo para outro restaurante, mas no caminho viu um poste caindo. “Pensei que um caminhão tinha batido. Me preocupei com os fios que poderiam estar com energia. Mas logo em seguida ouvimos um estrondo e muita lama. Entendi que só poderia ser a barragem”, contou.

Junto com outro amigo, Carlos foi resgatando quem viu pelo caminho. Crianças, grávidas, idosos, todos moradores da região do Córrego do Feijão.

Assista ao depoimento do operador de instalações:

 

Ele tentou seguir para o refeitório, mas conta que foi impossível identificar qualquer coisa em meio a lama. “A cena era de destruição. Sabia que tinha perdido o meu filho, mas entendi que precisava reunir forças para ajudar quem ainda estava vivo, e foi o que eu fiz”, explicou.

Carlos conseguiu acessar uma área isolada, onde encontrou uma família desesperada. Com um saco amarelo de ração nas mãos, ele acenou para o helicóptero que sobrevoava a região. “Eu tremia muito. Só conseguia pensar que um bombeiro precisava chegar lá e nos tirar dali”, afirmou.

O socorro chegou e Carlos conseguiu salvar mais vidas. Ele ligou para a mulher e avisou sobre a barragem. Pediu para ela retirar as famílias que moram no Parque das Cachoeiras porque tinha certeza que os rejeitos de minério chegariam lá.

Igo Estrela/Metrópoles
Carlos Antonio, pai de Diego Antônio de Oliveira – morto no desastre –, mostra foto do filho

 

“Ela conseguiu alertar os moradores. Todos correram apenas com a roupa do corpo. Casas foram destruídas”, contou Carlos.

Clima de despedida
Na sexta-feira (25/1), o operador de instalação disse que sentiu algo diferente na empresa. Os funcionários se abraçavam e começaram a contar sobre as suas lutas e histórias de vida.

“Foi um momento lindo. Emocionante. Parecia que estavam se despedindo”, disse Carlos, chorando ao lembrar dos amigos, muitos dos quais se tornaram vítimas do desastre.

Éramos uma família. Trabalho lá há 18 anos e me sentia muito feliz naquele ambiente. É triste ver que tantas pessoas que você conhece morreram. É uma facada que levamos no peito todos os dias

Carlos Antônio, operador de instalações da Vale, que perdeu amigos e o filho Diogo na tragédia em Brumadinho

Diego deixou a mulher e uma filha de 5 anos. O enterro do engenheiro ainda não foi agendado.

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