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Ameaças e brigas marcam “lockdown popular” na Chapada dos Veadeiros

Vice-prefeito e guia de turismo da cidade foram alvo de críticas em áudio de WhatsApp, que também teve xingamentos e declarações racistas

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Giovanna Bembom/Metrópoles
Na foto, a chapada dos Veadeiros (GO) - Metrópoles
1 de 1 Na foto, a chapada dos Veadeiros (GO) - Metrópoles - Foto: Giovanna Bembom/Metrópoles

Goiânia – Ao menos 60 comerciantes de Alto Paraíso de Goiás, um dos mais frequentados destinos turísticos na região da Chapada dos Veadeiros, aderiram a “lockdown popular” de 14 dias, que começou nesta segunda-feira (8/3), em meio à discordância entre o prefeito e o vice, que também é secretário de Saúde.

Um dos apoiadores do movimento de restrição das atvidades foi alvo de xingamentos, racismo e até de ameaças de morte, que partiram de áudios de empresários bolsonaristas no WhatsApp.

“Tinha vontade de dar um tiro na cara dele”, diz um dos empresários, em áudio de WhatsApp, referindo-se a um morador da cidade que apoia o “lockdown popular” e que criticou o prefeito, Marcus Rinco (DEM), por causa do relaxamento das medidas restritivas contra a pandemia em Alto Paraíso de Goiás.

A mobilização popular foi organizada por parte da comunidade, após o prefeito recuar de sua própria decisão de que, entre essa segunda-feira e o dia 21/3, somente atividades essenciais poderiam funcionar, por causa da acelerada disseminação do vírus em Goiás e na região, que está em situação de calamidade.

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Cedeu à pressão

O prefeito havia estipulado as regras em decreto da última terça-feira (2/3), determinando, ainda, que todos os meios de hospedagem deveriam reagendar reservas marcadas para o período.

No entanto, na sexta-feira passada (5/3), publicou novo decreto sem as restrições de atividades econômicas, após se reunir com integrantes da Associação Comercial e Industrial de Alto Paraíso de Goiás (Aciap), como pode ser visto na primeira imagem da galeria de fotos.

Com o último decreto, o prefeito cedeu à pressão da Aciap, que representa a ala de empresários da cidade contrários ao fechamento das atividades econômicas, sem consultar a maioria dos moradores da cidade. Por isso, ele abriu nova guerra até com o seu vice, Fernando Couto (DEM), conhecido como Tatoo e que é secretário municipal de Saúde.

Como também atua na linha de frente de combate à pandemia e vê de perto a falta de leitos em unidade de terapia intensiva (UTI) e de enfermaria, Couto discordou do prefeito e decidiu aderir ao “lockdown popular”. Ele, que também é empresário, fechou todo o seu comércio no ramo de alimentos, além de uma cachoeira em sua propriedade, um dos maiores atrativos turísticos da região.

Ofensas, racismo e ameaças

A guerra, então, aumentou em áudios no WhatsApp contra o vice e o guia de turismo Ivan Diniz, coordenador da Rede Contra Fogo, que atua pela proteção e preservação da Chapada dos Veadeiros e do Cerrado brasileiro, por meio de combate a incêndios e ações de conscientização.

“Esse Ivan não vale nada. Não vale o que come. Tinha que viver num lixão um vagabundo desse. Esta semana foi boa para nós. Abrimos a fronteira”, disse um empresário da ala bolsonarista, em áudio no aplicativo de mensagens, comemorando o recuo do prefeito. “Não é (sic) esses malucos aí vir querer mandar. Nem o vice nem ninguém”, afirmou, em outro trecho.

“Narciso, aquilo é o maior micróbio que existe em Alto Paraíso”, disse uma mulher, identificada apenas como Nega, dona de uma loja de cristais na cidade. “É um imbecil, um boçal, um vampiro, um idiota, um desgraçado, um filho da puta. É isso que o cara é. Um cara decente não usa um cabelo daquele que ele usa. Aquele cabelo é a carteira de identidade de micróbio. Você acha que prefeito vai dar moral para micróbio? Pelo amor de Deus”, continuou.

No áudio, a mulher criticou o guia por usar cabelo com dreadlock, penteado na forma de mechas emaranhadas, ou forma de se manter os cabelos que se tornou famosa com o movimento rastafari.

Em novo áudio, outro empresário tranquiliza a mulher. “Nega, boa noite. Acabamos de sair da reunião com o prefeito. Não vai ter lockdown”, disse o homem, ressaltando que 15 pessoas seriam contratadas e treinadas para fazer campanha educativa na cidade.

O guia conversou com a reportagem e disse que já registrou as ofensas e ameaças na delegacia de polícia. Segundo ele,  o avanço da Covid deveria causar preocupação. “A gente está no momento de pico da pandemia, com grande número de mortes, UTIs lotadas. Não é o momento para abrir para o turismo”, afirmou.

“Acomodação da comunidade”

Por meio de sua assessoria de imprensa, o prefeito afirmou que fez “a opção por não fechar completamente a cidade, e, sim, fazer valer as medidas restritivas já existentes desde o ano passado, que, por acomodação da comunidade, acabaram ficando de lado”.

Segundo Rinco, o município vai focar em trabalho de conscientização, incluindo empresários de todos os segmentos, para que todos os moradores tomem os devidos cuidados.

O prefeito não explicou, porém, o motivo de ter recuado de sua própria decisão depois de ter se reunido com integrantes da Aciap. A reportagem não localizou representantes da associação nem identificou as pessoas que trocaram áudios por meio do WhatsApp.

O vice-prefeito disse que “o fechamento de parte do comércio vem ajudando num menor fluxo e, consequentemente, numa menor pressão junto à Saúde”. Segundo ele, o prefeito chegou a parabenizá-lo por fechar o seu estabelecimento, espontaneamente, o que ajuda na diminuição do fluxo turístico.

Tatoo afirmou, ainda, que não há desgaste dele com o prefeito. De acordo com o vice, o importante é que cada um respeite as opiniões divergentes. “Aguardamos a vacina”, destacou.

Outras cidades na região, como Cavalcante, Colinas, Teresina de Goiás e Campos Belos, adotaram medidas restritivas para conter o avanço da pandemia.

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