Ações da Taurus quadruplicaram desde o início do governo Bolsonaro
Só no primeiro semestre deste ano, empresa vendeu mais de 1 milhão de armas. Receita da Taurus chegou a R$ 2,7 bilhões no ano passado
atualizado
Compartilhar notícia

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) editou decretos para multiplicar a quantidade de armas nas mãos de cidadãos comuns, os acionistas da Taurus viram seus papéis quadruplicarem. As ações da maior fabricante de armas de fogo do país cresceram 327% desde o início da gestão do atual chefe do Executivo.
Em 28 de dezembro de 2018, uma cota da Taurus valia R$ 4,05 na Bolsa de Valores. Hoje, a ação gira em torno de R$ 17 – mas já chegou a R$ 28 em julho do ano passado.
O rendimento deixa a Taurus entre as empresas que mais se valorizaram no período, segundo analistas consultados pelo Metrópoles. A Bolsa de Valores brasileira, a B3, subiu cerca de 24% desde o início de 2019.
Especialistas avaliam que a alta tem a ver com uma reestruturação da empresa – que está em processo de turnaround desde 2018, como a redução da dívida líquida, investimento em pesquisa e expansão do complexo industrial. Mas também apontam uma relação indireta com medidas adotadas por Bolsonaro.
“É um crescimento muito acima da média. Passa, sim, pela geração de caixa da empresa, pela nova diretoria e pelo processo de reestruturação, mas, com certeza, também tem uma ligação com as medidas tomadas pelo governo. O [presidente Jair] Bolsonaro derrubou vários pontos do estatuto do desarmamento que dificultavam e desestimulavam essa questão do comércio de armas”, diz o sócio e head de alocação da GWX, Vitor Hugo.
Decretos publicados pelo presidente Bolsonaro em 2019 flexibilizaram o acesso a armas de fogo no país. Além disso, expandiu o limite de armas e munições que podem ser compradas por cada cidadão.

Desde que assumiu a Presidência do Brasil, em janeiro de 2019, Bolsonaro assinou o Decreto nº 9.685, que facilitou o acesso a armas de fogo no país. Apesar de alterar o Estatuto do Desarmamento para facilitar a posse, o porte de armas não foi incluído na modificação. Em maio do mesmo ano, porém, Jair assinou o Decreto nº 9.785, que amplia a lista de profissionais que poderiam portar o artifício Marie Kazalia / EyeEm/ Getty Images

Com o decreto, qualquer pessoa pode conseguir a posse de armas no Brasil. Contudo, nem todos podem portar o artifício. Em outras palavras, é possível adquirir, registrar e manter uma arma guardada em casa. Por outro lado, apenas pessoas que tenham profissões específicas estão autorizadas a andarem armadas nas ruas Westend61/ Getty Images

O artigo 6º da Lei 10.826/2003 permitia o porte de armas apenas para agentes de segurança pública, seguranças de empresas públicas e privadas ou membros do Exército Julian Elliott Photography/ Getty Images

O decreto assinado por Bolsonaro, porém, incluiu ainda caçadores, colecionadores, conselheiros tutelares, oficiais de Justiça, advogados, agentes de trânsito, jornalistas da área policial, atiradores desportivos e motoristas de transportadoras, por exemplo, no grupo de pessoas que podem ir além de suas residências portando armamento Dejan Markovic / EyeEm/ Getty Images

Quem se encaixa nas características do porte de armas precisa registrar as munições no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), do Exército, órgão responsável pela fiscalização dos artifícios Tetra Images/ Getty Images

Mas não é tão simples quanto parece. Apesar de poder portar consigo o armamento municiado, CACs só podem fazê-lo quando estiverem indo a clube de tiros, exposição de acervos ou competições. No caso da utilização para caça, deve-se respeitar as normas de proteção à fauna e flora, da legislação ambiental Yves Adams/ Getty Images

Para o cidadão comum que se enquadre no rol de residentes de áreas rurais ou urbanas com elevados índices de violência, donos de comércio e profissionais da área de segurança, a posse de até quatro armas dentro da residência é permitida, e as munições precisam ser adquiridas por meio do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), órgão regulamentado pela Polícia Federal Alan Majchrowicz/ Getty Images

É importante ressaltar que, apesar de pessoas comuns terem o direito à posse de armas, elas não podem sair de sua respectiva residência portando o artifício skaman306/ Getty Images

Especialistas afirmam que, embora haja a flexibilização da lei, a posse de arma em residências é, na verdade, um risco para os moradores. Para tentar se precaver, portanto, Bolsonaro incluiu no decreto que, “na hipótese de residência habitada também por criança, adolescente ou pessoa com deficiência mental, deve-se apresentar declaração de que na casa há cofre ou local seguro com tranca para armazenamento” Image Source/ Getty Images

Atualmente, revólveres (calibre 22, calibre 36 e calibre 38), pistolas (calibre 32, calibre 22 e calibre – 380), espingardas (calibre 20, calibre 28, calibre 36, calibre 32 e calibre 12), rifles (calibre 22) e carabinas (calibre 38) podem ser comprados dentro da lei Emily Fennick / EyeEm/ Getty Images

Para adquirir uma arma de fogo, é necessário desembolsar de R$ 2 mil a R$ 6 mil, tirando os gastos obrigatórios que fazem parte do requerimento da Polícia Federal, e demais custos extras Mongkol Nitirojsakul / EyeEm/ Getty Images
Levantamento obtido pelos institutos Igarapé e Sou da Paz, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), aponta que o número de armas de fogo nas mãos dos caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) atingiu a marca de um milhão no Brasil. De acordo com a pesquisa, durante a gestão Bolsonaro, entre 2019 e 2022, o aumento de armas nas mãos dos CACs foi de 187% em relação a 2018.
“Mas, apesar disso, a representatividade do mercado nacional no balanço da Taurus ainda é baixo”, acrescenta Vitor Hugo.
Só no primeiro semestre deste ano, foram mais de 1 milhão de armas vendidas pela Taurus. Do total, cerca de 77% foram comercializadas nos Estados Unidos, 18% no Brasil e 5% em outros países.
Receita
A Taurus também teve números positivos no atual governo. Em 2019, registrou lucro líquido de R$ 43,4 milhões, revertendo resultado negativo de sete anos consecutivos.
A receita operacional líquida da companhia passou de R$ 999,6 milhões em 2019 para R$ 2,74 bilhões em 2021.
Outro lado
Em nota, a Taurus afirmou que a valorização das ações tem relação com o processo de reestruturação da companhia.
“Com o aumento da produção de 4,6 mil armas por dia em 2018 para 9,3 mil armas, a redução da dívida líquida/Ebitda de 11,2 em 2018 para 0,3x em 2022. O investimento em novos produtos e equipamentos, com o desenvolvimento de mais de 900 novos SKUS e aquisição de novos maquinários de última geração para aumentar a capacidade produtiva e agregar ainda mais qualidade, tecnologia e inovação às armas que produz. O forte investimento em pesquisa e desenvolvimento, por meio do seu Centro Integrado de Tecnologia e Engenharia Brasil/Estados Unidos (CITE) e parcerias inéditas com renomadas instituições de ensino que atuam em linha com as mais avançadas soluções tecnológicas do mundo”, detalhou a empresa.
A Taurus também destacou o pioneirismo no desenvolvimento e comercialização da primeira arma com grafeno no mundo, o que teria marcado o início da 3ª geração de pistolas. Além de pesquisas de novas tecnologias, como a aplicação de nano partículas de Nióbio, aplicação de DLC (Diamond Like Carbon) e desenvolvimento de polímeros com fibras longas.
“A expansão do complexo industrial para atuação de fornecedores estratégicos, projeto que recebeu investimentos superiores a US$ 200 milhões. A readequação da distribuição no mercado norte-americano e ganho deste mercado. As licitações internacionais que a empresa venceu, o forte controle das despesas e a atuação estratégica da nova gestão da Taurus desde 2018 que fizeram com que a companhia chegasse a número 1 no mundo e maior empresa exportadora de armas para os Estado Unidos”, acrescentou a empresa.