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Authoral tem boas ideias, mas ainda é irregular na execução

Apesar de tudo, a casa inaugura um novo estilo de restaurante contemporâneo em Brasília. A cozinha de fusão não se atém a obviedades

atualizado

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authoral  baião de dois cremoso com lagostins
1 de 1 authoral baião de dois cremoso com lagostins - Foto: Divulgação

O Authoral abriu em setembro deste ano. Com arquitetura exuberante, o local acolhe de maneira muito rápida. Uma espécie de amor à primeira vista. O mobiliário, as lâmpadas, o bar despojado, o grafite, os tijolinhos, as grades. Tudo pensado e colocado ali de maneira harmônica e com um propósito.

Como arquiteta, sinto o espaço e meus olhos brilham. Não à toa, nestes quatro meses de funcionamento, voltei lá umas oito vezes.  As escolhas estéticas são milimétricas e se refletem até no uniforme dos garçons.

O chef André Castro, Manuela Brito e Eduardo Moreth, sócios do estabelecimento, capricharam nos detalhes. O nome é o mesmo da cachaça artesanal produzida por Moreth, em Brasília. E, com toda certeza, o bendito nome traz ao chef uma maior responsabilidade e pressão.

Isso porque, para que a cozinha seja autoral, ela precisa ser, de fato, criada pelo chef. Dela devem sair pratos que você só encontra naquele lugar. André deslizou um pouco nesse quesito. Há no cardápio duas propostas visivelmente inspiradas – inclusive na apresentação – em pratos que já vi em mesas paulistanas, e sem qualquer alusão à “fonte inspiradora”.

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Baião de dois cremoso com lagostins: provável best-seller


Contemporâneo em novo estilo
Feita essa observação, posso dizer que o Authoral inaugura um novo estilo de restaurante contemporâneo em Brasília. A dupla risoto-filé não tem vez naquele espaço. Ali, ingredientes e pratos típicos brasileiros recebem justa homenagem. É uma cozinha de fusão que não se atém a obviedades. E isso representa uma conquista para a gastronomia brasiliense.

Tem uma coisa que me intriga, no entanto. Não compreendia como no mesmo dia eu comia uma entrada de salivar, um prato sem sal e uma sobremesa apenas ok. Em outro dia, distante do tempo da estreia, quando se imagina que a cozinha está mais azeitada, a comida ora estava ótima ora repetia os mesmos erros das vezes anteriores. Tudo isso num mesmo jantar.

Superar essa irregularidade deve ser o pulo do gato para que o restaurante se consolide como um dos melhores da capital. Como já disse, ele tem potencial para isso. Das oito entradas, não experimentei apenas duas. Dos nove pratos principais, comi todos. E das cinco sobremesas, degustei todas. E alguns pratos mais de uma vez.

O melhor são as entradas
O melhor do cardápio são as entradas. Faria uma refeição inteira só com elas. Os bolinhos de peixe com curry verde e leite de coco (R$ 29) são excelente pedida para dividir. Crocantes, macios, bem temperados e com discreta picância ao morder.

Palmas também para as guiozas de porco com camarão e ponzu de pimenta de cheiro (R$ 28, seis unidades). Comeria três porções sem parar. As croquetes de rabada são saborosas, mas não se comparam às croquetes de carne na cerveja e malte do Quatrocentos, imbatíveis na cidade.

Dos principais, meu predileto é o fetuccine com ragu de costela angus com cerveja preta (R$ 54). Comi três vezes. Massa al dente em todas elas. O ragu, com a costela desfiada, veio frio em uma ocasião. Mas a carne estava sempre bem temperada com sal, pimenta e com o gostinho simultaneamente amargo e adocicado da cerveja preta.

Em segundo lugar, peixe branco, bobó de aipim, salada criolla com feijão fradinho. Olha que peixe não é um ingrediente fácil de manusear. Ele estava fresco, selado e crocante por fora e tenro ao dar as garfadas. Casou muito bem com o bobó e a vinagrete de feijão, o que completava o sabor ácido e picante, necessário para o ótimo desempenho do prato.

Bárbara Cortez/Metrópoles
Pescada e camarão, molho cítrico, purê de cenouras e legumes tostados


Um provável best-seller

O baião de dois cremoso com lagostins (R$ 68 — foto acima), inspirado no prato do Tuju (SP), não fosse a necessidade de alguns ajustes, seria uma combinação best seller. O feijão com arroz e queijo coalho, como a cozinha nordestina não deixa mentir, é uma combinação que dá liga. Coroada com lagostins, então, resulta num surf ‘n turf (mar-e-terra) bem brasileiro. Faltam, no entanto, tempero, sal e sabor – o que é intrigante, já que o queijo de coalho e a carne seca têm sabor de sobra.

Estava com bastante expectativa para o magret de pato com gnocchi de abóbora com dashi de bacon (R$ 68). Da primeira vez, o pato estava no ponto ideal: mal passado com a gordura bem selada, saborosa e que derretia na boca. Da segunda vez, a carne estava com cozimento irregular, mal passada em alguns pontos e crua em outros, como no caso da gordura. O sabor do bacon no dashi poderia ser mais presente.

Gostei bastante também do contrafilé, chimichurri, purê de mandioquinha e farofa croc (R$ 64) e do X-burger, cebola caramelizada, batatas rústicas e barbecue caseiro (R$ 32). As sobremesas não me fariam voltar para o restaurante. Nada demais e, no meu ponto de vista, algumas delas tinham excesso de gelatina.

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Magret de pato com gnocchi de abóbora com dashi de bacon: irregular


Café Nespresso?!

A carta de cervejas artesanais é um superacerto e acompanha a tendência do mercado. Além disso, há drinques clássicos e da casa, assim como a menina dos olhos: as caipirinhas com a cachaça Authoral  (R$ 29). Para quem quer ter um restaurante com cozinha de autor, é melhor largar o café Nespresso. Um simples coado de Minas, Espírito Santo ou Paraná seria mais adequado para a casa.

O Authoral é um restaurante que Brasília precisava. Ele está provocando um efeito de mudança.  Alguns já começam a mexer e a ajustar o cardápio. A cozinha contemporânea passa por uma fase bem interessante com inovação, uso e abuso de ingredientes frescos e sazonais e um toque de autor do cozinheiro. André e cia estão indo pelo caminho certo. Que acertem mais rapidamente este passo para que o endereço equipare a comida à arquitetura, ficando todas num mesmo nível.

Cortês sim; omissa, não.

DEVO IR?
Sim. Para almoço e jantar.

PONTO ALTO:
A arquitetura belíssima do lugar e as entradinhas.

PONTO FRACO:
Irregularidade na execução dos pratos.

302 Sul, Bloco A, Loja 10, 3225-0052. Site: www.authoral.com.br

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